4 de mar. de 2011
FALAR EM "LÍNGUAS"
O objetivo deste estudo não é debater o cessacionismo dos dons, é somente expor a diferença das línguas praticadas nas Escrituras e as do movimento pentecostal. A questão levantada não esta sobre o fato de ter ou não cessado tais dons, a ênfase esta sobre o fato de que as supostas línguas dos anjos praticadas pelos pentecostais não encontram qualquer parâmetro Bíblico para embasamento. Mesmo que o dom de Línguas não tivesse já cumprido seu propósito e estivesse disponível hoje para a igreja, tal dom não seria o dom defendido pelos pentecostais. O que se segue abaixo é a definição pentecostal a respeito do “dom de línguas” encontrado em seu estatuto doutrinário.
Dom de Variedades de Línguas (12.10). No tocante às “línguas” (gr. glossa, que significa língua) como manifestação sobrenatural do Espírito, notemos os seguintes fatos:
Essas línguas podem ser humanas e vivas (At 2.4-6), ou uma língua desconhecida na terra, e.g., “línguas... dos anjos” (13.1). A língua falada através deste dom não é aprendida, e quase sempre não é entendida, tanto por quem fala (14.14), como pelos ouvintes (14.16).
O falar noutras línguas como dom abrange o espírito do homem e o Espírito de Deus, que entrando em mútua comunhão, faculta ao crente a comunicação direta com Deus (i.e., na oração, no louvor, no bendizer e na ação de graças), expressando-se através do espírito mais do que da mente (14.2, 14) e orando por si mesmo ou pelo próximo sob a influência direta do Espírito Santo, à parte da atividade da mente (cf. 14.2, 15, 28; Jd 20).
Línguas estranhas faladas no culto devem ser seguidas de sua interpretação, também pelo Espírito, para que a congregação conheça o conteúdo e o significado da mensagem (14.3, 27,28). Ela pode conter revelação, advertência, profecia ou ensino para a igreja (cf. 14.6).
Deve haver ordem quanto ao falar em línguas em voz alta durante o culto. Quem fala em línguas pelo Espírito, nunca fica em “êxtase” ou “fora de controle” (14.27,28).
Retirado de www.cgadb.com.br/sobreCgadb/doutrinas/donsEspirituais.html .
Esta é a definição clássica do pentecostalismo histórico, tal confissão doutrinaria é aceita pela grande maioria, senão por todas as denominações pentecostais, mas uma breve leitura desta confissão já nos revela a fragilidade Bíblica e os seus erros hermeneuticos na composição das bases referenciais. Vejamos:
“Essas línguas podem ser humanas e vivas (At 2.4-6)”
Leiamos At. 2: 4-6
“2 E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.
3 E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.
4 E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
5 E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.
6 E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.”
Este é o texto clássico usados por todos aqueles que defendem o falar em línguas, vejamos algumas particularidades do ocorrido no dia de pentecostes:
“...começaram a falar noutras línguas,” Quais eram estas línguas? A continuação da narrativa nos responde: “...ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua...”
As línguas faladas eram os idiomas que as pessoas da multidão falavam, observe a continuidade da narrativa nos capítulos seguintes:
“ 7 E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando?
8 Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?
9 Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia,
10 E Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
11 Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.”
A narrativa do dia de pentecostes acaba com toda a pretensão de se falar línguas que não sejam idiomas. As referencias posteriores a Atos 2, também confirmam que as línguas eram idiomas, isto é visto na narrativa do centurião Cornélio, Pedro falando do ocorrido diz em At. 11:15
“ E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio”.
Assim como se falou em idiomas no dia de Pentecoste, como já podemos observar, às línguas faladas na narrativa do ocorrido com Cornélio também eram, pois Pedro afirma que o que ocorreu foi igual o que ocorreu com ele e os outros no principio, ou seja, no dia de Pentecoste. Da mesma forma a narrativa de Atos 19, quando do encontro do Apostolo Paulo em Éfeso com alguns discípulos de João Batista e eles recebem o Espírito Santo, falam em idiomas.
Para que se possa dar fundamento às “línguas estranhas” praticadas pelos pentecostais, foi preciso recorrer a outro texto, pois fica provado a partir do Livro de Atos dos Apóstolos que as línguas lá relatadas em todos os casos se tratavam de idiomas, ou seja, línguas ou dialetos falados por grupos étnicos.
O texto usado para embasar as línguas diferentes de idiomas esta em 1 Cor. 13:1, o que por eles é chamado de língua dos anjos, veja o que diz a confissão doutrinaria pentecostal:
“...ou uma língua desconhecida na terra, e.g., “línguas... dos anjos”
Em primeira analise já percebemos um erro hermeneutico na interpretação desta passagem, pois o Apostolo Paulo esta fazendo uso de um recurso literário, a hipérbole, ou seja, do exagero. “Ainda que” Este recurso é utilizado para dar ênfase, mesmo que fosse possível realizar estes feitos de possuir toda a ciência, “conhecimento”, fé para mover montes, mesmo que distribuísse toda a fortuna aos pobres, ou se entregar para ser queimado, estes feitos não seria nada se não houvesse amor. A ênfase deste capitulo esta no amor, não em dons ou coisa semelhante, assim como é impossível praticar estas coisas, falar em todas as línguas dos homens e ainda mais de anjos é impossível. Portando não pode ser utilizado 1Cor. 13:1 para basear um suposto dom de falar em língua de anjos.
Mas supondo que realmente existisse uma língua angelical, qual seria? Seria incompreensível aos nossos ouvidos?
Baseados nessa premissa de que existe um linguajar angelical, vamos pelas Escrituras ver qual é seria essa língua.
Como?
Observando os anjos falando!
Vejamos algumas referencias onde os anjos do Senhor falam:
Gn. 16:9 “Então lhe disse o anjo do Senhor: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos.”
Gn. 22:11 “Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.”
A Bíblia não relata a respeito de um dom de interpretar língua de anjos no Velho Testamento, os anjos certamente falaram na língua do ouvinte, para qual eles deveriam anunciar algo da parte de Deus. Quando vamos para o Novo Testamente e observamos a revelação do trono da Glória a João, vemos que os anjos também são perfeitamente entendidos pelo Apostolo:
Ap. 8:13 “E olhei, e ouvi um anjo voar pelo meio do céu, dizendo com grande voz: Ai! ai! ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar.”
Quando os seres celestiais conversam entre si, também fizeram uso de língua conhecida do Apostolo.
Ap 9:13-14 “E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus, A qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos, que estão presos junto ao grande rio Eufrates.”
Quando João conversa com um anjo, ele faz uso de linguagem comum e é pelo anjo entendido o qual lhe responde em linguagem compreensível pelo apostolo.
Apo 10:9 “E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel.”
Quando os quatro seres se dirigem a Deus em adoração, João compreende claramente o que diziam os anjos:
Ap. 4:8 “E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir.”
Alguém poderia facilmente disser: “João tinha o dom de interpretar”. Mas o que disser de Isaias 6:3
“E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.”.
Quando o profeta Isaias teve a visão do trono de Deus, ele entendeu perfeitamente o que os seres celestiais falavam em adoração ao Senhor. Havia algum don de interpretação de línguas no Velho Testamento?
Podemos observar por estas referencias que tanto a linguagem praticada pelos anjos, quanto à linguagem do Apostolo João eram perfeitamente compreendida, tanto pelos anjos quanto pelo Apostolo, o que acaba com qualquer pretensão de uma linguagem especial utilizada por anjos, a qual poderia ser recebida por alguns crentes como um don de Deus.
Sinceramente, façamos a seguinte pergunta, Qual seria a finalidade de nós termos que falar uma suposta língua angelical para nos comunicarmos com Deus, sendo que para Deus não a divisão de linguagem? Ele entende perfeitamente um brasileiro, como a um grego ou japonês.
Quando o próprio Deus se dirigiu à Adão, Ele falou em uma língua compreensível por Adão. Até o relato de Gn. 11:1, todas as nações possuíam uma só língua, somente a partir de Gênesis 11 que a confusão de línguas iniciou:
Gn. 11: 6-9 “E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.”
A divisão de línguas no relato de Gênesis foi um juízo de Deus sobre o pecado do povo, pelo qual eles foram divididos, e o falar em línguas de Atos dos Apóstolos foi um meio de testificar que em Cristo todos passaram a ser novamente congregados, pois o evangelho de Cristo é pregado a todos os povos de todas as línguas e em todas as nações, através do Evangelho Deus esta reconciliando o mundo, “2Co. 5:19” a separação que outrora fora feito pelas línguas, em Cristo foi desfeita, não havendo mais distinção, agora todos participantes de uma mesma graça pelo Espírito Santo, “1Co 12:13” . Ou seja, diante de Deus não a mais a separação por línguas entre os que estão em Cristo. Acabando assim novamente com qualquer pretensão de uma língua angelical. Basear uma Doutrina de Língua dos anjos num só versículo, o qual é tirado fora e interpretado de forma equivocada é forçar a existência de algo que as Escrituras não dizem.
b. “O falar noutras línguas como dom abrange o espírito do homem e o Espírito de Deus, que entrando em mútua comunhão, faculta ao crente a comunicação direta com Deus (i.e., na oração, no louvor, no bendizer e na ação de graças), expressando-se através do espírito mais do que da mente (14.2, 14) e orando por si mesmo ou pelo próximo sob a influência direta do Espírito Santo, à parte da atividade da mente (cf. 14.2, 15, 28; Jd 20).”
Precisamos avisar aos escritores desta confissão que já temos uma perfeita comunhão com Deus através do Espírito Santo que habita em nós. Não é necessário um dom de línguas como mediador, o que nos habilitou para termos livre acesso a presença de Deus e uma comunicação direta com Deus, foi o sacrifício de Cristo no qual já cremos.
“Ef. 3:12 No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele.” ,
“Hb 10:19 Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus,”.
E isso podemos fazer em nossa própria língua, e quando não conseguirmos expressar por palavras inteligíveis, nosso silencio será intercedido pelo Espírito Santo. Não precisamos ficar gemendo, como um cheio de dores em nossas orações para que o Espírito Santo interceda.
Rm. 8:26 E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
Outra instrução das Escrituras é a respeito da consciência do nosso culto a Deus,
“Rm. 12:1 “ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.
Como então pode Deus permitir que um dom nos tire da consciência mental e nos leve a praticar algo que nem sabemos o que significa? O próprio Apostolo Paulo repreende essa pratica mesmo sendo idiomas as línguas praticada pelos crentes de Corinto, quanto mais uma suposta língua ininteligível a todos. Como cultuar ou orar a Deus à parte da mente, sendo que Deus requer que nosso culto seja racional, isso não é pratica Bíblica, mais parece um transe místico das religiões orientais de esvaziamento da mente para alcançar o estado de nirvana budista.
Outra vez, partindo da premissa de que tais manifestações sejam genuínas, que tais línguas encontrem base escriturística para serem praticadas, seria necessário fazer algumas observações.
“Línguas estranhas faladas no culto devem ser seguidas de sua interpretação, também pelo Espírito, para que a congregação conheça o conteúdo e o significado da mensagem (14.3, 27,28). Ela pode conter revelação, advertência, profecia ou ensino para a igreja (cf. 14.6).”
Devem, mas não são! Se ouve muitos “falando em línguas”, mas nada de serem interpretadas, sendo que a ordem da própria referencia utilizada pelos escritores do credo doutrinário é enfática, “Se não interpreta que se cale” além de exigir ordem, sendo que dois ou três somente devem falar, para que a igreja julgue.
1Cor. 14: 27-29 “E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”
“Ela pode conter revelação, advertência, profecia ou ensino para a igreja (cf. 14.6).”
Com o fechamento do cânon é através da Palavra que Deus produz tais operações, pois Ela é a revelação perfeita de Deus,
“Hb. 1:1 HAVENDO Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,”
Ela é o instrumento de Deus para advertência, instrução e ensino para a igreja,
“2Tm 3:16 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;”
E toda a profecia necessária para conduzir a igreja já fora dada,
“Ap. 1:3 Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.”.
Diante de tais fatos, usar destas línguas para produzir estes feitos no meio da igreja é ignorar os meios dados por Deus para a igreja dos dias atuais, já que os meios que Deus falara outra hora, já cumpriram seus propósitos.
“Deve haver ordem quanto ao falar em línguas em voz alta durante o culto. Quem fala em línguas pelo Espírito, nunca fica em “êxtase” ou “fora de controle”
Existem outros princípios que são ignorados se mantiver-mos a premissa de que tais línguas fossem genuínas. A desordem e o descontrole emocional são distintivos dos cultos pentecostais. Não ah nem entre os pentecostais quem negue isso. Muitos dos lideres ainda incitam os membros de suas igreja ao descontrole. Geralmente o falar em línguas do movimento pentecostal é um êxtase, o falante perde o controle e em total descontrole emocional não cumpre a exigência de ordem. Diante desse fato indiscutível podemos chagar a conclusão de que não estão falando tais línguas pelo Espírito, pois estão claramente fora de controle e em êxtase emocional. Essa conclusão seria possível se partíssemos da premissa de que tais línguas são genuínas, mesmo assim, este movimento não estaria seguindo os princípios Bíblicos.
As Escrituras nos ensinam que o povo sempre padece por falta de entendimento, precisamos buscar entendimento nas Escrituras para não sermos vitimas dos enganos que nos rodeiam que procuram falsificar o evangelho de Cristo. Infelizmente o movimento pentecostal tem sido levado há tempos pelo erro, os frutos desse desvio já têm sido vistos, um abismo chama por outro. Os pentecostais estão em um circulo vicioso, onde cada vez mais estão envolvidos pelas fabulas e deixando as Escrituras.
Acredito que o comodismo religioso dos membros das igrejas pentecostais, impede que vejam a obscuridade dessa doutrina. Muitos não conhecem nem as bases de tal doutrina, mesmo que fora de contexto. São poucos os pentecostais que sabem da existência de uma confissão doutrinaria que delimita os parâmetros para a pratica das línguas. Se a conhecesse poderiam facilmente perceber sua obscuridade e desvio bíblico. Espero que esta breve exposição possa ter clareado um pouco dessa obscuridade e confusão, ou pelo menos despertado o interesse de algum em se aprofundar um pouco mais nesta questão, até porque em poucas paginas não se é possível tratar com abrangência este tema. Nem foi esse o objetivo deste estudo, apenas lançar alguns questionamentos para servirem de estopim para que cada um siga nesta compreensão bíblica quanto às línguas praticadas nas Escrituras.
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