TEOLOGIA

SETAD - SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, SÃO PAULO - SP
CURSO MODULAR DE BACHAREL EM TEOLOGIA, NÚCLEO DE MARINGÁ - PR
MONOGRAFIA DE TEOLOGIA

O DEUS ÚNICO E VERDADEIRO É

A NATUREZA DE DEUS

A EXISTÊNCIA DE DEUS

OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS
Espírito
Cognoscível
Eterno
Onipotente
Onipresente
Onisciente
Absoluto
Sábio1
Soberano

OS ATRIBUTOS MORAIS DE DEUS
Fiel
Verdadeiro
Bom
Paciente
Amoroso
Gracioso e Misericordioso
Santo
Reto e Justo

ARGUMENTAÇÃO QUANTO À EXISTÊNCIA DE DEUS
Valor Do Argumento Da Existência De Deus
Provas Da Existência De Deus
Argumentos Diversos Que Compravam
A Realidade Da Existência De Deus

ARGUMENTOS
Argumento do quinque viae exposta por Tomás de Aquino.
Argumento cosmológico
Argumento alicerçado da contingência ou da possibilidade.
Argumento axiológico
Argumento teológico.
Argumento da eficácia da razão
Argumento moral.
Argumento axiológico, em sua forma mais complexa
Argumento derivado da autoridade.
Argumento baseado na experiência religiosa.
Argumento baseado na esperança religiosa.
Argumento baseado na realidade dos milagres.
Argumento do consensus gentium.
Argumento baseado na revelação e no misticismo.
Argumento baseado na felicidade do crente.
Argumento baseado na melhor crença.
Argumento da aposta, apresentado por Blaise Pascal.
Argumento do teísmo pragmático.
Argumento de que Deus é a melhor explicação possível para a conjuntura.
Argumento alicerçado na fé pura.
Argumento da história.
Argumento que apresenta o homem como imagem e semelhança de Deus.
Argumento da Escritura

A SANTÍSSIMA TRINDADE
Evidências Bíblicas Para a Doutrina
No Antigo Testamento
No Período Inter-Testamental
No Novo Testamento

A FORMULAÇÃO HISTÓRICA DA DOUTRINA DA TRINDADE
Irineu Contra Os Gnósticos
Tertuliano Contra Praxeas
Orígenes e a Escola Alexandrina
O Monarquianismo Dinâmico: A Primeira Tentativa Fracassada
O Monarquianismo Modalístico: A Segunda Tentativa Fracassada
Arianismo: A Terceira Tentativa Fracassada
A Ortodoxia Trinitariana: Saindo Do Labirinto

RESUMO SOBRE AS OPINIÕES DE IMPORTANTES FILÓSOFOS E TEÓLOGOS SOBRE A TRINDADE

FILÓSOFOS E TEÓLOGOS QUE FIZERAM VÁRIAS OBJEÇÕES

À DOUTRINA ORTODOXA SOBRE A TRINDADE

A TRINDADE E A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
A NECESSIDADE TEOLÓGICO-FILOSÓFICA DA TRINDADE

BIBLIOGRAFIA

T E O L O G I A
O DEUS ÚNICO E VERDADEIRO É

Conforme explanação do professor Expedito Nogueira Marinho, Deus, etimologicamente falando, de fato, Deus “não existe”; Ele é! pois é incriado e não dependeu matéria prima alheia a Ele próprio. Muitas teologias sistemáticas do passado tentaram classificar os atributos morais e a natureza de Deus. O Supremo Ser, porém, como ensina Russel E. Joyner, esse Supremo Ser não se revelou simplesmente para transmitir-nos conhecimentos teóricos a respeito de si mesmo. Pelo contrário: a revelação que Ele fez de si mesmo está vinculada a um desafio pessoal, a uma confrontação e a oportunidade de o homem reagir positivamente a essa revelação. Isso fica evidente quando o Senhor se encontra com Adão, com Abraão, com Jacó, com Moisés, com Isaías, com Maria, com Pedro, com Natanael e com Marta. Juntamente com estas e muitas outras testemunhas (ver Hb 12.1), podemos testificar que estudamos a fim de conhecê-lo experimentalmente, e não somente para saber a respeito dEle. “Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os moradores da terra. Servi ao SENHOR com alegria e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o SENHOR é Deus” (Sl 100.1-3). Todos os textos bíblicos que examinarmos devem ser estudados com um coração disposto à adoração, ao serviço e a obediência ao Ú Único e Verdadeiro Deus.
Nossa maneira de compreender a Deus não deve basear-se em pressuposições a respeito dEle, ou em como gostaríamos que Ele fosse. Pelo contrário: devemos crer no Deus que existe, e que optou por se revelar a nós através das Escrituras. O ser humano tende a criar falsos deuses, nos quais é fácil crer; deuses que se conformam com o modo de viver e com a natureza pecaminosa do homem (Rm 1.21-25). Essa é uma das características das falsas religiões. Alguns cristãos até mesmo caem na armadilha de se desconsiderar a auto-revelação divina para desenvolver um conceito de Deus que está mais de acordo com as suas fantasias pessoais do que com a Bíblia, que é a nossa fonte única de pesquisa, que nos permite saber que Deus existe e como Ele é.


A NATUREZA DE DEUS


Bem fizeram Guy P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave, na obra Fundamentos da Teologia Pentecostal, quando confessaram que o estudo da natureza de Deus deve ser abordado com humildade e reverência. Quem pode definir a natureza e essência do Deus infinito? Não só os seus caminhos são “inescrutáveis” (Rm 11:33), como também sua natureza e seu ser ultrapassam nossa compreensão. Todavia Deus nos revelou o necessário de sua natureza essencial para podermos servi-lo e adorá-Lo. É especialmente importante entender a natureza de Deus, como revelada na Bíblia, pois inúmeros conceitos de divindade são sustentados por aqueles que rejeitam o Deus das Escrituras. A Bíblia não nos dá uma definição única e abrangente de Deus; se “os céus, e ate o céu dos céus, não te podem conter” (1 Rs 8:27), como pode uma frase ou parágrafo de palavras humanas definir o seu ser? A seguinte definição, teológica, serve tão bem quanto qualquer outra: “Deus é um Espírito, Infinito, Eterno e Imutável em seu Ser, Sabedoria, Poder, Santidade, Justiça, Bondade e Verdade” (Catecismo de Westminster).
Várias declarações sobre Deus na Escritura definem diversos aspectos de sua natureza, tais como “Deus é espírito” (Jo 4:24), “Deus é luz” (1 Jo 1:5), “Deus é amor” (1 Jo 4:8)e “Deus é fogo consumidor” (Hb 12:29). Nesta seção enfocaremos quatro aspectos da natureza divina.


A EXISTÊNCIA DE DEUS

Conforme já mencionei anteriormente, consoante a explanação do professor Expedito Nogueira Marinho Deus, do ponto de vista etimológico da palavra “existir”, “Deus não existe”; ele é!. A Bíblia não procura oferecer-nos qualquer prova racional quanto à existência de Deus. Pelo contrário: ela já começa tomando a sua existência como pressuposição básica: “No princípio, Deus” (Gn 1.1). Deus existe! Ele é o ponto de partida. Por toda a Bíblia, há evidências substanciais em favor de sua existência. Se de um lado “disseram os néscios no seu coração: Não há Deus” (Sl 14.1); por outro: “os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). Deus se tornou conhecido mediante o seu ato de criar e de sustentar tudo quanto existe. Ele dá vida, alento (At 17.24-28), alimento e alegria (At 14.17). Essas ações são acompanhadas por palavras que interpretam o seu significado e relevância, fornecendo um registro que explica sua presença e propósito. Deus também revela a sua existência através do ministério dos profetas, sacerdotes, reis e servos fiéis. Finalmente, Deus se revelou claramente a nós mediante o Filho e por intermédio do Espírito Santo que em nós habita.
Os que, entre nós, acreditam que Deus haja se revelado nas Escrituras, descrevem a Deidade única e verdadeira tendo como base sua auto-revelação. Vivemos, todavia, num mundo que, via de regra, não aceita esse conceito da Bíblia como fonte primária de informação. E são muitas as pessoas que preferem confiar na engenhosidade e percepção humanas para lograrem alcançar uma descrição particular da Deidade. Para acompanharmos os passos do apóstolo Paulo na obra de se conduzir a humanidade das trevas para a luz, precisamos ter consciência das categorias gerais dessas percepções terrenas.
Sob o ponto de vista secular de se entender a história, a ciência e a religião, a teoria da evolução tem sido aceita por muitos como fato fidedigno. Segundo essa teoria, à medida que os seres humanos foram evoluindo, também evoluíram suas crenças religiosas e seus modos de expressá-las. A religião é apresentada como um movimento que parte de práticas e crenças simples para as mais complexas. Os seguidores da teoria da evolução dizem que a religião começa no nível do animismo – a crença de que poderes sobrenaturais, ou espíritos desencarnados, habitam nos objetos naturais e físicos. Tais espíritos, segundo suas próprias vontades malignas, teriam influência sobre a vida humana. O animismo evoluiu-se até transformar-se no politeísmo simples, no qual certos poderes sobrenaturais são considerados deidades. O passo seguinte, ainda segundo os evolucionistas, é o henoteísmo: uma das deidades atinge uma posição de supremacia sobre todos os demais espíritos, e é adorada em detrimento das outras. Segue-se a monolatria, quando as pessoas optam por adorar um só dos deuses, sem, porém, negar a existência dos demais.
A conclusão lógica (segundo essa teoria) é o monoteísmo que surge somente quando as pessoas evoluem-se ao ponto de negar a existência de todos os demais deuses e de adorar uma única deidade. Entretanto, segundo Don Richardson, na obra O Fator Melquisedeque, as pesquisas realizadas pelos antropólogos e pelos missiologistas· neste século, demonstram com clareza que essa teoria não é corroborada pelos fatos históricos, nem pelo estudo cuidadoso das culturas “primitivas” contemporâneas. Quando os seres humanos criam um sistema de crenças segundo seus próprios desígnios, ele não tende a se desenvolver em direção ao monoteísmo, mas, sim, ao animismo e à crença em vários deuses. A tendência é cair no sincretismo, acrescentando-se a este deidades recém-descobertas ao conjunto das que já são adoradas.
Para Russel E. Joyner, em contraste com a evolução, temos a revelação. Servimos a um Deus que tanto age quanto fala. O monoteísmo não é o resultado do caráter humano evolucionário, mas do desvendamento que Deus fez de si mesmo. A revelação divina é progressiva na sua natureza à medida que Deus se revelou através dos registros bíblicos. Já no dia de Pentecostes, após a ressurreição e ascensão de Cristo, temos a prova de que Deus realmente se manifesta ao seu povo em três Pessoas distintas. Nos tempos do Antigo Testamento, porém, a prioridade era estabelecer o fato de que há um só Deus em contraste com os inúmeros deuses cultuados pelos vizinhos de Israel, em Canaã, no Egito e na Mesopotâmia.
Através de Moisés, essa verdade foi proclamada: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4). A existência de Deus e a sua atividade contínua não dependiam do seu relacionamento com qualquer outro deus, ou criatura. Pelo contrário: nosso Deus podia simplesmente “ser”, optando por chamar o homem a estar ao seu lado (não porque Ele precisasse de Adão, mas porque este precisava de Deus) .

OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS


Escrever sobre os atributos do Deus infinito é uma tarefa séria. No entanto, só podemos examinar a Palavra de Deus com a certeza de que nas Escrituras inspiradas temos a revelação de Deus para nós. Deus nos revelou aquelas perfeições e excelências da sua natureza que considera essenciais para nossa redenção, adoração e comunhão com Ele. Este pode ser um dos estudos mais interessantes na esfera da doutrina bíblica.

A Palavra exara: “Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (At 17.25). Deus existe por si mesmo, pois não depende de nenhuma fonte originária para existir. Seu próprio nome, Yahweh, declara que “Ele é e continuará sendo”. Deus não depende de ninguém para aconselhá-lo ou para ensiná-lo: “Com quem tomou conselho, para que lhe desse entendimento... e lhe fizesse notório o caminho da ciência?” (Is 40.14). Ele não necessitou de outro ser para ajudá-lo na criação e na providência (Is 44.24). Deus quer e pode outorgar vida ao seu povo. Ele é único por independer de qualquer outro ser no Universo: “O Pai tem vida em si mesmo” (Jó 5.26). Nenhum ser criado pode fazer tal declaração. Quanto a nós, criaturas, só resta declarar-lhe nossa adoração: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas” (Ap 4.11).

ESPÍRITO
Os samaritanos eram considerados sectários pelos judeus do primeiro século, e inimigos a serem evitados. Forçados a abandonar a idolatria, os samaritanos elaboraram uma interpretação própria do Pentateuco, consagrando o monte Gerizim como o seu local de adoração. Além disso, rejeitavam o restante do Antigo Testamento. Jesus, na sua conversa com a mulher samaritana, desfez esse grave erro: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). De acordo com essa declaração, a adoração está limitada a nenhum local específico, posto que tal fato refletiria um conceito falso da natureza divina. A adoração teria de estar em conformidade com a natureza espiritual de Deus.
A Bíblia não define “espírito”; limita-se a oferecer algumas descrições. Deus, como espírito, é imortal, invisível e eterno, digno de nossa honra e glória para sempre (1 Tm 1.17). Como espírito, Ele habita na luz, da qual os seres humanos são incapazes de aproximar-se: “A quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Tm 6.16). Conforme ensina Russel E. Joyner, Sua natureza espiritual é-nos de difícil entendimento, pois ainda não o temos visto conforme Ele é. E, à parte da fé, somos incapazes de compreender o que não experimentamos. Nossa percepção sensorial não nos oferece nenhuma ajuda para discernirmos a natureza espiritual de Deus. Ele não está preso à matéria. Adoramos aquEle que é bem diferente de nós, mas que deseja dar-nos o Espírito Santo como antegozo do dia em que o veremos conforme Ele é (1 Jo 3.2). Então, poderemos aproximar-nos da sua presença, porque a nossa mortalidade será anulada, e nos vestiremos da gloriosa imortalidade (1 Co 15.51-54).

COGNOSCÍVEL

Deus jamais foi visto (Jó 1.18). O Deus onipotente não pode ser plenamente compreendido pelo ser humano (Jó 11.7), mas se revelou em diferentes ocasiões e de várias maneiras. Isso indica que é da Sua vontade que o conheçamos e tenhamos um correto relacionamento consigo (Jo 1.18; 5.20; 17.3; At 14.17; Rm 1.18-20). Isso não significa, porém, que podemos compreender completa e exaustivamente a totalidade do caráter e da natureza de Deus (Rm 1.18-20; 2.14,15). Assim, da mesma forma que Ele se revela, também se oculta: “Verdadeiramente, tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador” (Is 45.15).
Deus não se oculta para encobrir-nos seus atributos, mas para deixar-nos bem patentes nossos limites diante do seu ilimitado poder. Pelo fato de Deus ter decidido agir através de seu Filho (Hb 1.2) e ter a sua plenitude habitando nele (Cl 1.19), podemos estar confiantes de que encontraremos em Jesus as grandiosas manifestações do caráter divino. Jesus não somente torna conhecido o Pai, como também revela o significado e a importância do Pai Celestial.
Por meio de sua palavra, Deus expressa o seu desejo de que o conheçamos: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10). Ele prometeu a Israel que, submetendo-se este à Sua vontade, Suas manifestações comprovariam ser Ele, de fato, o seu Deus, e que Israel era o Seu povo: “E sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios” (Êx 6.7). Russel E. Joyner nos lembra que a conquista da Terra Prometida era também uma evidência significativa do fato de o Senhor ser o Deus único, vivo e verdadeiro, e da possibilidade de se O conhecer (Js 3.10). Os cananeus e outros povos que estavam prestes a sofrer o castigo divino seriam obrigados a reconhecer que Deus existe, e que estava Lutando por Israel (1 Sm 17.46; 1 Rs 20.28).
Os que se submetem ao Senhor, entretanto, vão além da mera comprovação de sua existência, alcançando o conhecimento de sua pessoa e propósito (1 Rs 18.37). Segundo o Antigo Testamento, um dos benefícios de se ter um relacionamento pactual com Deus é que Ele estará continuamente se revelando àqueles que lhe obedecem os mandamentos e preceitos contidos na aliança (Ez 20.20; 28.26; 34.30; 39.22, 28; Jl 3.17).
O homem, desde o princípio, vem procurando conhecer o seu Criador. Num dos períodos mais antigos da história bíblica, Zofar pergunta a Jó se essa busca daria algum resultado: “Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11.7). Eliú acrescenta: “Eis que Deus é grande, e nós O não compreendemos, e o número dos Seus anos não se pode calcular” (Jó 36.26). Se temos algum conhecimento de Deus é porque Ele optou por Se nos revelar. Mas este conhecimento que agora temos, embora confessadamente limitado, é mui glorioso e constitui-se na base suficiente de nossa fé.

ETERNO

Medimos a nossa existência pelo tempo: o passado, o presente e o futuro. Mas Deus não está limitado pelo tempo, e nem por isso deixou de se revelar dentro de nosso ponto de referência - o tempo, a fim de tomarmos conhecimento dessa revelação. Os termos “eterno”, “perpétuo” e “para sempre”, são freqüentemente empregados pelos tradutores da Bíblia na tentativa de captar o sentido das expressões hebraicas e gregas que colocam a Deus dentro de nossa realidade temporal e finita. Ele existia antes da criação: “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).
Ainda que vejamos o tempo como uma forma limitada de medição, a plena compreensão da eternidade está além de nosso alcance. Todavia, podemos meditar sobre o aspecto duradouro e intemporal de Deus. E isto nos levará a adorá-Lo como o Deus pessoal que estendeu uma “ponte” sobre o abismo que separava a sua essência - infinita e ilimitada, da nossa - finita e limitada. “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
Portanto, na impossibilidade de se entender a relação entre o tempo e a eternidade, confessemos: “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1 Tm 1.17; cf. Nm 23.19; Sl 33.11; 102.27; Is 57.15).

ONIPOTENTE

Um antigo questionamento filosófico, indaga: “Deus é capaz de criar uma rocha tão grande que Ele não possa mover? Se Ele não consegue movê-la, logo, Ele não é Todo-Poderoso. Se Ele não é capaz de criar uma rocha tão grande assim, isso comprova que Ele também não é Todo-Poderoso” Essa falácia da Lógica simplesmente brinca com as palavras e desconsidera o fato de que o poder de Deus está relacionado com os seus propósitos.
A pergunta mais honesta seria: Deus é poderoso para fazer tudo quanto pretende, e que esteja de acordo com o seu propósito? De acordo com os seus decretos, Ele demonstra que realmente tem a capacidade de realizar tudo quanto desejar: “Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is 14.27). O poder ilimitado do único e verdadeiro Deus jamais será resistido, impedido ou anulado pelo ser humano (2 Cr 20.6; Sl 147.5; Is 43.13; Dn 4.35).
Através de sua revelação, Deus demonstrou que a sua grande prioridade é chamar, formar e transformar um povo para Si mesmo. Isso pode ser visto na vida de Sara que, mesmo avançada em idade, Deus lhe concedeu a bênção da maternidade - conforme Ele mesmo o disse: “Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR?” (Gn 18.14; cf. Jr 32,17) - e na vida da jovem virgem Maria (Mt 1.20-25). O propósito sublime de Deus, contudo, foi realizado quando ressuscitou a Jesus dentro os mortos: “E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus” (Ef 1.19,20).
Os discípulos, após uma declaração enfática de Jesus, meditaram sobre a impossibilidade de um camelo passar pelo fundo de uma agulha de costura (Mc 10.25-27), segundo a interpretação de Russel E. Joyner. A grande lição aqui é a impossibilidade de as pessoas se salvarem a si mesmas. No entanto, isto além de ser possível para Deus, está dentro do seu propósito. Por isso, a obra de salvação é de domínio exclusivo do Senhor. Podemos exaltá-lo, não somente porque Ele é onipotente, mas também porque os seus propósitos são grandiosos, e o seu grande poder é utilizado por Ele no cumprimento da sua vontade.

ONIPRESENTE

Nos dias do Antigo Testamento, as nações ao redor de Israel serviam a deuses regionais, ou nacionais, cujo poder limitava-se a localidade e ao ritual. Na maioria dos casos, os devotos achavam que tais deidades tinham poder somente nos domínios habitados pelo povo que lhes prestava culto. Embora o Senhor se apresentasse a Israel como aquEle que manifestava a sua presença somente no Santo dos Santos do tabernáculo, e posteriormente no do Templo construído por Salomão, não contradizia a sua onipresença, por ser isso uma concessão sua as limitações do entendimento humano. O próprio Salomão reconheceu esse fato: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” (1 Rs 8.27).
Os seres humanos temos a nossa existência limitada às dimensões físicas deste universo. Não há absolutamente lugar algum para onde possamos fugir da presença de Deus: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Se subir aos céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (Sl 139.7-10; cf. Jr 23.23,24). A natureza espiritual de Deus permite seja Ele onipresente e, ao mesmo tempo, esteja mui próximo de nós (At 17.27,28).

ONISCIENTE

“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hb 4.13). Deus conhece todos os nossos pensamentos e intenções (Sl 139.1-4). Ele não se cansa na sua atividade de discerni-los (Is 40.28). O conhecimento divino não se acha limitado por nosso modo de entender o futuro, pois Ele conhece o fim de um determinado acontecimento antes mesmo deste ter início (Is 46.10).
Não podemos adentrar o conhecimento e a sabedoria de Deus (Rm 11.33). Por isso, é difícil compreendermos totalmente como Ele pode conhecer previamente os eventos ocasionados por nosso livre-arbítrio. Russel E. Joyner declara que isso, às vezes, põe-nos diante não de uma contradição, mas de um paradoxo. As Escrituras não nos oferecem informações suficientes para resolvermos esse paradoxo. Colocam-nos, porém, a nossa disposição aquilo de que precisamos para que, com a ajuda do Espírito Santo, possamos tomar decisões que estejam em conformidade com a vontade divina.

ABSOLUTO

O Deus único e verdadeiro é Absoluto, dente outras por duas razões básicas: Por causa de sua auto-existência; e por causa de sua imutabilidade. Vejamos cada um desses aspectos de per si.
Inicialmente, vemos de modo claro Sua auto-existência revelada nas Sagradas Escrituras: “Porque assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em Si mesmo…” (Jo 5: 26). Deus é a fonte absoluta de toda vida e ser, a Causa sem causa. Ele não é uma série de emanações, como alguns ensinam erroneamente. Ele é o eterno Deus vivente, criador de todos os seres e de todas as coisas que existem: “Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Cl 1: 17). Deus não depende para o seu ser ou essência de qualquer fonte externa. Ele é portanto auto-existente, tem existência própria.
Em segundo lugar, Sua natureza absoluta se revela por Sua imutabilidade. Ele próprio declara: “Porque eu, o Senhor, não mudo...” (MI 3:6). “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação, ou sombra de mudança” (Tg 1:17). Gostamos de citar, a respeito do Senhor Jesus Cristo: “Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para sempre” (Hb 13:8). As cláusulas “em quem não pode existir variação” e “Jesus Cristo e o mesmo” são incondicionais; portanto, a invariabilidade e a igualdade se aplicam a todos os atributos divinos. É muito consolador para o crente saber que as alianças e promessas de Deus são tão confiáveis quanto os fundamentos do céu. Na oração de dedicação do templo, feita por Salomão, ele declarou: “Bendito seja o Senhor que deu repouso ao seu povo Israel, segundo tudo o que prometera; nem uma só palavra falhou de todas as suas boas promessas, feitas por intermédio de Moisés, seu servo” (1 Rs 8:56).
Contrariamente ao Senhor, o homem muda diariamente; sua obediência não é constante. As ações e atitudes negativas do homem podem diminuir a experiência de bênçãos condicionais para ele, mas isto não contradiz a fidelidade de Deus. Através da boca de Malaquias, Deus falou em tom de censura e exortação: “Desde os dias de vossos pais vos desviastes dos meus estatutos, e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos (Jeová-Sabaoth)” (M1 3:7). Paulo, talvez mais que qualquer outro, expressa o amor imutável de Cristo: “Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8:38-39).


SÁBIO

No mundo antigo, o conceito de sabedoria estava, quase sempre, relacionado ao campo da teoria e do debate. A Bíblia, porém, coloca a sabedoria no âmbito da prática e, mais uma vez, nosso modelo para esse tipo de sabedoria é Deus. A “sabedoria” (hb. hochmah) reúne o conhecimento da verdade com a experiência do cotidiano. A sabedoria como conhecimento pode capacitar a pessoa a encher sua mente com uma enorme quantidade de fatos, mas sem qualquer entendimento do seu significado ou aplicação. A verdadeira sabedoria, porém, orienta.
O conhecimento que Deus possui dá-lhe o discernimento de tudo quanto existe e que poderá vir a existir. Tendo em vista o fato de que Deus existe por si mesmo, seus conhecimentos estão além de nossa simples imaginação; são ilimitados (Sl 147.5). Ele aplica com sabedoria o seu conhecimento. Todas as obras das suas mãos são feitas pela sua grande sabedoria (Sl 104.24), e assim Ele pode tirar ou colocar reis, mudar os tempos e estações, conforme lhe parecer bem (Dn 2.21).
Deus deseja que participemos de sua sabedoria e de seu conhecimento a fim de podermos conhecer os seus planos a nosso respeito, para podermos viver no centro de sua vontade (Cl 2.2,3).

SOBERANO

Pela fé cremos que Deus é soberano sobre as nações e sobre reino invisível. Sempre foi controversa discussão sobre a soberania de Deus e o livre arbítrio do homem. Paulo escreve em Efésios: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade...” (Ef 1:4,5). Esta passagem parece inferir que tudo resulta da vontade de Deus. Por outro lado, no capítulo 22 de Apocalipse, João cita Jesus em seu último apelo ao homem: “...e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22:17b). Esta passagem diz claramente que a água da vida está à disposição de qualquer um com base na escolha e livre-arbítrio humano. As doutrinas da eleição e predestinação se encontram indiscutivelmente na Bíblia. For outro lado, temos as palavras de Jesus enquanto chorava sobre Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém... quantas vezes quis eu reunir os teus filhos... e vós não o quisestes!” (Mt 23:37). De novo: “Contudo não quereis vir a mim, para terdes vida” (Jo 5:40). Outra vez: “Para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (To 3:16).

A Bíblia ensina, na verdade, as duas posições. Deus e soberano, mas não arbitrário. O homem tem liberdade de escolha e vontade, com certas limitações. Nossa incapacidade de reconciliar as duas posições não torna. falsa uma ou outra posição. Nossa incapacidade de ver como ambas podem estar certas ao mesmo tempo deve-se à nossa compreensão humana finita. Deus pode ser soberano sem violar a liberdade essencial do homem. Toda verdade divina é paradoxal pata nós, num certo sentido, porque nossa visão da realidade e apenas parcial, no máximo de 180 graus. A verdade divina é um círculo completo, de 360 graus. Samuel Fisk cita Charles Spurgeon como tendo dito: “Irmãos, disponham-se a ver ambos os lados do escudo da verdade. Superem a infância que não pode acreditar em duas doutrinas até ver o elo de ligação. Não tens dois olhos, homem? Será preciso que um deles não funcione, para que possas ver claramente?”
O Dr. R.A. Torre, no seguinte texto, apresenta a presciência como base para reconciliar a predestinação com a liberdade de escolha do homem. Ele escreve:

“As ações de Judas e dos demais foram incluídas no plano de Deus e portanto passaram a fazer parte dele. Isso não significa, porem, que tais homens não tivessem plena liberdade de escolha. Não agiram como o fizeram porque Deus sabia que o fariam, mas o fato de que agiram desse modo era a base para que Deus soubesse. A presciência não determina os atos do homem mais que o conhecimento posterior. O conhecimento é determinado peio fato e não o fato pelo conhecimento... Deus sabe desde a eternidade o que cada homem fará, se irá render-se ao Espírito e aceitar Cristo, ou se resistirá ao Espírito e recusará Cristo. Os que o receberam estão destinados à vida eterna. Se alguém se perder é simplesmente porque não quis aceitar Cristo e obter assim a vida (Jo 5:40). Quem quiser pode vir (Ap 22:17), e todos os que vierem serão recebidos (Jo 6:37).”
OS ATRIBUTOS MORAIS DE DEUS

FIEL

Os deuses das religiões do Oriente Próximo eram volúveis e caprichosos. A grande exceção era o Deus de Israel. Ele é fiel na sua natureza e nas suas ações. A palavra hebraica amen, “verdadeiramente”, é derivada de uma das mais notáveis descrições do caráter de Deus, que reflete a sua certeza e fidedignidade: “Exaltar-te-ei e louvarei o teu nome, porque fizeste maravilhas; os teus conselhos antigos são verdade e firmeza ‘emunah ‘omen – lit. ‘fidelidade de confiabilidade’” (Is 25.1).
Embora usemos a palavra “amém” para expressar nossa certeza quanto ao fato de Deus responder-nos às orações, as ocorrências na Bíblia de palavras que se baseiam em amen abrangem uma gama ainda mais ampla das manifestações do poder e da fidelidade de Deus. O servo de Abraão atribuiu sua procura bem-sucedida de uma noiva para o jovem Isaque à natureza fiel de Deus (Gn 24.27). As palavras “benignidade” e “verdade” (hb. ‘emeth e ‘emunah) são, apropriadamente, extensões de um único conceito hebraico que se juntam na descrição da natureza divina.
O Senhor comprova a sua fidelidade ao cumprir as suas promessas: “Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos” (Dt 7.9). Josué, já no fim de sua vida, declarou ao povo de Israel que o SENHOR nunca lhe faltara, nem sequer numa única promessa (Js 23.14). O salmista confessou: “tu confirmarás a tua fidelidade até nos céus” (Sl 89.2).
Deus se revela constante no seu desejo de ter comunhão conosco, de guiar e proteger-nos. Se Ihe estivermos submissos, nem mesmo o pecado e a iniquidade terão poder sobre nossas vidas: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22,23).
Pelo fato de Deus ser fiel, seria impossível pensar que Ele pudesse abandonar os seus filhos, quando estes estiverem passando por tentações ou provações (1 Co 10.13). “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?” (Nm 23.19). Deus permanece estável quanto a sua natureza, ao passo que se mostra flexível nas suas ações. Quando Deus faz uma aliança com alguém, a sua promessa é um selo e garantia suficiente de sua imutável natureza e propósitos: “Pelo que, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento” (Hb 6.17). Deus jamais muda seus propósitos, pois se o fizesse, certamente estaria contradizendo o seu próprio caráter. Paulo faz um contraste entre a natureza humana e a divina, quando escreve sobre a glória que se segue após o sofrimento de Cristo: “Se formos infiéis, Ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.13). A fidedignidade de Deus é absoluta por causa daquilo que Ele é: fiel e verdadeiro (Dt 32.4; Sl 89.8; 1 Ts 5.23,24; Hb 10.23; 1 Jó 1.9).

VERDADEIRO

“Deus não é homem, para que minta” (Nm 23.19). A veracidade de Deus forma um contraste com a desonestidade do ser humano. Deus é perfeitamente fiel às suas promessas e aos seus mandamentos (Sl 33.4; 119.151). Sua integridade moral é a sua característica pessoal permanente (Sl 119.160). A veracidade estável e permanente do Senhor é o meio através do qual somos santificados, porque a verdade proclamada tornou-se a Verdade Encamada: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Nossa esperança depende diretamente da garantia de que tudo quanto Deus nos revelou é a mais absoluta verdade. Tudo quanto Ele fez até agora, no que se refere ao cumprimento de suas promessas, é a garantia definitiva de que Ele cumprirá tudo o que prometeu (Jo 14.6; Tt 1.1).

BOM

Deus está, de acordo com sua natureza, disposto a agir com grande generosidade para com a sua criação. Durante os dias da criação, o Senhor examinava periodicamente a sua obra, e declarava ser ela boa, pois lhe agradava e era apropriada aos seus propósitos (Gn 1.4, 10,12,18,21,25,31). O mesmo adjetivo é usado para descrever o caráter moral de Deus: “Porque o SENHOR é bom; e eterna, a sua misericórdia” (Sl 100.5). Nesse contexto, a expressão transmite muito bem a idéia original de agradável ou plenamente satisfatória, mas também vai além disso, e ilustra a graça que é essencial na natureza de Deus: “Piedoso e benigno é o SENHOR, sofredor e de grande misericórdia. O SENHOR é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras” (Sl 145.8,9; ver também Lm 3.25). Essa faceta da natureza divina é manifestada na sua disposição de prover todas as nossas necessidades, quer materiais (a chuva e as colheitas, At 14.17), quer espirituais (a alegria, At 14.17; a sabedoria, Tg 1.5). Esse aspecto também se contrasta com as crenças antigas, segundo as quais todos os demais deuses eram imprevisíveis, malévolos, dentre outras coisas, menos bons.
Podemos seguir o modelo de nosso generoso e compassivo Deus, pois “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tg 1.17).

PACIENTE

Num mundo cheio de atitudes retaliatórias, quase sempre tomadas sem qualquer reflexão, nosso “Senhor é longânimo e grande em beneficência, que perdoa a iniquidade e a transgressão” (Nm 14.18). “Longânimo” significa “tardio em irar-Se”, demonstrando que Deus é paciente e cheio de compaixão e graça (Sl 86.15). Sua longanimidade visa o nosso benefício, e devemos reconhecer que é para levar-nos ao arrependimento (Rm 2.4; 9.22,23).
Vivemos o grande dilema: por um lado, desejamos que Jesus cumpra o mais rápido possível as suas promessas relativas à sua segunda vinda; por outro, desejamos que ele a retarde um pouco mais, para que mais pessoas possam aceitá-lo como Salvador e Senhor. “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3.9).
O Senhor castigará os pecadores na sua vinda, mas, por enquanto, utiliza-se de sua longanimidade para alcançar e salvar o maior número de pessoas possível (2 Pe 3.15).

AMOROSO

Quando nos tornamos cristãos, o primeiro texto da Bíblia a ser memorizado é João 3.16, o qual recitamos com vigor e entusiasmo, muitas vezes enfatizando a expressão: “Deus amou o mundo de tal maneira”. Depois, com um conhecimento mais profundo do texto, descobrimos que a ênfase recai não ao caráter quantitativo do amor de Deus, mas ao qualitativo. E o fato mais importante não é que Deus nos tenha amado a ponto de dar o seu Filho, mas que Ele nos haja amado de maneira tão sacrificial.
Deus se revelou como alguém que expressa um tipo específico de amor, o qual é demonstrado por uma dádiva sacrificial. João o define desta forma: “Nisto está a caridade: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10).
Deus também demonstra o seu amor ao nos dar repouso e proteção (Dt 33.12), que devemos sempre lembrar em nossas preces de ações de graças (Sl 42.8; 63.3; Jr 31.3). No entanto, a forma suprema do amor de Deus, sua maior demonstração de amor, acha-se na cruz de Cristo (Rm 5.8). Ele quer que estejamos conscientes de que seu amor faz parte integrante de nossa vida em Cristo: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2.4,5).
O caminho mais excelente, o caminho do amor, segundo o qual somos exortados a andar, identifica as características que Deus nos revelou na sua Pessoa e na sua obra (I Co 12.31-13.13). Se seguirmos o seu exemplo, produziremos o fruto do amor, e andaremos de tal maneira que os dons (charismata) do Espírito Santo cumprirão em nós os seus propósitos.

GRACIOSO E MISERICORDIOSO

Os termos “graça” e “misericórdia” representam dois aspectos do caráter e da atividade de Deus que, embora distintos, são correlatos entre si. Experimentar a graça divina é receber uma dádiva que não podemos adquirir por conta própria, e da qual não somos merecedores. Experimentar sua misericórdia significa ser preservado do castigo a que se faz jus. Deus é o juiz supremo que detêm o poder para determinar, em última análise, a punição a quem merece. Quando Ele nos perdoa o pecado e a culpa, experimentamos a sua misericórdia. Quando recebemos o dom da vida, experimentamos a sua graça. A misericórdia divina remove o castigo, ao passo que a sua graça coloca algo positivo no lugar do negativo. Embora mereçamos o castigo, Ele nos dá a paz e restaura-nos integralmente (Is 53.5; Tt 2.11;3.5).
“Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade” (Sl 103.8). Posto que precisemos ser trazidos da morte para a vida, esses aspectos de Deus são amiúde mencionados juntamente nas Escrituras com a finalidade de demonstrar seu inter-relacionamento (Ef 2.4,5; cf. Ne 9.17; Rm 9.16; Ef 1.6).

SANTO

“Porque eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). Fomos chamados para ser diferentes, porque o Senhor é diferente. Deus se revela como “santo” (hb. qadosh), e o aspecto essencial de qadosh é a separação daquilo que é mundano, profano ou corriqueiro, e a separação (ou dedicação) para seus propósitos. Os mandamentos dados a Israel exigiam fosse mantida a nítida distinção entre as esferas do comum e do sagrado (Lv 10.10). Tal distinção tinha seu impacto sobre o tempo e o espaço (o sábado e o santuário), mas visava o indivíduo do modo mais relevante. Tendo em vista que Deus é diferente de qualquer outro ser, todos os que lhe estão submissos devem também estar separados - no coração, nas intenções, na devoção e no caráter - para Ele, que é verdadeiramente santo (Êx 15.11).
Deus, por sua própria natureza, está separado do pecado e da humanidade pecaminosa. A razão por que nós, seres humanos, somos incapazes de nos aproximar de Deus, em nosso estado de pecado, é porque não somos santos. Na Bíblia, a questão da “impureza” não está relacionada à higiene, mas à santidade (Is 6.5). As marcas da impureza compreendem: algo quebrado ou defeituoso (ver Is 30.13,14), o pecado, a violação da vontade de Deus, a rebelião e a permanência no pecado. Posto que Deus é íntegro e reto, nossa consagração envolve tanto a separação do pecado quanto a obediência a Ele.
A santidade é o caráter e a atividade de Deus, conforme revelada no título Yahweh meqaddesh, “o SENHOR que vos santifica” (Lv 20.8). A santidade de Deus não deve tornar-se mero assunto de meditação, mas um convite (1 Pe 1.15) para que participemos de sua justiça e O adoremos juntamente com as multidões. Os quatro seres viventes no Apocalipse não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir” (Ap 4.8; cf. Sl 22.3).
RETO E JUSTO

O Deus Santo é distinto e separado da humanidade pecaminosa. Mesmo assim, Ele permite que nos aproxime-mos de sua presença. Essa concessão acha-se baseada no fato de que Ele julga o seu povo com retidão e com justiça (Sl 72.2). Ambos os conceitos são freqüentemente combinados entre si para ilustrar a maneira como Deus se apresenta a nós.
Na Bíblia, a retidão é vista segundo um padrão ético ou moral. A “retidão” (hb. tsedaqah) de Deus é tanto o seu caráter quando o modo que Ele opta por agir. Deus é reto no seu caráter ético e moral e, portanto, serve como padrão para determinar qual a nossa posição em relação a Ele.
Semelhante a essa faceta de Deus é a sua justiça (hb. mishpat), através da qual Ele exerce o seu governo. Muitos sistemas democráticos modernos de governo separam os deveres do Estado em várias ramificações, que se equilibram mutuamente e que prestam contas umas às outras (o poder legislativo para elaborar e aprovar leis; o poder executivo para obrigar o cumprimento das leis e para manter a ordem; o poder judiciário para garantir a consistência das leis e para penalizar os transgressores). O mishpat Deus coloca todas essas funções dentro do caráter e do domínio do único Deus soberano (Sl 89.14). Nossas Bíblias freqüentemente traduzem esse termo hebraico por juízo, que enfatiza apenas um dos múltiplos aspectos da justiça (Is 61.8; Jr 9.24; 10.24; Am 5.24). A justiça de Deus inclui a penalidade do juízo, mas subordina essa atividade à obra global de estabelecer a sua justiça amorosa (Dt 7.9,10).
O padrão com que Ele se apresenta a nós é perfeito e reto (Dt 32.4). Por isso, não podemos, por nós mesmos, ser aprovados por esse padrão, que Deus usa para avaliar-nos, pois todos nós ficamos em falta (Rm 3.23). E “tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos” (At 17.31). Por outro lado, Deus também se preocupa com as suas criaturas, preservando-as (Sl 36.5-7), além de lhes proporcionar a esperança para o futuro. A encarnação de Cristo incluía todas as qualidades e atividades da retidão e da justiça. Sua expiação vicária, em seguida, transmitiu-nos essa mesma retidão e justiça (Rm 3.25,26) a fim de comparecermos justificados diante do justo Juiz (2 Co 5.21; 2 Pe 1.1).

ARGUMENTOS QUE PROVAM DA EXISTÊNCIA DE DEUS

VALOR DO ARGUMENTO DA EXISTÊNCIA DE DEUS


Guy P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave, na obra Fundamentos da Teologia Pentecostal, coerentemente, declaram que algumas pessoas, com boa razão, questionarão o valor dos argumentos sobre a existência de Deus. A Bíblia em ponto algum argumenta a esse respeito; em toda parte as Escrituras assumem sua existência como um fato aceito. O primeiro versículo das Sagradas Escrituras afirmai “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1). O salmista proclama mais adiante: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (S1 14:1a). O cristão e todos os adoradores de Deus aceitaram a existência de Deus como um ato de fé. Alguns teólogos, tais como Soren Kierkegaard e Karl Barth, rejeitam toda teologia geral ou natural e afirmam que Deus só pode Ser conhecido por um ato de fé. Todavia, a fé possuída pelo crente não é cega nem irracional. A fé é um dom de Deus (Rm 10:17); todavia, ela é sustentada por evidências claras para a mente imparcial. O salmista diz, como consolo para os crentes: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas: mãos” (S1 19:1). Paulo destaca em Romanos, capítulo um, que mesmo aqueles que não têm uma revelação da Escritura não possuem uma justificativa para a sua incredulidade:

“Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis: porquanto, tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus...” (Rm 1:19-21).

Assim, podemos ver que a Bíblia sustenta a validade de uma teologia natural. Devemos lembrar, no entanto, que, apesar de uma teologia natural poder indicar um criador poderoso, sábio e benévolo, nada diz para resolver os problemas do pecado do homem, sua dor, seu sofrimento e sua necessidade de redenção. Também não pode afirmar, com João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29). Além disso, e importante lembrar que os argumentos da existência de Deus, tais como os fornecidos por uma teologia natural, não constituem uma demonstração absoluta. Os seres finitos não podem demonstrar a existência de um Deus infinito. J. O. Buswell afirma:

“Não existe um argumento conhecido por nós que, como argumento, leve a uma conclusão provável (altamente provável). Por exemplo, acredita que o sol irá levantar-se amanhã cedo, mas se fôssemos analisar as evidências, os argumentos que levam a essa conclusão, seríamos for que eles, por melhores que sejam, são caracterizados pela probabilidade. Os argumentos teístas não são uma exceção à regra de que todos os argumentos indutivos sobre o que existe são argumentos de probabilidade. Este é o ponto em que os argumentos, afirmam chegar.”

Os argumentos sobre a existência de Deus que se seguem não são um substituto para a revelação de Deus nas Escrituras, nem podem levar a uma fé salvadora. Eles são um consolo par o crente e podem servir ao pregador do evangelho para despertar uma audiência atenta. Só o Espírito Santo suprirá a verdadeira fé em Deus.

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Champlin conta que certa feita, estava pregando em uma igreja batista sobre as provas da existência de Deus. Procurei usar algumas poucas referências bíblicas que concordam em espírito com as provas filosóficas, mas que não se acham ali com o propósito específico de provar a existência de Deus. Fui severamente criticado devido aquele sermão, e uma da senhoras chegou a dizer: “Espero que o pastor não torne a convidar aquele filósofo para falar à igreja!”. Em uma outra ocasião, um jovem de um seminário batista, na cidade de São Paulo, referiu-se ao que aquela senhora dissera, concordando inteiramente com ela. Eu estava presente e ouvi a observação dele, mas não me dei ao trabalho de protestar. Mas eu sabia que tanto os cursos de filosofia como teologia (da escola que ele freqüentava) incluíam a existência de Deus, naquelas disciplinas. A ignorância dos fatos nunca leva a coisa alguma. Quanto mais aprendemos, tanto melhores ficamos. Os filósofos têm feito bem em examinar esse assunto: fazemos bem em ficarmos informados acerca do assunto. – mesmo que não precisemos de tais provas para consubstanciar a nossa fé cristã. Pois os que ainda pertencem ao mundo, talvez sintam que essas provas são úteis para eles consubstanciarem sua fé na existência de Deus. Outrossim, muitas dessas provas têm uma sólida base bíblica, ainda que, na Bíblia, tais conceitos não sejam expostos como provas.
ARGUMENTOS DIVERSOS QUE COMPRAVAM
A REALIDADE DA EXISTÊNCIA DE DEUS

1. Há a idéia do quinque viae exposta por Tomás de Aquino.

Antes de tudo destaca-se o princípio do impulsionador primário, isto é, aquela força que desencadeou o movimento que agora sustenta o mesmo. O mundo seria, essencialmente, “matéria em movimento”. Precisamos explicar a existência tanto do movimento como da causa primária. Pois não é lógico entrarmos em um regresso infinito, afirmando que um movimento foi causado por um antecedente, e este por um outro, anterior a ele, e assim indefinidamente. Precisamos finalmente chagar à declaração da origem do movimento. Em Col. 1:17 vemos que esse poder é atribuído a Cristo (o Logos), ao passo que no trecho de Atos 17:28 essa força é atribuída a Deus Pai. Estes dois trechos foram declarações do Apóstolo Paulo. Por conseguinte, esse argumento de Tomás de Aquino já existe nas Escrituras, ainda que não na forma rigorosa de um argumento, porém meramente como uma afirmação sobre a origem do movimento e como o mesmo tem prosseguimento. O movimento assume muitas formas diversas, e, segundo o conhecimento mais avançado do que dispomos, sobre a particularidade, o movimento mais elementar é aquele que se verifica no interior do átomo, e que envolve os elementos constitutivos do átomo. Existe igualmente movimentos na formação das coisas, no desenvolvimento de qualquer r coisa a que chamamos de crescimento. Tais movimentos são governados por uma inteligência qualquer, porque, de outro modo, tudo não passaria do mais absoluto caos. Os movimentos são dirigidos na direção de alvos fixos, levados a efeito com propósito definido. Somente uma inteligência elevada poderia assim ordenar e dirigir tais movimentos.

2. O argumento cosmológico.

Temos a necessidade de explicar a origem da matéria. Poderíamos encetar uma série infindável de retrocessos, supondo que há uma fileira interminável de causas, sem jamais chegarmos a uma causa primária - mas isso é simplesmente contrário à razão. Assim sendo, precisamos supor que existe uma causa, maior do que qualquer dos seus efeitos, causa essa que originou a matéria. Com base na grandiosidade da criação, podemos averiguar algo da grandiosidade da inteligência de Deus, bem como de seu extraordinário poder. A única alternativa possível a essa posição é aquela que afirma que a matéria é eterna; essa idéia entretanto, é muito menos satisfatória do que aquela que fala de uma Causa inteligente de todas as coisas. Causa essa que é eterna, mas que produziu a criação dentro do tempo. Coisa alguma, de tudo quanto existe, pode ser declarado como sua própria causa, por quanto sempre podemos encontrar uma causa para qualquer coisa, e outra causa para essa causa, e assim por diante. Finalmente, porém, somos forçados a pôr ponto final nesse retrocesso, supondo a existência de uma causa primária. Essa é a solução mais razoável, para o problema da origem, dentre todas as soluções que têm sido apresentadas pelos homens.
Myer Pearlman nomenclatura esse argumento como sendo “Argumento da Criação”. Esse teólogo sustenta que a razão argumenta que o universo deve ter tido um princípio. Todo efeito deve ter uma causa suficiente. O universo, sendo o efeito, por conseguinte deve ter uma causa. Consideremos a extensão do universo. Nas palavras de Jorge W. Grey: “O universo, como o imaginamos, é um sistema de milhares e milhões de galáxias. Cada uma delas se compõe de milhares e milhões de estrelas. Perto da circunferência de uma dessas galáxias - a Via Láctea - existe uma estrela de tamanho médio e temperatura moderada, já amarelada pela velhice - que é o nosso Sol.” E imaginem que o Sol é milhões de vezes maior que a nossa pequena Terra! Prossegue o mesmo escritor: “O Sol está girando numa órbita vertiginosa em direção à circunferência da Via Láctea a 19.300 metros por segundo, levando consigo a Terra e todos os planetas, e ao mesmo tempo todo o sistema solar está girando num gigantesco circuito à velocidade incrível de 321 quilômetros por segundo, enquanto a própria galáxia gira, qual colossal roda gigante estelar. Fotografando-se algumas seções dos céus, é possível fazer a contagem das estrelas. No observatório de Harvard College eu vi uma fotografia que inclui as imagens de mais de 200 Vias Lácteas todas registradas numa chapa fotográfica de 35 x 42 cm. Calcula-se que o número de galáxias de que se compõe o universo é da ordem de 500 milhões de milhões.”
Consideremos nosso pequeno planeta e nele as várias formas de vida existentes, as quais revelam inteligência e desígnio divinos. Naturalmente surge a questão: “Como se originou tudo isso?” A pergunta é natural, pois as nossas mentes são constituídas de tal forma que esperam que todo efeito tenha uma causa. Logo, concluímos que o universo deve ter tido uma Primeira Causa, ou um Criador. “No princípio - Deus” (Gên. 1:1).
Dum modo singelo este argumento é exposto no seguinte incidente: Disse um jovem céptico a uma idosa senhora: “Outrora eu cria em Deus, mas agora, desde que estudei filosofia e matemática, estou convencido de que Deus não é mais do que uma palavra oca”. Disse a senhora “Bem, é verdade que eu não aprendi essas coisas, mas desde que você já aprendeu, pode me dizer donde veio este ovo?” “Naturalmente duma galinha”, foi a resposta. “E donde veio a galinha?” “Naturalmente dum ovo”. Então, indagou a senhora: “Permita-me perguntar: qual existiu primeiro, a galinha ou o ovo?” “A galinha, por certo”, respondeu o jovem. “Oh, então, a galinha existia antes o ovo? Oh, não, devia dizer que o ovo existia primeiro. Então, eu suponho que você quer dizer que o ovo existia antes da galinha”. O moço vacilou: “Bem, a senhora vê, isto é, naturalmente, bem, a galinha existiu primeiro”. “Muito bem” — disse ela — , “quem criou a primeira galinha de que vieram todos os sucessivos ovos e galinhas?” “Que é que a senhora quer dizer com tudo isto?” — perguntou ele. “Simplesmente isto” — replicou ela: — “Digo que aquele que criou o primeiro ovo ou a primeira galinha é aquele que criou o mundo. Você nem pode explicar, sem Deus, a existência dum ovo ou duma galinha, e ainda quer que eu creia que você pode explicar, sem Deus, a existência do mundo inteiro!”

3. O argumento alicerçado da contingência ou da possibilidade.

Esse argumento tem por fundamento a verdade empírica que mostra que tudo quanto conhecemos, através de nossa experiência, é “contingente”. Em outras palavras, depende de alguma outra coisa para explicar a sua existência. Isso subentende que a menos que exista alguma coisa “necessária”, que “não possa deixar de existir”, todas as coisas, finalmente cessariam de existir, porquanto dependem ou são contingentes dessa coisa necesária. Uma vez mais poderíamos iniciar um retrocesso infinito, supondo que todas as coisas realmente dependem de alguma coisa, sem jamais chegarmos a um “ser necessário”, independente, que não depende do que quer que seja para sua existência. Porém, essa idéia é muito menos razoável do que supormos que ao longo do caminho de retrocesso, em algum lugar, se encontra aquela vida necessária, que não depende de qualquer outra coisa para a sua existência , mas antes, é sua própria causadora e existe independentemente de tudo o mais. A esse ser independente é que denominamos “Deus”. O evangelho de João encerra esse conceito em trechos como João 5:25,26 e 6: 57, onde se lê que esse tipo de vida independe, imortal e necesária foi conferida ao Filho de Deus (através das ressurreição), pelo poder de Deus Pai, e então, por intermédio do Filho, a todos quantos nele crêem. Esse é um dos conceitos mais elevados da religião, revelada ou não. O homem, através da doação, vem participar da “vida independente” de Deus, e assim virá a participar do mesmo tipo de imortalidade que Deus Pai possui. Essa é a autêntica vida eterna.

4. Argumento axiológico

Em outras palavras, há uma forma ou graus de perfeição? Sempre que examinamos a bondade, a justiça, a beleza, a nobreza, ou qualquer outra das qualidades morais, observamos neste mundo muitos graus de perfeição. Ora, a própria idéia de “grau” subentende a necessidade de um grau máximo, ou seja, da perfeição – um “maxime ens” ou “ens realissimus”. Esse entre mais real chama-se “Deus” que é o ápice de todos os graus de perfeição.

5. O argumento teleológico.

O argumento teleológico também é chamado pelos pensadores cristãos como “Argumento do Desígnio. Esses estudiosos argumentam que o desígnio e a formosura evidenciam-se no universo; mas o desígnio e a formosura implicam um arquiteto; portanto, o universo é a obra dum Arquiteto dotado de inteligência suficiente para explicar sua obra. O grande relógio de Estrasburgo tem, além das funções normais dum relógio, uma combinação de luas e planetas que se movem, mostrando dias e meses com a exatidão dos corpos celestes, com seus grupos de figuras que aparecem e desaparecem com regularidade igual ao soarem as horas no grande cronômetro.
Declarar não ter havido um engenheiro que construiu o relógio e que este objeto “aconteceu”, seria insultar a inteligência e a razão humana. É insensatez presumir que o universo “aconteceu”, ou, em linguagem científica, que procedeu “do concurso fortuito dos átomos”!
Suponhamos que o livro “O Peregrino” fosse descrito da seguinte maneira: o autor tomou um vagão de tipos de imprensa e com pá os atirou ao ar. Ao caírem no chão, natural e gradualmente se ajuntaram de maneira a formar a famosa história de Bunyan. O homem mais incrédulo diria: que absurdo! E a mesma coisa dizemos nós das suposições do ateísmo em relação à criação do universo.
O exame dum relógio revela que ele leva os sinais de desígnio porque as diversas peças são reunidas com um propósito prévio. Elas são colocadas de tal modo que produzem movimentos e esses movimentos são regulados de tal maneira que marcam as horas. Disso inferimos duas coisas: primeiramente, que o relógio teve alguém que o fez, e em segundo lugar, que o seu fabricante compreendeu a sua construção, e o projetou com o propósito de marcar as horas. Da mesma maneira, observamos o desígnio e a operação dum plano no mundo e, naturalmente, concluímos que houve alguém que o fez e que sabiamente o preparou para o propósito ao qual está servindo.
O fato de nunca termos observado a fabricação dum relógio não afetaria essas conclusões, mesmo que nunca conhecêssemos um relojoeiro, ou que jamais tivéssemos idéia do processo desse trabalho. Igualmente, a nossa convicção de que o universo teve um arquiteto, de forma nenhuma sofre alteração pelo fato de nunca termos observado a sua construção, ou de nunca termos visto o arquiteto.
Do mesmo modo a nossa conclusão não se alteraria se alguém nos informasse que “o relógio é resultado da operação das leis da mecânica e explica-se pelas propriedades da matéria”. Ainda assim teremos que considerá-lo como obra dum hábil relojoeiro que soube aproveitar essas leis da física e suas propriedades para fazer funcionar o relógio.
Da mesma forma, quando alguém nos informa que o universo é simplesmente o resultado da operação das leis da natureza, nós nos vemos constrangidos a perguntar: “Quem projetou, estabeleceu e usou essas leis?” Isso, em razão de ser implícita a presença de um legislador uma vez que existem leis.
Tomemos para ilustrar a vida dos insetos. Há uma espécie de escaravelho chamado “Staghorn” ou “Chifrudo”. O macho tem magníficos chifres, duas vezes mais compridos do que o seu corpo; a fêmea não tem chifres. No estágio larval, eles enterram-se a si mesmos na terra e, silenciosamente, esperam na escuridão pela sua metamorfose. São naturalmente meros insetos, sem nenhuma diferença aparente e, no entanto, um deles escava para si um buraco duas vezes mais profundo do que o outro. Por quê? Para que haja espaço para os chifres do macho se desenvolverem com perfeição. Por que essas larvas, aparentemente iguais, diferem assim em seus hábitos? Quem ensinou o macho a cavar seu buraco duas vezes mais profundo do que o faz a fêmea? É o resultado dum processo racional? Não, foi Deus, o Criador, quem pôs naquelas criaturas a percepção instintiva que lhes seria útil.
De onde recebeu esse inseto a sua sabedoria? Alguém talvez pense que a herdara de seus pais. Mas um cão ensinado, por exemplo, transmite à sua descendência sua astúcia e agilidade? Não. Mesmo que admitamos que o instinto fosse herdado, ainda deparamos com o fato de que alguém havia instruído o primeiro escaravelho chifrudo. A explicação do maravilhoso instinto dos animais acha-se nas palavras do primeiro capítulo de Gênesis: “E disse Deus” - isto é: a vontade de Deus. Quem observa o funcionamento dum relógio sabe que a inteligência não está no relógio mas sim no relojoeiro. E quem observa o instinto maravilhoso das menores criaturas, concluirá que a primeira inteligência não era a delas, mas sim do seu Criador, e que existe uma Mente controladora dos menores detalhes da vida.
O Dr. Whitney, ex-presidente da Sociedade Americana e membro da Academia Americana de Artes e Ciências, certa vez disse que “um ímã repele o outro pela vontade de Deus e ninguém pode dar razão melhor.” “Que quer o senhor dizer com a expressão: a vontade de Deus?” alguém lhe perguntou. O Dr. Whitney replicou: “Como o senhor define a luz?. . . Existe a teoria corpuscular, a teoria de ondas, e agora a teoria do quantum; e nenhuma das teorias passa duma conjetura educada. Com uma explicação tão boa como essas, podemos dizer que a luz caminha pela vontade de Deus. . . A vontade de Deus, essa lei que descobrimos, sem a podermos explicar - é a única palavra final.”
O Sr. A J. Pace, desenhista do periódico evangélico “Sunday School Times”, fala de sua entrevista com o finado Wilson J. Bentley, perito em microfotografia (fotografar o que se vê através do microscópio). Por mais de um terço de século esse senhor fotografou cristais de neve. Depois de haver fotografado milhares desses cristais ele observou três fatos principais: primeiro, que não havia dois flocos iguais; segundo: todos eram de um padrão formoso; terceiro: todos eram invariavelmente de forma sextavada. Quando lhe perguntaram como se explicava essa simetria sextavada, ele respondeu: “Decerto, ninguém sabe senão Deus, mas a minha teoria é a seguinte: Como todos sabem, os cristais de neve são formados de vapor de água a temperatura a temperaturas abaixo de zero, e a água se compõe de três moléculas, duas de hidrogênio que se combinam com uma de oxigênio. Cada molécula tem uma carga de eletricidade positiva e negativa, a qual tem a tendência de polarizar-se nos lados opostos. O algarismo três, portanto, figura no assunto desde o começo”.
“Como podemos explicar estes pontinhos tão interessantes, as voltas e as curvas graciosas, estas quinas chanfradas tão delicadamente cinzeladas, todas elas dispostas com perfeita simetria ao redor do ponto central?” perguntou o Sr. Pace.
Encolheu os ombros e disse: “Somente o Artista que os desenhou e os modelou conhece o processo.”
Sua declaração acerca do “algarismo três que figura no assunto” me pôs a pensar. Não seria então que o trino Deus, que modela toda a formosura da criação, rubrica a própria trindade nestas frágeis estrelas de cristal de gelo como quem assina seu nome em sua obra-prima? Ao examinar os flocos de neve ao microscópio, vê-se instantaneamente que o princípio básico da estrutura do floco de neve é o hexágono ou a figura de seis lados, o único exemplo disso a todo o reino da geometria a este respeito. O raio do círculo cirncunscrevente é exatamente igual ao comprimento de cada um dos seis lados do hexágono. Portanto, resultam seis triângulos equiláteros reunidos ao núcleo central, sendo todos os ângulos de sessenta graus, a terça parte de toda a área num lado duma linha reta. Que símbolo sugestivo do trino Deus é o triângulo! Aqui temos unidade: um triângulo, formado de três linhas, cada: parte indispensável à integridade do conjunto.
A curiosidade agora me impeliu a examinar as referências bíblicas sobre a palavra “neve”, e descobri, com grande prazer, este mesmo “triângulo” inerente na Bíblia. Por exemplo, há 21 (3 x 7) referências contendo o substantivo “neve” no Antigo Testamento, e 3 no Novo Testamento, 24 ao todo. Então achei 3 referências que falam da “lepra tão branca como a neve”. Três vezes a purificação do pecado é comparada à neve. Achei mais três que falam de roupas “tão brancas como a neve”. Três vezes a aparência do Filho de Deus compara-se à neve. Mas a maior surpresa foi ao descobrir que a palavra hebraica, “neve”, é composta inteiramente de algarismos “três”! É fato, embora não seja geralmente conhecido que, não tendo algarismos, tanto os hebreus como os gregos usavam as letras do seu alfabeto como algarismos. Bastava um olhar casual de um hebreu à palavra SHELEG (palavra hebraica que quer dizer “neve”) para ver que ela significa algarismo 333, ba como significa “neve”. No hebraico a primeira letra, que corresponde à nossa “SH”, vale 300; a segunda consoante “L” vale 30; e a consoante final, o nosso “G”, vale 3. Somando-as, temos 333, três algarismos de três. Curioso, não é verdade? Mas por que não esperar exatidão matemática dum livro plenamente inspirado, tão maravilhoso quanto o mundo que Deus criou?
Acerca de Deus disse Jó: “Faz grandes coisas que não podemos compreender. Pois diz à neve: Cai sobre a terra” (Jó 37:5, 6). Eu já gastei dois dias inteiros para copiar com pena e tinta o desenho de Deus de seis cristais de neve e fiquei muito fatigado. E como é fácil para ele fazê-lo! “Ele diz à neve” - e com uma palavra está feito.
Imaginem quanto são milhões de bilhões de cristais de neve caem sobre um hectare de terra durante uma hora, e imaginem, se pudera, o fato surpreendente de que cada cristal tem sua individualidade própria, um desenho e modelo sem duplicata nesta ou em qualquer outra tempestade. “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso atingir” (Sal. 139:6). Como pode uma pessoa ajuizada, diante de tal evidência de desígnios, multiplicados por um sem-número de variedades, duvidar da existência e da obra do Desenhista, cuja capacidade é imensurável?! Um Deus capaz de fazer tantas belezas é capaz de tudo, até mesmo de moldar as nossas vidas dando-lhes beleza e simetria.
Champlin declara que todos os aspectos da vida e do ser demonstram um desígnio extremamente completo. Tudo quanto é vida possui propósito em seu ser, além de um esquema muito complexo de funções físicas, o que demonstra o mais estupendo desígnio. A complexidade de desígnios existente, por exemplo, no olho humano, é a demonstração suficiente da existência de uma inteligência cheia de propósito para confundir um milhão de ateus. A ordem que impera no universo físico é exata e maravilhosa para nossa apreciação. Ora, por detrás de todo esse propósito e desígnio deve haver um grande Planejador, ou seja, a mais elevada inteligência que se pode imaginar, – que foi capaz de pôr em movimento uma criação magnífica que sempre desperta a nossa observação. O Planejador é Deus e sua inteligência é atualmente demonstrada no mundo por ele criado. Por exemplo, há uma vaidade de mariposa que possui dez tipos diferentes de antenas, e que São receptores de luz. Por meio do seu uso, esse inseto é capaz de dirigir o seu vôo e a sua vida em geral. A ciência dos homens ainda não foi capaz de descobrir a utilidade específica de cada uma dessas variedades de antenas, mas os cientistas se maravilham extasiados ante o fenômeno. O engenho humano jamais foi capaz de desenvolver antenas com essa sensibilidade. No entanto, alguns animais possuem receptores de luz ainda mais complicados e prefeitos, aos quais chamamos de olhos. Por detrás de desígnios tão inteligentes, deve haver um Intelecto Supremo. E essa inteligência extraordinária se chama Deus. Até mesmo as coisas inanimadas têm desígnio, e essas coisas, juntamente com outras coisas de desígnio mais complexo, adicionam o seu testemunho em favor do grande Planejador.

6. O argumento da eficácia da razão.

A razão humana, com sua extraordinária complexidade e com muitíssimas sutilezas e seus poderes abstratos, comprova a necessidade de admitirmos, em nossa ontologia, o Criador e Planejador desses poderes, sendo, ele mesmo, o Intelecto supremo. A razão humana é apenas uma pequena demonstração da razão divina. Até mesmo as tentativas racionais do homem, par provar que Deus não existe, não passam de demonstrações que Deus verdadeiramente existe, porquanto essas tentativas são um uso e uma exibição da razão, o que, quando devidamente examinado, inevitavelmente nos conduz de volta a Deus. Esse argumento é uma faceta do argumento teológico, discutido acima, no ponto anterior.
Alguns teólogos dividem esse argumento didaticamente em fases. A primeira fase deste argumento é de “causa e efeito”. Ao nosso redor existem efeitos tais como matéria e movimento. Há três alternativas para a sua explicação: (1) eles existem eternamente; (2) surgiram do nada ou (3) foram causados. Vamos examinar essas alternativas em ordem. Primeiro, não é provável que o universo tenha existido eternamente, pois toda evidência indica um universo que está se desgastando. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, o sol e as estrelas estão perdendo energia em considerável proporção. Se tivessem existido desde a eternidade, já estariam esgotados. Os materiais radioativos estão perdendo a sua radiação. Os estudos espectográficos das estrelas mostram que todos os corpos estão viajando para fora a partir do centro, indicando um começo. Segundo, dizer que a matéria e o movimento emergiram do nada é uma contradição: “Do nada, nada surge.” Terceiro, a explicação mais razoável é que a matéria e o movimento foram criados num ponto do tempo. Atualmente, a maioria dos cientistas data o universo de maneira variada, entre cinco e vinte bilhões de anos de antigüidade. Alguns propõem uma série de emergências ou um criador impessoal, mas, considerando a existência de inteligências e a grande complexidade da criação, é mais provável que o universo seja obra de um Criador inteligente, como exposto na Bíblia. Não é provável que uma fonte suba mais alto que seu manancial, ou que seres racionais surjam de uma fonte irracional.
Outra fase do argumento a partir da razão é que o homem possui um conhecimento inato de Deus. Isto se evidencia pela crença universal num ser supremo de algum tipo. É difícil encontrar uma tribo que não acredite num ser ou força superior. “O homem é incuravelmente religioso”. Isto não significa que todos os homens tenham uma crença completamente firmada em Deus, mas parece indicar que a crença religiosa e a tendência para adorar uma divindade são naturais ao homem. Até mesmo o ateu, que nega a existência de Deus, demonstra que é confrontado com a idéia de Deus e deve de algum modo dispor do conceito.



7. O argumento moral.

Em sua forma original, esse argumento assevera que o elevado senso de moralidade que algumas pessoas possuem pode ser melhor explicado se supormos eu esse senso se assemelha ao do grande Ser moral. Essa explicação é melhorada que atribuímos tal moralidade a fatores meramente biológicos ou físicos. De conformidade com esse ponto de vista, aceitamos que elevado senso moral se deriva da influência exercida por um Deus santo.
Em suas formas mais complexas, compreendemos que esse argumento mostra que até mesmo o vocabulário da moralidade, que se refere a conceitos como “bondade”, “justiça”, e “conduta ideal” subentende um elevadíssimo Padrão de moralidade, o qual inspira a moralidade no homem, o que por sua vez, é refletido na própria natureza da linguagem humana. Outrossim, o argumento moral, em suas formas mais complexas, afirma que existe na mente humana a intuição de que deve haver uma retribuição apropriada às ações morais dos homens, subentendem que deve haver um juiz capaz de dispensar retribuições na forma de bênção ou punição. Além disso a experiência e a observação humanas demonstram que, nesta existência terrena, a injustiça pode prevalecer e freqüentemente o faz, pelo que a injustiça, neste lado terreno da vida, não se cumpre. A razão também nos diz, por conseguinte, que deve forçosamente haver a imortalidade, pois é no “outro lado” da existência que a justiça terá de ser satisfeita. Ora somente o Juiz absoluto pode fazer os ajustamentos necessários para que a justiça repouse sobre todos, através da bênção ou através do castigo.
A este Juiz nós chamamos “Deus”. O raciocínio da pura moral humana requer a existência de Deus. Outrossim, alicerçados em bases bíblicas, como vemos em Rm. 1:19,20, ou como se vê em João 16:8-11, percebemos que esse Juiz transmite pessoalmente aos homens quais sejam as exigências morais deste mundo.
Reiterando toda essa idéia, o homem dispõe de natureza moral, isto é, a sua vida é regulada por conceitos do bem e do mal. Ele reconhece que há um caminho reto de ação que deve seguir e um caminho errado que deve evitar. Esse conhecimento chama-se “consciência”. Ao fazer ele o bem, a consciência o aprova; ao fazer ele o mal, ela o condena. A consciência, seja obedecida ou não, fala com autoridade. Assim disse Butler acerca da consciência: “Se ela tivesse poder na mesma proporção de sua autoridade manifesta, governaria o mundo, isto é, se a consciência tivesse a força de por em ação o que ordena, ela revolucionaria o mundo. ”Mas acontece que o homem é dotado de livre arbítrio e, portanto, pode desobedecer àquela voz íntima. Mesmo estando mal orientada, sem esclarecimento, a consciência ainda fala com autoridade, e faz o homem sentir sua responsabilidade. “Duas coisas me impressionam”, declarou Kant, o grande filósofo alemão, “o alto céu estrelado e a lei moral em meu interior.”
Qual a conclusão que se tira deste conhecimento universal do bem e do mal? Que há um Legislador que idealizou uma norma de conduta para o homem e fez a natureza humana capaz de compreender esse ideal. A consciência não cria o ideal; ela simplesmente testifica acerca dele, registrando a sua conformidade ou não-conformidade. Quem originalmente criou esses dois poderosos conceitos do bem e do mal? Deus, o Justo Legislador! O pecado ofuscou a consciência e quase anulou a lei do ser humano; mas no Monte Sinai Deus gravou essa lei em pedras para que o homem tivesse a lei perfeita para dirigir a sua vida. O fato de que o homem compreende esta lei, e sente a sua responsabilidade para com ela, manifesta a existência dum Legislador que criou o homem com essa capacidade.
Qual é a conclusão que podemos tirar desse sentimento de responsabilidade? Que o Legislador é também um Juiz que recompensará os bons e castigará os maus. Aquele que impôs a lei finalmente defenderá essa lei.
Não somente a natureza moral do homem, como também todos os aspectos da sua natureza testificam da existência de Deus. Até as religiões mais degradadas demonstram o fato de que o homem, qual cego, tateando, procura algo que sua alma anela. A fome física indica a existência de algo que a possa satisfazer. Quando o homem tem fome, essa fome indica que há alguém ou algo que o possa satisfazer. A exclamação, “a minha alma tem sede de Deus” (Sal. 42:2), é um argumento a favor da existência de Deus, pois a alma não enganaria o homem com sede daquilo que não existisse. Assim disse certa vez um erudito da igreja primitiva: “Para ti nos fizeste, e nosso coração estará inquieto enquanto não encontrar descanso em ti.”

Pr. Robson Brito

Fonte: www.teologico.com.br

TEOLOGIA PARTE II

8. O argumento axiológico, em sua forma mais complexa.

Todas as sensibilidades humanas, no que diz respeito às perfeições da realidade, das qualidades morais, das qualidades estéticas, das qualidades políticas e da busca pela perfeição, em qualquer campo de conhecimento humano, requerem que exista o Valor supremo na direção do qual todos os demais valores apontam, e cujo padrão esses valores seguem como linha diretriz. Há uma subcategoria desse argumento, denominado “argumento henológico”, o qual afirma que há uma espécie de unidade em todos os conceitos de valor, isto é, o Grande Padrão de valor, que age como o alvo e o unificador de todos os valores, a despeito do que essa disciplina porventura envolva. Essa unidade dos valores exige a aceitação da existência do Unificador de todos os valores, que é Deus.

9. O argumento derivado da autoridade.

Os livros sagrados, as experiências místicas que dão conteúdo que dão conteúdo as esses livros sagrados, a tradição histórica da igreja cristã, os escritos e predições orais dos profetas, o cumprimento dessas suas profecias, etc., mostram-nos que existem “autoridades” de natureza religiosa, o que comprova a existência de um Deus que nos transmitiu a autoridade apropriada para representar a sua própria pessoa.

10. O argumento baseado na experiência religiosa.

A experiência religiosa, como regeneração, e as demais experiências místicas, como as curas, diversas experiências psíquicas, ou milagres, etc., provam que deve haver uma realidade na fé religiosa, cujo ponto mais elevado é o Ser supremo que denominamos “Deus”, o qual, também, é a fonte originária válida de toda a experiência religiosa autêntica.

11. O argumento baseado na esperança religiosa.

Existe uma crença universal dos homens na existência de Deus, que os leva a terem “esperança”. A remoção da esperança deste mundo deixaria a raça humana em estado de miséria íntima. Essa esperança é justificada porque é outorgada por Deus, sendo comprovada pelo consenso humano universal. Os homens esperam em Deus, a não ser quando ensinamos ao contrário, por algum sistema perverso, que os condicione a isso.
12. O argumento baseado na realidade dos milagres.

A ciência não conta com qualquer explicação e nem com qualquer teoria geral que explane as muitas maravilhas extraordinárias que se verificam neste mundo. Somente a verdade religiosa pode explicar tais fenômenos. O princípio religioso afirma a existência de Deus como o grande poder que há por detrás dos milagres. Existem leis mais elevadas do que aquelas que são explicadas pela ciência humana, e que podem ultrapassar as supostas limitações, impostas pela ciência natural. Deus é controlador das leis cósmicas, e, se assim quiser fazer; pode agir contrariamente a elas, fazendo intervenção, ultrapassando-as ou utilizando-se de leis superiores a elas, a fim de produzir acontecimentos que desafiam qualquer explicação “lógica”, de conformidade com a lógica científica.


13. O argumento do consensus gentium.

Essas palavras latinas significam “opinião popular”. Sempre fez parte da opinião de todas as culturas humanas que existe algum Ser supremo, ou existem alguns seres divinos. O ateísmo, em contraste com isso, precisa ser aprendido; não ocorre naturalmente a quem quer que seja. Não existe um único ser humano, à face da terra que seja ateu de nascimento. Usualmente os indivíduos aceitam o ateísmo nas escolas seculares e profanas, onde os mestres, inchados de orgulho intelectual, pensam ser suficientes para si mesmos, sem necessitarem de qualquer Poder Supremo. Todavia, em todas as culturas onde a sofisticação do ceticismo ainda não penetrou, à a crença na existência de Deus, ou pelo menos, de vários deuses. A opinião geral da humanidade, entretanto, não nos pode conduzir à natureza exata de Deus, mas, pelo menos pode conduzir-nos à “idéia de existência da divindade” – Deus existe.
Alguns teólogos chamam esse argumento de “argumento da crença universal”. A crença na existência de Deus é praticamente tão difundida quanto a própria raça humana, embora muitas vezes se manifeste em forma pervertida ou grotesca e revestida de idéias supersticiosas. Esta opinião tem sido contestada por alguns que argumentam existirem raças que não têm a menor concepção de Deus. Mas o Sr. Jevons, autoridade no assunto de raças e religiões comparadas, diz que esta opinião, “Como é do conhecimento de todos os antropólogos, já foi para o limbo das controvérsias mortas. . . todos concordam que não existem raças, por mais primitivas que sejam, totalmente destituídas de concepção religiosa! Embora alguém cite exceções, sabemos que a exceção não inutiliza a regra. Por exemplo, se fossem encontrados alguns seres humanos inteiramente destituídos de todo sentimento humano e compaixão, isso não serviria de base para dizer que o homem é essencialmente uma criatura destituída de sentimentos. A presença de cegos no mundo não prova que todos os homens são cegos.” Como disse William Evans: “o fato de certas nações não conhecerem a tabuada de multiplicação não afeta a aritmética.”
Como se originou esta crença universal? A maior parte dos ateus parece imaginar que um grupo de teólogos se tenha reunido em sessão secreta na qual inventaram a idéia de Deus, a qual depois apresentaram ao povo. Mas os teólogos não inventaram Deus como também os astrônomos não inventaram as estrelas, nem os botânicos as flores. É certo que os antigos mantinham idéias erradas acerca dos corpos celestes, mas esse fato não nega a existência dos corpos celestes. E visto que a humanidade já teve idéias defeituosas acerca de Deus, isso implica que existe um Deus acerca do qual podiam ter noções errôneas.

14. O argumento baseado na revelação e no misticismo.

Deus tem achado por bem revelar-se a si mesmo aos homens: e isso ele tem feito por intermédio de visões e sonhos. Essa revelação aparece em forma mais concreta nas Santas Escrituras. O senhor Deus simplesmente dá conhecimento de si mesmo como um dom aos homens, porque sabe que precisam desse conhecimento. Essa revelação se origina em sua graça e sua bondade. Que o misticismo é uma realidade é fato que se pode provar facilmente, através de pesquisas e da mera observação. O impulso que há por detrás de todas as experiências místicas, quer se trate de milagres ou de visões, é a Mente divina. E formas falsas de misticismo não eliminam o que é verdadeiro: e, além disso, qualquer grau de misticismo já serve de prova sobre a existência de Deus. As experiências místicas conseguem descrever Deus, em certo sentido, não sendo meramente uma afirmação de sua existência.

15. O argumento baseado na felicidade do crente.

A profunda felicidade e senso de confiança que têm os crentes em Deus, a alegria e a segurança que a fé teísta confere aos possuidores, servem de provas da validade da crença na existência de Deus.

16. O argumento baseado na melhor crença.

Sendo inquiridores sérios da verdade, sentimos a necessidade de escolher entre as muitas idéias que existem, e, ao sermos defrontados por tal necessidade de escolha, a “melhor fé”, obviamente é a teísta. Essa crença explica melhor a existência da criação, de seu desígnio, das experiências místicas e dos milagres. Isso é uma explicação melhor do que a idéia da mera “chance”, da “evolução” ou da “seleção natural”, ou mesmo da coincidência sem desígnio, das “forças naturais e cósmicas”, que são suas alternativas, a crença em Deus fica melhor fundada, psicologicamente falando, na realidade das coisas, do que o ateísmo, e é muitíssimo mais satisfatória. O ateísmo perde a sua utilidade quando o indivíduo morre.

17. O argumento da aposta, apresentado por Blaise Pascal.

Pascal ensinava que é impossível provar ou negar a existência de Deus, mas dizia que, sob bases pragmáticas, a crença em Deus é superior à descrença, porquanto essa crença agrada a Deus, ao passo que o ateísmo lhe é desagradável. De acordo com essa idéia, quando um homem morre, se porventura descobrir que Deus não existe, ou se ele mesmo simplesmente deixa de existir, nada terá perdido. Por outro lado se um homem, ao morrer, descobrir que Deus realmente existe, então só terá a ganhar com a sua crença teísta. Essa idéia entretanto, não é válida, pois é extremamente imperfeita. Pois Deus existe, e, segundo podemos estar plenamente certos, não é nenhum tolo, o que significa que não ficará satisfeito com alguém que se aferra à crença teísta somente por motivo de vantagens egoísticas. De fato, talvez Deus se sinta mais agradado com um ateu sincero e honesto do e não com um teísta jogador com a sorte. Essa forma de crença é uma hipocrisia, e jamais poderá agradar a Deus. Outrossim, do ponto de vista teológico, a mera crença na existência de Deus não é mais vantajosa do que a crença que têm os poderes demoníacos na existência de Deus, pois os demônios crêem e estremecem.

18. O argumento do teísmo pragmático.

Paralelamente ao argumento anterior, alguns pensam que é pragmaticamente melhor ser alguém religioso, não somente no que tange à questão da crença na existência de Deus, ma também no que diz respeito à questão da prática religiosa. O ateísmo não oferece qualquer futuro a quem quer que seja, e nem mesmo reivindica oferecer isso. É melhor ,portanto, do ponto de vista do pragmatismo prático, lançarmos nossa sorte à religião, com a existência de Deus e da alma, fazendo profissão geral e prática da religiosidade. Se, ao descobrirmos que estávamos equivocados em nossas crenças, nada poderemos com isso. Por outro lado, se alguma parte ou a totalidade das crenças religiosas estiverem de conformidade com a realidade, descobrirmos que fizemos uma acertada decisão, ao seguirmos a fé teísta e as práticas religiosas, porquanto, presumivelmente, obteremos algum mérito com isso. Do ponto de vista evangélico, entretanto, essa “fé pragmática” não se reveste de valor algum, porquanto somente uma fé verdadeira em Jesus Cristo pode transformar os remidos segundo a sua própria imagem. Seja como for, o teísmo pragmático é melhor do que o ateísmo, com o expressão para a existência terrena presente.

19. Deus é a melhor explicação possível para a conjuntura.

A existência de Deus é a melhor explicação possível para tudo quanto está envolvido em todos esses argumentos, considerados como um conjunto. Ao examinarmos a gama inteira das possibilidades, dos argumentos, das teses e das contrateses, o teísmo mostra-se mis convincente do que o ateísmo. Isso é verdade, ainda que não possamos chegar a uma conclusão racional definitiva. A melhor idéia é a teísta, e esse ;é o resultado líquido de todos os argumentos, considerados em sua totalidade.

20. Argumento alicerçado na fé pura.

Alguns cristãos especialmente nas igrejas evangélicas, têm chegado à conclusão de que nenhum argumento “racional” ou “físico” verdadeiramente demonstra a existência de Deus, mas antes, que essa certeza só ocorre através da fé bíblica. Nas igrejas evangélicas, que seguem o ensinamento bíblico, acredita-se que essa fé é conferida pelo próprio Deus, o qual dá, dessa maneira, certeza de sua existência, inteiramente à parte de evidências externas. Alguns crentes chegam mesmo a alegrar-se nessa idéia, rejeitando totalmente quaisquer outras idéias, como se estivessem próximas da blasfêmia, as quais dizem ser necessário ser comprovada a existência de Deus para que nela possamos acreditar. Porém, apesar das escrituras Sagradas em parte alguma se lançarem à tarefa de tentarem provar que Deus existe, contudo, passagens bíblicas como aquela de Rm. 1:20 dão a entender que verdadeiramente existem provas, físicas e racionais, acerca dessa existência. Portanto, não é crime procurarmos delinear a validade de tais provas, pois, para os incrédulos, esse delineamento pode ser muito útil e valioso. Um dos primeiros passos que uma alma pode dar na direção de Cristo, pode ser a crença firme na existência de Deus. Ninguém poderá jamais avizinhar-se de Cristo, segundo um sério ponto de vista evangélico, se for um ateu convicto. (Esse argumento baseado na “fé pura” na realidade é uma variedade do argumento “místico”, que aparece no décimo quarto lugar nesta lista de argumentos sobre a existência de Deus.
Para fortalecer a fé daqueles que já crêem. Eles estudam as provas, não para crer, mas sim porque já crêem. Esta fé lhes é tão preciosa que aceitarão com alegria qualquer fato que a faça aumentar ou enriquecer.

21. O argumento da história.

A marcha dos eventos da história universal fornece evidência de um poder e duma providência dominante. Toda a história bíblica foi escrita para revelar Deus na história, isto é, para ilustrar a obra de Deus nos negócios humanos. “Os princípios do divino governo moral encontram-se na história das nações tanto quanto na experiência dos homens”, escreve D.S. Clarke. (Sal. 75:7; Dn. 2:21; 5:21.) “O protestantismo inglês vê a derrota da Armada Espanhola como uma intervenção divina. A colonização dos Estados Unidos por imigrantes protestantes salvou-os da sorte da América do Sul, e desta maneira salvou a democracia. Quem negaria que a mão de Deus estivesse nesses acontecimentos?” A história da humanidade, o surgimento e declínio de nações, como Babilônia e Roma, mostram que o progresso acompanha o uso das faculdades dadas por Deus e a obediência à sua lei, e que o declínio nacional e a podridão moral seguem a desobediência” (D.L. Pierson). A.T. Pierson, em seu livro, “Os Novos Atos dos Apóstolos” expõe as evidências da dominante providência de Deus nas missões evangélicas modernas.
Especialmente o modo de Deus tratar com os indivíduos fornece provas de sua ativa presença nos negócios humanos. Charles Bradlaugh, que foi em certo tempo o ateu mais notável na Inglaterra, desafiou o pastor, Charles Hugh Price, para um debate. Foi aceito o desafio e o pregador, por sua vez, desafiou o ateu da seguinte maneira: como todos sabemos, Sr. Bradlaugh, “o homem convencido contra a própria vontade mantém sempre seu ponto de vista”, e, visto que o debate, como ginástica mental que é, provavelmente não converterá a ninguém, proponho-lhe que apresentemos algumas evidências concretas da validade das reivindicações do cristianismo na forma de homens e mulheres redimidos da vida mundana e vergonhosa pela influência do cristianismo e pela do ateísmo. Eu trarei cem desses homens e mulheres, e desafio-o a fazer o mesmo.
Se o Sr. Bradlaugh não puder apresentar cem, contra os meus cem, Ficarei satisfeito se trouxer cinqüenta homens e mulheres que se levantem e testifiquem que foram transformados duma vida vergonhosa pela influência dos seus ensinos ateus. Se não puder apresentar cinqüenta, desafio-o a apresentar vinte pessoas que testifiquem com rostos radiantes, como o farão os meus cem, que tenham um grande e novo gozo na sua vida elevada, em resultado dos ensinos ateus. Se não puder apresentar vinte, ficarei satisfeito se apresentar dez. Não, Sr. Bradlaugh, desafio-o a trazer um só homem ou uma só mulher que dê tal testemunho acerca da influência enobrecedora dos seus ensinos. Minhas pessoas redimidas trarão prova irrefutável quanto ao poder salvador de Jesus Cristo sobre as suas vidas redimidas da escravidão do pecado e da vergonha. Talvez, senhor Bradlaugh, essa será a verdadeira demonstração da validade das reivindicações do cristianismo.
O Sr. Bradlaugh retirou o seu desafio!
Para Guy P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave o argumento da história se apóia sobre o alicerce da divina providência. Os estudantes de história, a não ser que sejam cegos ou parciais, irão descobrir a obra da divina providência. Isto não significa que um propósito sábio é visível em todos os eventos. Deve-se ter em conta que o homem é pecador e rebelde e, ate certo ponto, um agente moral livre. Deus não causa cada evento individual, mas está no controle do fluir dos eventos, executando seus propósitos. Ele cumpre suas profecias inspiradas que se acham registradas na sua Palavra. Se alguém estudar a Bíblia junto com a história, irá perceber um modelo divino enfocando Jesus Cristo, o Filho de Deus. Este enfoque não é apenas sobre a vida terrena de Jesus. O propósito de Deus em Cristo é visto na história de Israel e na sua esperança de um redentor (Gn 12:13; Is 52:10-53:12); na encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo; no triunfo da igreja através de múltiplas oposições; e na indestrutibilidade de Israel através dos séculos.
A originalidade de Cristo foi bem expressa por Napoleão em uma carta ao General Bertrand:
“Efeitos divinos me obrigam a crer numa causa divina. É verdade, existe uma causa das causas… existe um ser infinito, comparado com o qual você, general, não passa de um átomo; comparado com o qual eu, Napoleão, com todo o meu gênio, nada sou realmente; puramente nada. Eu o percebo - Deus. Eu o vejo, tenho necessidade dele, creio nele, pior para você. Mas você, general, crerá um dia em Deus. Posso perdoar muitas coisas, mas sinto horror diante de alguém ateu e materialista… os deuses, os legisladores da Índia e da China, de Roma e de Atenas, nada possuem que possa espantar-me sobremaneira…mas isso não acontece com Cristo. Tudo nele me assombra. Seu espírito me faz ficar maravilhado e sua vontade me contunde. Não existe termo de comparação entre Ele e qualquer pessoa no mundo. Ele, em si mesmo, é verdadeiro. Suas idéias e seus sentimentos, as verdades que anuncia, sua maneira de convencer não são explicadas por organização humana, nem pela natureza das coisas. Seu nascimento e a história da sua vida; a profundidade da sua doutrina, que luta com as maiores dificuldades, a mais admirável solução; seu evangelho… sua marcha através das idades e dos reinos, tudo para mim e um prodígio, um mistério insolúvel, que me faz mergulhar num desvaneio do qual não posso escapar, diante de meus olhos está um mistério, o qual não posso negar nem explicar… procuro encontrar em vão na história alguém igual a Jesus Cristo.”

22. O argumento que apresenta o homem como imagem e semelhança de Deus:

A Palavra de Deus declara que o homem foi criado à imagem de Deus. “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:26-27). Não devemos buscar a imagem de Deus no homem físico, pois Deus é Espírito (Jo 4:24). Em lugar disso, devemos procurar a imagem de Deus no homem espiritual: “...e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou...” (Cl 3:10).
A imagem de Deus no homem é vista no fato de ele ter domínio sobre as criaturas inferiores e especialmente em sua capacidade e desejo ardente de comunhão com Deus. A outra marca da imagem divina é vista na natureza moral do homem, seu senso de dever e responsabilidade, e na posse de uma consciência: “Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se...” (Rm 2:15). C.S. Lewis diz: “Estes são, portanto, os dois pontos que eu queria ressaltar. Primeiro, que os seres humanos, em toda a terra, têm esta idéia curiosa de que devem comportar-se de certa maneira, e não conseguem livrar-se dela. Segundo, eles na verdade não se comportam deste modo. Eles conhecem a lei da natureza e a quebram. Esses dois fatos são a base de todo pensamento claro a respeito de nós mesmos e do universo em que vivemos.”
Um Deus pessoal nos faz responsáveis por nossa conduta e atitude. Devemos render-nos à vontade dele ou viver com a consciência pesada. É possível cauterizar a consciência ou silencia-la, enganando-nos a nós mesmos. Mas, desse modo, o indivíduo irá então invariavelmente criar seu próprio sistema de valores. A experiência mostrou que o sistema bíblico de ética, afinal de contas, e o mais adequado à natureza moral do homem, criado por Deus.

23. O argumento da Escritura

Esse argumento se apóia sobre as declarações e na exatidão das Sagradas Escrituras. A Bíblia afirma ser a Palavra inspirada de Deus (2 Tm 3:16-17; 2 Pe 1:20, 21; 1 Co 2:12, 13; Tt 1:1-13). Nenhum livro na terra foi tão amplamente aceito como uma mensagem de Deus. Seus oponentes e os céticos lançaram todo tipo de ataque concebível contra ele, mas sua popularidade permanece. Sua exatidão tem sido repetidamente impugnada, mas a pá dos arqueólogos confirma a cada instante a exatidão de alguma passagem posta em dúvida. O Dr. W.F. Albright, reconhecido arqueólogo, escreve: “Nada que tenda a perturbar a fé religiosa do judeu ou do cristão foi descoberto... Descoberta após descoberta têm estabelecido a exatidão de inúmeros detalhes e trazido maior reconhecimento do valor da Bíblia como um livro fonte da história.” Nenhum outro livro se compara com a Bíblia no que diz respeito aos seus ensinos morais e espirituais; escrita há centenas de anos, ela é mais moderna que os jornais de hoje. Nunca deixa de falar com poder, sanando os problemas mais profundos da alma e do espírito.

A SANTÍSSIMA TRINDADE

O Pai incriado, o Filho incriado: o Espírito Santo incriado.
O Pai incomensurável, o Filho incomensurável: o Espírito Santo incomensurável
O Pai eterno, o Filho eterno: o Espírito Santo eterno.
E, mesmo assim, não são três eternos: mas um só eterno.

A Trindade é um mistério. A aceitação reverente do que não é revelado nas Sagradas Escrituras faz-se necessário antes de se perguntar a respeito de sua natureza. A glória ilimitada de Deus deve ser uma forma de nos conscientizar com respeito à nossa insignificância em contraste com aquEle que é “sublime e exaltado”.
Nosso reconhecimento dos mistérios de Deus, especialmente da Trindade, exige que abandonemos a razão! Nada disso. Na Bíblia, de fato, há muitos mistérios, mas “o cristianismo, como ‘religião revelada’, centraliza-se na revelação e a revelação (segundo sua própria definição) toma manifesto em vez de ocultar”.
A razão se vê diante de uma pedra de tropeço quando confrontada pela natureza paradoxal da doutrina trinitariana. “Mas”, asseverou Martinho Lutero, de modo enérgico, “posto que se baseie claramente nas Escrituras, a razão precisa conservar-se em silêncio sobre o assunto; devemos tão-somente crer”.
Por isso, o papel da razão é o de auxiliar, e nunca de dominar (atitude racionalista), a entender as Escrituras, especialmente no tocante à formulação da doutrina da Trindade, Não estamos, pois, tentando explicar Deus, mas, sim, considerar as evidências históricas que estabelecem a identidade de Jesus como homem e também como Deus (em virtude dos seus atos milagrosos e do seu caráter divino) e, ainda, “incorporar a verdade que Jesus tornou válida no que diz respeito ao seu relacionamento eterno com Deus Pai e com Deus Espírito Santo”.
Historicamente, a Igreja formulou a doutrina da Trindade em razão do grande debate a respeito do relacionamento entre Jesus de Nazaré e o Pai. Três Pessoas distintas - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - são manifestadas nas Escrituras como Deus, ao passo que a própria Bíblia sustenta com tenacidade o Shema judaico: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4).
A conclusão, baseada nas Escrituras, é que o Deus da Bíblia é (nas palavras do Credo Atanasiano) “um só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade”. Isso soa irracional? Semelhante acusação contra a doutrina da Trindade pode ser, por si mesma, classificada de irracional: “Irracional é suprimir a evidência bíblica em favor da Trindade para favorecer a Unidade, ou a evidência em favor da Unidade para favorecer a Trindade”. “Nossos dados devem ter precedência sobre nossos modelos - ou, melhor, nossos modelos devem refletir de modo sensível a gama inteira dos dados”. Por isso, nosso olhar metodológico deve estar baseado na Bíblia no que diz respeito a relação tênue entre a unidade e a trindade para não polarizarmos a doutrina da Trindade num dos dois extremos: a supressão das evidências em favor da unidade (o que resulta na no unitarianismo, ou seja: que reconhece em Deus somente uma única pessoa) ou o abuso das evidências em favor de triunidade (o que resultaria no triteísmo - três deuses separados).
Uma anáIise objetiva dos dados bíblicos no tocante ao relacionamento entre o Pai, o Filho e o Espirito Santo, revela que essa grandiosa doutrina não é uma noção abstrata, mas, na realidade, uma verdade revelada. Por isso, antes de considerarmos o desenvolvimento histórico e a formulação da teologia trinitariana, examinaremos as evidências bíblicas nas quais a doutrina se fundamenta.

EVIDÊNCIAS BÍBLICAS PARA A DOUTRINA
NO ANTIGO TESTAMENTO

Deus, no Antigo Testamento, é um só Deus, que se revela pelos seus nomes, pelos seus atributos e pelos seus atos. Mesmo assim, o Antigo Testamento lança alguma luz sobre a pluralidade (uma distinção de Pessoas) na Deidade: “Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). Que Deus não poderia estar conversando com anjos, ou com outros seres não-identificados, fica evidente no versículo 27 que se refere à criação do homem “a imagem de Deus”. 0 O contexto indica uma comunicação interpessoal divina, que requer uma unidade de Pessoas na Deidade.
Outras distinções pessoais na Deidade são reveladas nos textos que se referem ao “anjo do SENHOR” (hb. Yahweh). Esse anjo é distinguido de outros anjos. É pessoalmente identificado com Javé e, ao mesmo tempo, distinguido dEle (Gn 16.7-13; 18.1-21; 19.1-28; 32.24-30. Jacó diz: “Tenho visto a Deus face a face”, com referência ao anjo do Senhor). Em Isaías 48.16; 61.1; e 63.9,10, o Messias fala. Numa ocasião, Ele se identifica com Deus e o Espírito em união pessoal como os três membros da Deidade. Mas noutra ocasião, o Messias continua (ainda falando na primeira pessoa) a distinguir-se de Deus e do Espírito.
Zacarias lança muita luz sobre o assunto ao falar, em nome de Deus, a respeito da crucificação do Messias: “E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente peio primogênito” (Zc 12.10). Fica claro que o único Deus verdadeiro está falando na primeira pessoa (“mim”) com referência a ter sido “traspassado”, mas Ele mesmo faz a mudança gramatical da primeira para a terceira pessoa (“ele”) com relação aos sofrimentos do Messias pelo fato de ter sido “traspassado”. A revelação da pluralidade na Deidade fica bem evidente nesse texto bíblico.
Assim saímos das sombras e prefigurações do Antigo Testamento para a luz maior da revelação no Novo Testamento.

NO PERÍODO INTER-TESTAMENTAL

Nesse período houve uma preparação definida, ainda que vaga e sombreada, para a plena revelação da Trindade segundo ela é apresentada no Novo Testamento. A transcendência e a distância de Deus, no pensamento judaico, levaram os homens a buscar um mediador. Filo, sob a apreensão do contraste metafísico absoluto entre Deus e a criação. Muitos reconhecem acertadamente que esse é justamente o ofício do Messias; porém, havia forte tendência para atribuir-se ao Messias celeste a mesma transcendência e distância. Sentia-se, entretanto, que quando o Messias viesse ao mundo, o Espírito santo igualmente, que abandonara a cena profética desde Malaquias, retornaria com poder profético. Embora fossem concebidas vagamente três Pessoas, a questão da relação entre as mesmas era escassamente abordada, e era deixada em completa obscuridade.

NO NOVO TESTAMENTO

João começa o prólogo do seu Evangelho com a revelação do Verbo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jó l.1). B. F. Westcott observa que, aqui, João leva nossos pensamentos para além do começo da Criação, no tempo, para a eternidade. O verbo “era” (gr. en, pretérito imperfeito de eimi, “ser”) aparece três vezes nesse versículo e, mediante todo o versículo, o apóstolo transmite a idéia de que nem Deus, nem o Verbo (gr. Logos), tem começo; sempre existiram em conjunto, e assim continua.
A segunda parte do versículo continua: “E o Verbo estava com Deus pros ton theon”. O Logos existe com Deus, em perfeita comunhão, por toda a eternidade. A palavra pros (com) revela o relacionamento “face a face” que o Pai e o Filho sempre compartilharam. A frase final de João é uma declaração nítida da divindade do Verbo: “E o Verbo era Deus”.
João continua a revelar-nos que o. Verbo entrou na História (1.14) como Jesus de Nazaré, sendo Ele mesmo “o Único Deus, que está ao lado do Pai”, E o Verbo tornou o Pai conhecido (1.18). O Novo Testamento revela, ainda que, pelo fato de Jesus Cristo ter compartilhado da glória de Deus desde toda a eternidade (Jó 17,5), Ele é objeto da adoração reservada somente a Deus: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus” (Fp 2.10,11; ver também Êx 20.3; Is 45.23; Hb 1.8).
Foi através do Verbo eterno, Jesus Cristo, que Deus Pai criou todas as coisas (Jó 1.3; Ap 3.14). Jesus se identifica como o soberano “Eu sou” (Jó 8.58; cf. Êx 3.14). Em João 8.59, os judeus sentiram-se impulsionados a pegar em pedras para matar a Jesus em virtude dessa reivindicação. Tentaram fazer a mesma coisa mais tarde depois de haver Ele declarado em João 10.30: “Eu e o Pai somos um”. Os judeus que o escutaram consideraram-no blasfemo: “Sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jó 10.33; cf. Jo 5.18).
auto identifica Jesus como o Deus que provê todas as coisas: “Ele é antes de todas a coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17). Jesus é o “Deus Forte” que reinará como Rei no trono de Davi, e o tornará eterno (Is 9.6,7). Seu conhecimento é perfeito e completo. Pedro falou assim a nosso Senhor: “Senhor, tu sabes tudo” (Jó 21.17). O próprio Cristo disse: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27; cf. Jó 10.15).
Jesus agora está presente em todos os lugares (Mt 18.20), e é imutável (Hb 13.8).Ele compartilha este título com o Pai: “o Primeiro e o Último” (Ap 1.17; 22.13). Jesus é o nosso Redentor e Salvador (Jó 3.16,17; Hb 9.28; 1 Jó 2.2), nossa Vida e Luz (Jó 1.4), nosso Pastor (Jó 10.14; 1 Pe 5.4), aquele que nos justifica (Rm 5.1), e que virá em breve como “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16). Jesus é a Verdade (Jó 14.6) e o Consolador, cujo conforto e ajuda transbordam em nossa vida (2 Co 1.5) Isaías também o chama nosso “Conselheiro” (Is 9.6), e Ele é a Rocha (Rm 9.33; 1 Co 10.4). Ele é santo (Lc 1.35) e habita naqueles que lhe invocam o nome (Rm 10.9,10; Ef 3.17).
Tudo quanto se pode dizer a respeito de Deus Pai, também pode ser dito a respeito de Jesus Cristo. “Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). “Cristo... é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9.5). Jesus falou de sua plena igualdade com o Pai: “Quem me vê a mim vê o Pai... estou no Pai, e o Pai, em mim” (Jó 14.9·11).
Jesus reivindicava plena divindade para o Espírito Santo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jó 14.16). Ao chamar o Espírito Santo, allon parakleton (“outro Ajudador do mesmo tipo que Ele mesmo”), Jesus afirmou que tudo quanto pode ser afirmado a respeito de sua natureza pode ser dito a respeito do Espírito Santo. Por isso, a Bíblia dá testemunho da divindade do Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Trindade.
O Salmo 104.30 revela o Espírito Santo como o Criador: “Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra”. Pedro se refere a Ele como Deus (At 5.3,4), e o autor da Epístola aos Hebreus chama-o “Espírito eterno” (Hb 9.14).
A exemplo de Deus, o Espírito Santo possui os atributos da Deidade. Ele tem conhecimento de todas as coisas: “O Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus... Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.10,11). Ele está presente em todos os lugares (Sl 139.7,8).Embora o Espirito Santo distribua dons entre os cristãos, Ele mesmo permanece sendo “um só” (1 Co 12.11); Ele é constante na sua natureza. Ele é a Verdade (Jó 15.26; 16.13; 1 Jo 5.6). Ele é o Autor da Vida (Jó 3.3-6; Rm 8.10) mediante o renascimento e a renovação (Tt 3.5) e nos sela para o dia da redenção (Ef 4.30).
O Pai é nosso Santificador (1 Ts 5.23), Jesus Cristo é nosso Santificador (1 Co 1.2), e o Espírito Santo é nosso Santificador (Rm 15.16). O Espírito Santo é nosso “Conselheiro” ao 14.17; 1 Co 3.16,17; 6.19; 2 Co 6.16) Em Isaías 6.8-10, o profeta indica que Deus está falando, e Paulo atribui a mesma passagem ao Espírito Santo (At 28.25,26). No que tange a isso, João Calvino observa: “Realmente, onde os profetas usualmente dizem que as palavras que pronunciam são as do Senhor dos Exércitos, Cristo e os apóstolos as atribuem ao Espírito Santo cf. 2 Pe 1.21”. Calvino conclui: “Segue-se, portanto, que quem é o autor preeminente das profecias é verdadeiramente Jeová Yahweh”. “O conceito do Deus Trino e Uno acha-se somente na tradição judaico-cristã”. Esse conceito não surgiu mediante a especulação dos sábios deste mundo, mas através da revelação outorgada passo a passo na Palavra de Deus. Em todos os escritos dos apóstolos, a Trindade é implícita e tomada como certa (Ef 1.1-14; 1 Pe 1.2). Fica claro que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, existem eternamente como três Pessoas distintas, mas as Escrituras também revelam a unidade dos três membros da Deidade.
As Pessoas da Trindade têm vontades separadas, porém nunca conflitantes (Lc 22.42; 1 Co 12.11). O Pai fala ao Filho, empregando o pronome da segunda pessoa do singular: “Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido” (Lc 3.22). Jesus se oferece ao Pai pelo Espírito (Hb 9.14). Declara que veio “não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jó 6.38).
O nascimento virginal de Jesus Cristo revela o inter-relacionamento entre os três membros da Trindade, O relato de Lucas diz: “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35).
O único Deus é revelado como a Trindade na ocasião do batismo de Jesus Cristo. O Filho subiu das águas. O Espírito Santo desceu como pomba. O Pai falou dos Céus (Mt 3.16, 17). Por ocasião da criação, a Bíblia menciona o envolvimento do Espírito (Gn 1.2). O autor da Epístola aos Hebreus, porém, declara explicitamente que o Pai é o Criador (Hb 1.2), e João demonstra que a criação foi realizada “por meio do Filho” (Jó 1.3; Ap 3.14). Quando o apóstolo Paulo anuncia aos atenienses que Deus “fez o mundo e tudo que nele há” (At 17.24), a única conclusão a que podemos razoavelmente chegar (juntamente com Atanásio) é que Deus é “um só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade”.
A ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos é outro exemplo notável do relacionamento dentro da Deidade Trina e Una na redenção. Paulo declara que o Pai de Jesus Cristo ressuscitou nosso Senhor dentre os mortos (Rm 1.4; cf. 2 Co 1.3). Jesus, contudo, declarou enfaticamente que ressuscitaria seu próprio corpo da sepultura na glória da ressurreição (Jó 2.19-21). Noutro texto, Paulo declara que Deus, mediante o Espírito Santo, ressuscitou Cristo dentre os mortos (Rm 8.11; cf. Rm 1.4). Lucas coroa teologicamente a ortodoxia trinitariana ao registrar a proclamação do apóstolo Paulo aos atenienses de que o único Deus ressuscitou a Cristo dentre os mortos (At 17.30,31).
Jesus coloca os três membros da Deidade no mesmo plano ao ordenar aos seus discípulos: ”Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19).
O apóstolo Paulo, judeu monoteísta treinado pelo grande erudito rabínico Gamaliel, hebreu de hebreus; segundo a lei, fariseu (Fp 3.5), deu o carimbo definitivo a teologia trinitiniana, conforme a sua saudação a igreja em Corinto: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos” (2 Co 13.14). Os dados oferecidos pela Bíblia levam-nos decididamente à conclusão de que, dentro da natureza do único Deus verdadeiro, há três Pessoas, sendo que cada uma é coeterna, co-iguale co-existente.
O teólogo ortodoxo subordina humildemente os seus pensamentos sobre a teologia trinitariana aos dados revelados na Palavra de Deus de maneira bem semelhante ao físico quântico ao formular a teoria paradoxal das partículas de ondas:

Os físicos quânticos concordam entre si que as entidade subatômicas são uma mistura de propriedades de ondas (W), de propriedades de partículas (P), e de propriedades quânticas (h). Os elétrons de alta velocidade, ao serem atirados através de um filme metálico, ou de cristal de níquel (como raios catódicos rápidos ou até mesmo como raios-B), difratam como raios-X. Em princípio, o raio-B é igual à luz solar empregada numa experiência de dupla ranhura ou biprísmica. A difração é um critério de comportamento semelhante a raios nas substâncias; toda a teoria clássica das ondas baseia-se nisso. Além desse comportamento, porém, há muito tempo que os elétrons vêm sendo considerados partículas com carga elétrica. Um campo magnético transversal defletirá um feixe de elétrons e seu padrão de difração. Somente as partículas comportam-se dessa maneira; toda a teoria eletromagnética depende disso. Para explicar todas as evidências, os elétrons devem ser tanto partículas quando ondulatórios grifos nossos. Um elétron é um Pwh.

A analogia entre a Trindade e o Pwh ilustra muito bem as precauções preliminares desse capítulo, ou seja: embora o teólogo sempre deva esforçar-se por conseguir a racionalidade na formulação teológica, ele também deve preferir a revelação às restrições finitas da lógica humana. A Escritura, e tão somente ela, é o ponto de partida para a teologia da Igreja Cristã.

A FORMULAÇÃO HISTÓRICA DA DOUTRINA DA TRINDADE

Embora Calvino estivesse falando de outro assunto doutrinário, sua advertência é igualmente aplicável a formulação trinitariana: “Se alguém, sem muita autoconfiança, tentar desvendar os seus mistérios, não conseguirá satisfazer a sua curiosidade, e entrará num labirinto do qual não achará nenhuma saída”.
De fato, a formulação histórica da doutrina da Trindade é apropriadamente caracterizada como um labirinto terminológico, no qual muitos caminhos levam a becos sem saída, a heresias.
Os quatro primeiros séculos da Igreja Cristã eram dominados por um único tema: o conceito cristológico de Logos. Esse conceito é exclusivamente joanino, e se acha no prólogo do Evangelho de João e na sua Primeira Epístola. A controvérsia eclesiástica daqueles tempos focalizava-se na pergunta: “O que João quer dizer com seu uso da palavra Logos?” A controvérsia atingiu seu auge no século IV, no Concílio de Nicéia (325 d.C.).
No século II, os pais apostólicos tinham uma cristologia pouco desenvolvida. O relacionamento une as duas naturezas em Cristo, a humana e a divina, não é claramente articulado nas suas obras. A doutrina da Trindade aparece de forma subentendida nos seus tratados de cristologia, porém não explícita.
Os grandes defensores da fé que havia na Igreja Primitiva (Irineu, Justino Mártir) referiam-se a Cristo como o Logos eterno. Nessa época, porém, o conceito do Logos parece ter sido entendido como um poder ou atributo eterno de Deus que, de alguma maneira, inexplicável, habita em Cristo. Um conceito de Logos eternamente pessoal, em íntima relação com o Pai, ainda não havia sido definido ainda.

Irineu Contra Os Gnósticos

Entramos no labirinto eclesiástico do desenvolvimento histórico da teologia trinitariana, seguindo nos passos de Irineu. Ele era bispo de Lião, na Gália, e discípulo de Policarpo que, por sua vez, era discípulo do apóstolo João. Em Irineu, portanto, temos um vínculo direto com a doutrina apostólica. Irineu começou a participar de debates teológicos em fins do século II. É mais conhecido por causa dos seus argumentos contra os gnósticos. Sua grande obra, Contra Heresias, tem sido uma fonte primária de defesa contra as influências espiritualmente malogradas do gnosticismo.
Irineu encaminhou a Igreja, positivamente, ao declarar a unicidade de Deus, que é o Criador dos céus e da terra. Seu compromisso com o monoteísmo protegeu a Igreja contra o perigo do politeísmo, que a levaria a um beco sem saída. Irineu também foi cauteloso no que se refere à especulação gnóstica quanto à maneira de o Filho ter sido gerado pelo Pai.
Os gnósticos especulavam continuamente a respeito da natureza de Cristo e da sua relação com o Pai. Alguns gnósticos classificavam Cristo no seu panteão de deuses (intermediários espirituais entre a Mente Divina e a Terra), e nisto, trivializavam a sua divindade. Outros (docetistas) negavam a plena humanidade de Cristo, insistindo que Ele não poderia ter se encarnado (apenas parecia ser um homem) e sofrer e morrer na Cruz (cf. Jó 1.14; Hb 2.14; 1 Jo 4.2,3).
Irineu resistia fervorosamente os ensinos dos gnósticos, mediante uma cristologia desenvolvida de modo impressionante, enfatizando tanto a plena humanidade de Jesus Cristo, quanto a sua plena divindade. Na sua defesa da cristologia, Irineu respondeu aos gnósticos com duas frases cruciais que posteriormente reapareceram em Calcedônia: “Filius dei filius hominis factus: (o Filho de Deus tornou-se filho do homem), e Jesus Christus vere homo, vere deus: (Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus)”.
Declarações assim exigiam um conceito pelo menos rudimentar do trinitarismo. De outra forma, a alternativa teria sido o diteísmo (dois deuses) ou o politeísmo (muitos deuses). Declara-se, todavia, que Irineu subentendeu um “trinitarianismo econômico”. Noutras palavras: “Ele só lida com a divindade do Filho e do Espírito no contexto da sua revelação e atividade salvífica, ou seja: no contexto da ''economia'' (plano) da salvação”.

Tertuliano Contra Praxeas

Tertuliano, o “bispo pentecostal de Cartago” (160 - c. de 230), fez contribuições de valor inestimável para o desenvolvimento da ortodoxia trinitariana. Adolph von Hamack, por exemplo, insiste que foi Tertuliano que preparou o terreno para o desenvolvimento subsequente da doutrina trinitariana ortodoxa.
O tratado de Tertuliano, “Contra Praxeas”, contém 50 páginas de polêmica vigorosa contra um certo Praxeas que, supostamente, introduziu em Roma a heresia do monarquianismo ou do patripassianismo. O monarquianismo ensina a existência de um só Monarca, que é Deus. Por conseguinte, é negada a plena divindade do Filho e do Espírito. No entanto, para preservar as doutrinas da salvação, os monarquianos chegaram a conclusão de que o Pai, como Deidade, foi crucificado pelos pecados do mundo. Essa é a heresia chamada patripassianismo. Por isso, segundo Tertuliano disse a respeito de Praxeas: “Ele tinha expelido a profecia e introduzido a heresia, tinha exilado o Paracleto e crucificado o Pai”.
Tertuliano informa-nos que, enquanto a heresia de Praxeas varria a Igreja, os crentes de uma forma geral continuavam vivendo na sua simplicidade doutrinária.” Embora estivesse
resoluto quanto a advertir a Igreja contra os perigos do monarquianismo, entrou na controvérsia em cima da hora, quando a heresia estava se tomando predominante no pensamento dos cristãos.
A tarefa de Tertuliano foi criar um meio por onde fluíssem as implicações inerentes da teologia trinitariana na consciência da Igreja. Embora Tertuliano seja tido como o primeiro erudito a empregar o termo “Trindade”, não é correto dizer, que ele “haja inventado” a doutrina, mais que “escavou” na consciência da Igreja e retirou daí os pensamentos trinitarianos inerentes que já estavam presentes. B. B. Warfield comenta: “Tertuliano tinha de..; estabelecer a divindade verdadeira e completa de Jesus... sem criar dois deuses... E considerando o sucesso que conseguiu nesse aspecto, deve ser reconhecido como o pai da doutrina eclesiástica da Trindade”.
Tertuliano toma explícito o conceito de uma “Trindade econômica” (semelhante ao conceito de Irineu, mas com uma definição mais explícita). Enfatiza a unidade de Deus, ou seja: que existe uma só substância divina, um só poder divino sem separação, divisão, dispersão ou diversidade há, porém, uma distribuição entre as funções, uma distinção entre as Pessoas.

Orígenes e a Escola Alexandrina

No século II a.C., Alexandria, no Egito, substituiu Atenas como o centro intelectual do mundo greco-romano. Posteriormente, academias cristãs floresceram nessa cidade. Alguns dos maiores estudiosos da Igreja antiga pertenciam a escola alexandrina.
A igreja avançou ainda mais através do labirinto teológico da formulação doutrinária com o trabalho do célebre Orígenes (c. de 185-254). A explicação sobre a eternidade do Logos pessoal foi feita pela primeira por Orígenes. Com ele, começou a emergir a doutrina ortodoxa da Trindade, embora não fosse cristalizada na sua formulação (progredindo além do conceito “econômico” de Tertuliano) a não ser no começo do século IV no Concílio de Nicéia ·(325 d.C.)
Opondo-se aos monarquianos (também chamados units), Orígenes propôs sua doutrina da geração eterna do Filho (chamada filiação) Ligava essa geração à vontade do Pai, e assim subentendia a subordinação do Filho ao Pai. A conclusão da doutrina da filiação aconteceu não somente pelas designações “Pai” e “Filho”, mas também pelo fato de o Filho ser chamado, de modo consistente, “o Unigênito” (Jó .14, 18; 3.16, 18; 1 Jo 4.9).
Segundo Orígenes, o Pai gera eternamente o Filho e, portanto, nunca está sem Ele. O Filho é Deus, porém ele subsiste (segundo a linguagem teológica posterior, que se relaciona coma existência de Deus) como uma pessoas distinta do Pai. O conceito oferecido por Orígenes da geração eterna preparou a Igreja para entender que a Trindade subsiste em três Pessoas em vez de consistir em três partes.
Orígenes deu expressão teológica ao relacionamento entre o Pai e o Filho (posteriormente afirmada no Conflito de Nicéia) como homoousios to patri: “de uma só substância ou essência com o Pai” O modo de se entender a personalidade, essencial para a fórmula trinitariana ortodoxa, ainda era imprecisa. O termo latim persona, que significa “papel” ou “ator”, não ajudava no esforço teológico de se entender o Pai, o Filho e o Espírito como três Pessoas, em vez de meros papéis diferentes de Deus. O conceito teológico de hypostases, ou seja: da distinção de Pessoas dentro da Deidade (em contraste com a unidade de substância ou de natureza dentro da Deidade, chamada “consubstancialidade” e que se relaciona com a homousia), permitiu a formulação paradoxal da teologia trinitariana.
A doutrina de Orígenes a respeito da geração eterna do Filho era uma polêmica contra a noção de que houvera um tempo quando o Filho não existia. Seu conceito da “consubstancialidade ressaltava a igualdade entre o Filho e o Pai. No entanto, surgiram dificuldades no pensamento de Orígenes por causa do conceito da subordinação apresentado na linguagem do Novo Testamento, e da idéia do papel de submissão do Filho em relação ao Pai, embora a plena divindade do Filho fosse ainda mantida. O que é crítico para a nossa compreensão “é entender a subordinação no sentido de que podemos chamar de econômico”, e não num sentido que se relacione com a natureza da própria existência de Deus. Por isso: “O Filho submete-se a vontade do Pai e executa o seu plano (oikonomia), mas não é por isso inferior ao Pai na sua natureza”.
Orígenes era inconsistente na sua formulação do relacionamento entre o Pai e o Filho, e apresentava o Filho como um tipo de deidade de segunda categoria, distinto do Pai quanto à sua Pessoa, mas inferior a Ele quanto á existência. Orígenes ensinava essencialmente que o Filho devia a sua existência a vontade do Pai. Essa oscilação no tocante ao conceito do subordinacionismo provocou uma reação maciça dos monarquianos.

O MONARQUIANISMO DINÂMICO: A PRIMEIRA TENTATIVA FRACASSADA

Os monarquianos procuravam preservar o conceito da unicidade de Deus - a monarquia do monoteísmo. Focalizavam a eternidade de Deus como o único Senhor, ou Soberano, em relação à sua criação.
O monarquianismo apareceu em dois tipos diferentes: Dinâmico e Modalísticoianismo Dinâmico e Modalístico. O monarquismo dinâmico (também chamado Monarquianismo Ebionita, Monarquianismo Unitaniano ou Monarquianismo Adocionista) antecedeu o Monarquianismo Modalístico.
O Monarquianismo Dinâmico negava qualquer noção de uma Trindade eternamente pessoal. A escola monarquiana dinâmica era representada pelos Alogi, homens que rejeitavam a cristologia do Logos. Os Alogi baseavam a sua cristologia exclusivamente nos Evangelhos Sinóticos, e repudiavam a cristologia do Evangelho de João porque suspeitavam que havia concepções helenísticas no prólogo do seu Evangelho.
Os monarquianos dinâmicos argumentavam que Cristo não era Deus desde toda a eternidade, mas que se tomara Deus em certo momento do tempo. Embora existissem diferenças de opinião quanto ao momento exato determinado para a deificação do Filho, a opinião generalizada era que a exaltação do Filho ocorreu no seu batismo quando, então foi ungido pelo Espírito Cristo, pois, mediante a sua obediência, tomou-se o divino Filho de Deus. Cristo era considerado o Filho adotivo de Deus ao invés de ser tido como o eterno Filho de Deus.
O Monarquianismo Dinâmico também ensinava que Cristo foi exaltado progressivamente, ou dinamicamente, à condição de Deidade. O relacionamento entre o Pai e o Filho era percebido não em termos da sua natureza e existência, mas em termos morais. Ou seja: não se considerava que o Filho possuísse igualdade de natureza com o Pai (homoousios: homo significa “idêntico” e ousios significa “essência”). Os monarquianos dinâmicos postulavam que entre Jesus e os propósitos de Deus existe um relacionamento meramente moral.
Um dos defensores antigos do Monarquianismo Dinâmico era o bispo de Antioquia no século III, Paulo de Samosata. Surgiu um grande debate entre a Igreja Oriental e a Escola Antioquiana, de um lado, e a Igreja Ocidental e a Escola Alexandrina, de outro lado. O enfoque do debate era o relacionamento entre o Logos e o homem Jesus.
Harold O. I. Brown observa que “a forma que o adocionismo do Monarquianismo Dinâmico encontrou para conservar a unidade da Deidade foi sacrificando a divindade de Cristo”. O Monarquianismo Dinâmico é, portanto, uma tentativa fracassada de sair do labirinto doutrinário, que termina num beco sem saída, em uma heresia.
Paulo de Samosata teve Luciano como sucessor no Monarquianismo Dinâmico. O aluno mais destacado de Luciano era Ário. Este estava por trás da controvérsia ariana que resultou na convocação dos bispos em Nicéia e na elaboração do famoso Credo Trinitariano (325 d.C.). Antes, porém, de considerarmos o Ananismo, examinemos o segundo tipo de Monarquianismo: o Modalismo.


O MONARQUIANISMO MODALÍSTICO: A SEGUNDA TENTATIVA FRACASSADA

As influências principais que estavam por trás do Monarquianismo Modalístico eram o gnosticismo e o neoplatonismo. Os monarquianos modalísticos concebiam o Universo como uma unidade, todo organizado, manifestado numa hierarquia de modos. Os modos (assemelhados a círculos concêntricos) eram considerados vários níveis de manifestações de realidade que emanavam de Deus, “O Único” que existe como “existência pura”, como o Ser Supremo no ponto mais alto da escala hierárquica (influência neoplatônica) .
Os monarquianos modalísticos ensinavam que a realidade diminuía-se a medida que uma emanação se distanciava de “O Único”. Por isso, a categoria mais baixa da existência seria a matéria física do universo. Embora a matéria ainda fosse considerada parte de “O Único”, do qual emana, os modalistas consideravam que ela existia numa forma inferior (influência gnóstica). Pela proposição inversa, pensava-se que a realidade aumentava, ao progredir em direção a “O Único” (também chamado a Mente Divina).
É fácil ver as implicações panteísticas desse conceito da realidade, posto que tudo quanto existe, supostamente tem sua origem nas emanações (modos ou níveis da realidade) da essência do próprio Deus. Alguns modalistas empregavam uma analogia do sol e dos seus raios. Os raios solares são da mesma essência do sol, mas não são o sol. Os modalistas supunham que, quanto mais longe os raios ficam do sol, tanto menos são pura luz solar, e que embora os raios participem da mesma essência do sol, são inferiores a este, sendo meras projeções dele.
A aplicação cristológica dessa cosmovisão identificava Jesus como uma emanação de primeira ordem da parte do Pai, reduzindo-o a um nível abaixo do Pai no tocante a natureza de sua existência ou essência. Embora Jesus fosse considerado a mais sublime ordem de existência a parte de “O Único, Ele não deixava de ser inferior a ele, e dependia dele quanto B sua existência, embora fosse superior aos anjos e a raça humana”
Sabélio (século III) era o maior defensor do monarquianismo modalístico, e o responsável pelo seu maior impacto sobre a Igreja. Originando-se nele a analogia do sol e dos seus raios, negou ser Jesus deidade no mesmo sentido eterno que o Pai o é. Essa idéia levou ao termo teológico homoiousios. O prefixo homoi, significa “semelhante”, e a raiz, ousios, significa “essência”. Sabélio, portanto, argumentava que a natureza do Filho era apenas semelhante à do Pai; não era portanto idêntica à do Pai.
Sabélio foi condenado como herege em 268, no Concílio de Antioquia. A diferença entre homo (“idêntico”) e homoi (“semelhante”) talvez pareça trivial, mas a letra “i” é a diferença fundamental entre as implicações panteísticas do sabelianismo (confundir Deus com a sua criação) e a plena divindade de Jesus Cristo, à parte da qual ficariam grandemente prejudicadas as doutrinas da salvação. O Monarquianismo Modalístico, ao abandonar a plena Divindade e Personalidade de Cristo e do Espírito Santo, foi também uma tentativa fracassada de sair do labirinto doutrinário.


ARIANISMO: A TERCEIRA TENTATIVA FRACASSADA

Embora Ário fosse aluno de Luciano, e, portanto, participasse da linha do Monarquianismo Dinâmico proclamado por Paulo de Samosata, foi alem deles na complexidade teológica. Foi criado em Alexandria, onde também foi ordenado presbítero pouco depois de 311, apesar de ser um discípulo da tradição antioquiana. Nos meados de 318, despertou a atenção de Alexandre, o novo arcebispo de Alexandria. Este o excomungou em 321 por causa de suas opiniões heréticas a respeito da Pessoa, da natureza e da obra de Jesus Cristo.
Ário esforçou-se por ser restaurado à igreja, não por arrependimento, mas a fim de que suas opiniões a respeito de Cristo se tomassem a teologia oficial da Igreja. Nesse esforço, procurou a ajuda de alguns dos seus amigos mais influentes, inclusive Eusébio de Nicomédia e o renomado historiador eclesiástico Eusébio de Cesaréia, bem como vários bispos asiáticos. Continuou ensinando sem a aprovação de Alexandre. Suas especulações provocaram muitos debates e confusão na Igreja.
Pouco depois da excomunhão de Ário, Constantino passou a ser o único imperador de todo o império romano. Constantino ficou muito desgostoso ao descobrir que a Igreja estava vivendo tamanho caos devido a controvérsia ariana que, inclusive, ameaçava a estabilidade política e religiosa do império. Apressou-se então por convocar o primeiro concílio ecumênico, o Concílio de Nicéia, em 325.
Ário ressaltava que Deus Pai é o único Monarca e, portanto, que só Ele é eterno. Deus é “ingênito”. ao passo que tudo o mais, inclusive Cristo, é “gerado”. Ário asseverava, incorretamente, que a idéia de ser “gerado” transmite o conceito de ter sido criado. Ao mesmo tempo, deu-se ao trabalho de separar-se das implicações panteísticas da heresia sabeliana, ao insistir que Deus não tinha nenhuma necessidade interna de criar. Disse, também, que Deus criou uma substância (lat. substantia) independente, que Ele empregou para criar todas as demais coisas. Essa substância independente, primeiramente criada por Deus, acima de todas as outras coisas, era o Filho.
Ário propôs que a incomparabilidade do Filho é limitada ao fato de ser a primeira e maior criação de Deus. A encarnação do Filho é concebida, no pensamento ariano, como a união entre a substância criada (o Logos) com um corpo humano. Ensinava que o Logos ocupava o lugar da alma dentro do corpo humano de Jesus de Nazaré.
Harnack tem razão ao observar que Ário “é monoteísta rigoroso somente no que diz respeito à cosmologia; como teólogo é politeísta”. Ário, noutras palavras, na cosmologia reconhecia uma única Pessoa, que é Deus; mas na prática, estendia a adoração (reservada para Deus somente) a Cristo, o mesmo Cristo que declarara (em outro contexto) ter sido criado.
A cristologia de Ário reduzia Cristo a uma criatura e, como conseqüência, negava a obra salvífica do Filho de Deus. Com isso, o arianismo foi também uma outra tentativa fracassada de sair do labirinto doutrinário. Pelo contrário, entrou por um corredor sem saída.

A ORTODOXIA TRINITARIANA: SAINDO DO LABIRINTO

Trezentos bispos da Igreja Ocidental (alexandrina) e da Igreja Oriental (antioquiana) reuniram-se em Nicéia,” no grande concílio ecumênico, que procuraria definir com precisão teológica a doutrina da Trindade. O propósito do concílio era tríplice: (1) esclarecer os termos usados para articular a doutrina trinitariana; (2) desmascarar e condenar os erros teológicos que estavam presentes em vários seguimentos da Igreja; e (3) elaborar um documento que estivesse em harmonia com os princípios bíblicos e as convicções compartilhadas pela Igreja.
O bispo Alexandre estava pronto para a luta contra Ário. Os arianos estavam confiantes de que seriam vitoriosos. Eusébio de Nicomédia preparou um documento, no qual continha o ponto de vista defendido pelos arianos, que foi confiantemente, apresentado ainda no inicio do concílio. Por ter negado a divindade de Cristo, provocou a indignação da maioria dos presentes que, com firmeza, rejeitou o documento. Em seguida, Eusébio de Cesaréia (que não era ariano, embora fosse representante da Igreja Oriental) elaborou durante o debate um credo que se tomaria o modelo para o Credo de Nicéia.
O bispo Alexandre (e os alexandrinos em geral) ficou muito preocupado com as opiniões de Ano, pois elas poderiam afetar a salvação pessoal, caso Cristo não fosse plenamente Deus no mesmo sentido que o Pai o é. Para levar o homem à plena reconciliação com Deus, argumentava Alexandre, Cristo forçosamente tem de ser Deus.
O Bispo Alexandre reconhecia a linguagem da subordinação no Novo Testamento, especialmente as referências a Jesus como “Unigênito” do Pai. Indicava que o termo “gerado” deve ser entendido do ponto de vista judaico, pois os que empregavam o termo na Bíblia eram hebreus. O uso hebraico do termo visa ressaltar a preeminência de Cristo. (Paulo fala nestes termos, empregando a palavra “primogênito” não com referência à origem de Cristo, mas aos efeitos salvíficos da sua obra de redenção (ver Cl 1,15,18.)
Alexandre respondeu a Ário, argumentando que a condição de o Filho ser o Unigênito é antecedida nas Escrituras, conforme mostra João 1.14 (o Filho é o Unigênito da parte do Pai), que indica que Ele compartilha da mesma natureza eterna de Deus (assim se harmoniza com a “geração eterna” do Filho, segundo Orígenes). Aos ouvidos de Ário, que não se retratou, isso soava como um reconhecimento de que Cristo fora criado. Estava se esforçando desesperadamente por livrar a teologia das implicações modalísticas que, segundo as palavras posteriormente atribuídas ao seu opositor principal, Atanásio, incorriam no perigo de “confundir as Pessoas entre si”. Era, portanto, crucial fazer a distinção entre Cristo e o Pai.
O bispo Alexandre prosseguiu, declarando que Cristo é “gerado” pelo Pai, mas não no sentido de emanação ou criação. Teologicamente, o grande desafio da Igreja Ocidental era a explicação do conceito de homoousia sem cair na heresia modalística.
Atanásio geralmente recebe o crédito de ter sido o grande defensor da fé no Concílio de Nicéia. A parte maior da obra de Atanásio, porém, foi consumada depois desse grande concílio ecumênico.

Atanásio era inflexível, e embora deposto pelo Imperador em três ocasiões durante sua carreira eclesiástica, lutava com valentia em favor do conceito de Cristo ser da mesma
essência (homoousios) que o Pai, e não meramente semelhante ao Pai quanto à sua essência (homoiousios). Durante o seu turno como bispo e defensor da ortodoxia (conforme revelou ser), era praticamente “Atanásio contra o mundo”.
A escola alexandrina acabou triunfando sobre os arianos, e Ário voltou a ser condenado e excomungado. Na fórmula confessionária da doutrina da Trindade em Nicéia, Jesus Cristo é o “Filho Unigênito de Deus; gerado de seu Pai antes da fundação do mundo, Deus de Deus, Luz de Luz, Verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus; gerado, não feito; consubstancial com o Pai”.
Posteriormente, a Igreja viria a empregar o termo “proceder” em lugar de “geração” ou “gerado”, com o propósito de expressar a subordinação salvífica do Filho ao Pai. O Filho procede do Pai. Um tipo de primazia ainda é atribuída ao Pai com relação ao Filho, mas essa primazia não é cronológica; o Filho sempre existiu como o Verbo. Mesmo assim, o Filho foi “gerado” pelo Pai ou “procedeu” do Pai, e não o Pai do Filho.
Esse “proceder” do Filho em relação ao Pai (já no século VIII, chamada “filiação”) é entendido teologicamente como um ato necessário da vontade do Pai, de modo que fique impossível existir o conceito do Filho não provindo do Pai. Daí, a “procedência” do Filho estar eternamente no presente, um ato que perdura, nunca terminando. O Filho, portanto, é imutável (não sujeito a mudança, Hb 13.8), assim como o Pai é imutável (Ml 3.6). A filiação do Filho, certamente, não é no sentido de ter sido gerada outra pessoa com a sua divina essência, pois o Pai e o Filho são igualmente Deidade e, portanto, da “mesma” natureza indivisível. O Pai e o Filho (com o Espírito) existem juntos em subsistência pessoal (o Filho e o Espírito são pessoalmente distintos do Pai na sua existência eterna).
Embora a exposição das complexidades lingüísticas do Credo de Nicéia pareça frustrante para nós hoje, levando-se em conta a distância de 1.600 anos, é importante considerarmos a necessidade crucial de se manter a fórmula paradoxal do Credo de Atanásio: “Um só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade”. A exatidão teológica é critica, pois os termos ousia, hupostasis, substantia e subsistência nos oferecem um entendimento conceptual do que é a ortodoxia trinitariana, como no caso do Credo de Atanásio: “O Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. E, porém, não são três deuses, mas um só Deus”
Entre 361-81, a ortodoxia trinitariana passou por mais refinamentos, mormente no tocante ao terceiro membro da Trindade, o Espírito Santo. Em 381, em Constantinopla, os bispos foram convocados pelo Imperador Teodócio, e as declarações da ortodoxia de Nicéia foram reafirmadas. Além disso, houve menção explícita do Espirito Santo em termos de deidade, como o “Senhor e Doador da vida, procedente do Pai e do Filho; o qual, com o Pai e o Filho juntamente é adorado e glorificado; o qual falou pelos profetas”.
O título “Senhor” (gr. kurios), empregado nas Escrituras em alguns textos para atribuir e explicitar a divindade, é destinado aqui (no Credo de Nicéia-Constantinopla) ao Espírito Santo. Logo, aquEle que procede do Pai e do Filho ao 15.26) subsiste pessoalmente desde a eternidade dentro da Deidade, sem divisão ou mudança quanto a sua natureza (Ele é essencialmente homoousios com o Pai e o Filho).
As propriedades pessoais (as operações interiores de cada Pessoa dentro da Deidade) atribuídas a cada um dos membros da Trindade são assim entendidas: o Pai é ingênito; o Filho é gerado; e o Espírito Santo procede dEles. A insistência nessas propriedades pessoais não é tentar explicar a Trindade, mas fazer a distinção entre as fórmulas ortodoxas trinitarianas e as fórmulas heréticas modalísticas.
As distinções entre os membros da Deidade não se referem a sua essência ou substância, mas ao relacionamento. Noutras palavras: a ordem de existência na Trindade, no tocante ao ser essencial de Deus, está espelhada na Trindade salvífica. “São, portanto, três, não na posição, mas no grau; não na substância, mas na forma; não no poder, mas na sua manifestação”.
O processo contínuo da pesquisa da natureza do Deus vivo cede lugar, a essa altura, à adoração. Juntamente com os apóstolos, os pais da igreja, os mártires e os maiores teólogos no decurso da história da Igreja, temos de reconhecer que “toda a boa teologia termina com uma doxologia” (cf. Rm 11.33-36). Considere esse hino clássico de Reginald Heber:

Santo! Santo! Santo! Deus Onipotente!
Tuas obras louvam teu nome com fervor;
Santo! Santo! Santo! Justo e compassivo!
És Deus triúno, excelso Criador!


RESUMO SOBRE AS OPINIÕES DE IMPORTANTES
FILÓSOFOS E TEÓLOGOS SOBRE A TRINDADE

1. Orígenes: no século III D.C. ele brincou-nos com uma formulação ortodoxa da Trindade, antes dela, tornar-se generalizada na Igreja cristã. Em sua opinião, o Filho e o Espírito Santo, embora da mesma essência do Pai, são-Lhe subordinados quanto à posição.

2. Plotino: advogava uma doutrina trinitariana segundo a qual concebia o Um, o Nous e a Alma do Mundo, como seus três elementos. Emanações seriam a explicação para o problema da manifestação e das relações existentes na criação. Algumas de suas declarações anteciparam fórmulas cristãs posteriores.

3. Sabélio: acreditava em uma forma de unitarismo, dizendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam sucessivas manifestações desse Ser, cumprindo os diferentes papéis de Criador, Redentor e Doador da Vida.

4. Ário; rejeitava o conceito que afirma que o Filho é da mesma natureza do Pai (homoousia), mas promovia a idéia de que o Filho era de natureza similar (homoiousia) à do Pai. Ver sobre Arianismo.

5. O concílio de Nicéia declarou-se oficialmente em favor da idéia da “mesma natureza” o que fez o trinitarianismo tornar-se a posição ortodoxa. Isso ocorreu em cerca de 325 D. C.

6. Os capadócios: Gregório de Nissa e Gregório Nazianzeno, trabalharam em fórmulas ortodoxas da Trindade, e a declaração resultante foi oficializada pelo concílio de Constantinopla, em 381 D. C. Essa declaração asseverava que os membros da Trindade são três hipóstases de uma só e de uma mesma essência divina.

7. Agostinho: ensinava que a Trindade é refletida no ser humano, porque o homem foi criado à imagem de Deus. A contraparte humana de Deus ele via no ser, no conhecimento e no amor, bem como em atributos divinos.

8. Anselmo: dizia que a mente racional do homem é a imagem da Trindade do homem. Com base nisso, todas as formas de verdade podem ser conhecidas, sem qualquer investigação empírica.

9. Gilberto de Poitiers: falava acerca da Unidade de Deus em um Ser Puro, mas também dizia que Deus é Triúno, em uma espécie diferente de análise.

10. Tomás de Aquino: aceitava a ação do trinitarismo ortodoxo, afirmando, porém, que essa noção só pode ser aceita pela fé, visto que não há qualquer explicação racional para a mesma.


FILÓSOFOS E TEÓLOGOS QUE FIZERAM VÁRIAS OBJEÇÕES
À DOUTRINA ORTODOXA SOBRE A TRINDADE


1. Jacó Boehme: aceitava essa doutrina, mas fazia-a derivar-se do estado primeiro de onde teriam procedido todos os seres. Na verdade, algumas de suas expressões eram claramente panteístas, conforme verifica-se com a maior parte dos místicos que se deixa envolver pela idéia da Unidade de todas as coisas.

2. John Milton: cria que o Filho e o Espírito Santo soa seres criados pelo Deus único, pelo que não seriam iguais a ele, nem quanto à natureza e nem quanto à posição.

3. Sweedenborg: dava valor ao trinitarismo ortodoxo, mas também levava em conta várias trindades importantes na fé religiosa, como os três graus do ser, na pessoa de Deus.

4. Schelling: seguia Boehme na crença que a Trindade teria evoluído a partir de um estado primeiro.

5. Feuerbach: pensava que a Trindade é uma projeção do próprio homem, uma tentativa para explicar a infinitude através de suas faculdades da razão, da vontade e do amor.

6. Jung: pensava que a quaternidade, e não a trindade, é que é o símbolo religioso básico e apropriado.

7. Outras trindades e tríades: é deveras surpreendente observar quantas fés religiosas, desde os tempos mais remotos têm desenvolvido a idéia das tríades divinas. Temos apresentado uma detalhada apresentação sobre esse fato, no artigo intitulado Tríades (Trindades) na Religião. Parece estar em foco um conceito primitivo, comum a todos os homens, e que se foi retirando em diversas culturas, ao longo da história da humanidade.

A TRINDADE E A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

As opiniões não trinitarianas, tais como o modalismo e o arianismo, reduzem a doutrina da salvação a uma charada divina. Todas as convicções cristãs básicas que se centralizam na obra da Cruz pressupõem a distinção pessoal dos membros da Trindade. Refletindo, podemos perguntar se é necessário crer na doutrina da Trindade para ser salvo. A resposta histórica e teológica é que a Igreja não tem usualmente exigido uma declaração explícita de fé na doutrina da Trindade para a pessoa ser batizada. Mas a igreja certamente espera uma fé implícita no Deus Trino e Uno como aspecto essencial do nosso relacionamento pessoal com os papéis distintivos de cada uma das Pessoas da Deidade, na obra salvífica em prol da humanidade.
A doutrina da salvação (inclusive a reconciliação, a propiciação, a redenção, a justificação e a expiação) depende da cooperação dos membros distintivos do Deus Trino e Uno (Ef. 1.3-14), Por isso, renunciar deliberadamente a doutrina da Trindade ameaça gravemente a nossa esperança de salvação pessoal. As Escrituras incluem todos os membros da raça humana na condenação universal do pecado (Rm 3.23), e por isso, todos “precisam da salvação; a doutrina da salvação, requer um Salvador adequado, ou seja: uma cristologia adequada. Uma cristologia sadia exige um conceito satisfatório de Deus, isto é, uma teologia especial e sadia - que nos traz de volta a doutrina da Trindade”.
O conceito modalístico da natureza de Deus deixa totalmente abolida a obra mediadora entre Deus e as pessoas. A reconciliação (2 Co 5.18-21) subentende deixar de lado a inimizade ou a oposição. Qual inimizade é deixada de lado? As Escrituras revelam que Deus está em inimizade contra os pecadores (Rm 5.9), e que as pessoas, nos seus pecados, também estão em inimizade contra Deus (Rm 3.10-18; 5.10).
O Deus Trino e Uno é revelado na Bíblia de modo explícito na redenção dos pecadores e na sua reconciliação com Deus. Deus “envia” o Filho ao mundo (Jo 3.16,17). A sombra do Calvário, Jesus se submete com obediência a vontade do Pai: “Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.39). O relacionamento sujeito-objeto entre o Pai e o Filho fica claramente evidente aqui. O Filho suporta a vergonha do madeiro maldito trazendo a paz (reconciliação) entre Deus e a humanidade (Rm 5.1; Ef 2.13-16). Enquanto a vida se esgota rapidamente do seu corpo, Jesus, no Calvário, olha para o céu, e pronuncia suas últimas palavras: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.a6). Se duas pessoas distintivas não forem reveladas aqui, no ato salvífico da cruz, esse evento seria uma mera charada de um único Cristo (que só poderia ser neurótico).
No Modalismo, o conceito da morte de Cristo como uma satisfação infinita está perdido. O sangue de Cristo é o sacrifício pelos nossos pecados (1 Jo 2.2). A doutrina de propiciação tem a conotação de um aplacar ou evitar a ira mediante um sacrifício aceitável. Cristo é o Cordeiro sacrificial de Deus (Jo 1.29). Por causa de Cristo, a misericórdia de Deus é oferecida em vez da ira que merecemos por causa dos nossos pecados. Sugerir, porém, como faz o Modalismo, que Deus é uma só Pessoa e que faz de si mesmo a si mesmo uma oferta pelo pecado, estando Ele ao mesmo tempo irado e misericordioso, deixa parecer que Ele é caprichoso. Noutras palavras: a Cruz seria um ato sem sentido no que diz respeito ao conceito de uma oferta pelo pecado.
O apóstolo João identifica Jesus como nosso Paracleto (ajudador ou conselheiro). Temos, portanto, alguém que fala com o Pai em nossa defesa (1 Jo 2.1). Agir assim pressupõe um Juiz que é diferente do próprio Jesus, antes de Ele desempenhar semelhante papel. Porque Cristo é o nosso Paracleto: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (Jo 2.2). Temos, portanto, plena segurança da nossa salvação porque Cristo, nosso Ajudador, é também a nossa Oferta pelo pecado.
Jesus veio ao mundo não “para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). O conceito de “resgate” e de suas palavras cognatas nas Escrituras é usado com referência a um pagamento que garante a libertação de presos. A quem Cristo pagou o resgate! Se for negada a doutrina ortodoxa da Trindade (negando-se uma distinção entre as Pessoas da Deidade, conforme o quer o Modalismo), Cristo teria de ter pago o resgate ou à raça humana ou a Satanás. Posto que a humanidade está morta em transgressões e em pecados (Ef 2.1), nenhum ser humano teria o direito de exigir que Cristo lhe pagasse resgate. Sobraria, portanto, Satanás para fazer a extorsão de Cristo, em nível cósmico. Nós, porém, nada devemos a Satanás. E a idéia de Satanás exigir resgate pela humanidade é blasfêmia, por causa das suas implicações dualistas (a idéia de que Satanás possui poder suficiente para extorquir de Cristo a própria vida deste; ver João 10.15-18).
Pelo contrário: o resgate foi pago ao Deus Trino e Uno para satisfazer as plenas reivindicações da justiça divina contra o pecador caído. Tendo o Modalismo rejeitado o trinitarianismo, a heresia modalística perverte, de modo correspondente, o conceito da justificação. Embora mereçamos a justiça de Deus, somos justificados pela graça mediante a fé em Jesus Cristo somente (1 Co 6.11). Tendo sido justificados (tendo sido declarados sem culpas diante de Deus) mediante a morte e ressurreição de Jesus, somos, portanto, declarados justos diante de Deus (Rm 4.5,25). Cristo declara que o Espirito é “outra” Pessoa distinta de si mesmo, porém do “mesmo tipo” (allon, Jo 14.16). O Espirito Santo emprega a obra do Filho no novo nascimento (Tt 3.5), santifica o cristão (1 Co 6.11) e nos dá acesso (Ef 2.18), mediante o nosso Grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo (Hb 4.14-16), a presença do Pai (2 Co 5.17-21).
Um Deus que muda inteiramente seus atos é contrário a revelação da natureza imutável do Todo-Poderoso (M13.6). Semelhante Modalismo é deficiente no que diz respeito salvação, pois nega a alta posição sumo-sacerdotal de Jesus Cristo. As Escrituras declaram que Cristo é o nosso intercessor divino a destra de Deus, nosso Pai (Hb 7.23-8.2).
Fica claro que a doutrina essencial da expiação vicária, na qual Cristo carregou nossos pecados na sua morte, depende do conceito trinitariano. O Modalismo subverte o conceito bíblico da morte penal e vicária de Cristo como satisfação da justiça de Deus e, em última análise, anula a obra da Cruz.
A cristologia ariana é condenada pelas Sagradas Escrituras. O relacionamento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo fundamenta-se na natureza divina que compartilham entre si, e que, em última análise, é explicada em termos da Trindade. “qualquer que nega o Filho também não tem o Pai; e aquele que confessa o Filho tem também o Pai” (1 Jo 2.23). O reconhecimento apropriado do Filho requer a fé na sua divindade, bem como na sua humanidade. Cristo, como Deus, é suficiente para satisfazer a justiça do Pai; como homem, Ele cumpriu a responsabilidade moral da humanidade diante de Deus. Na obra da Cruz, a justiça e a graça de Deus nos são reveladas. A eterna perfeição de Deus e as imperfeições pecaminosas da humanidade são reconciliadas mediante o Deus-Homem, Jesus Cristo (G1 3.11·13). A heresia ariana, na sua negação da plena divindade de Cristo, está sem Deus Pai (1 Jo 2.23) e, portanto, sem nenhuma esperança de vida eterna.

A NECESSIDADE TEOLÓGICO-FILOSÓFICA DA TRINDADE


As propriedades (qualidades inerentes) eternas e a perfeição absoluta do Deus Trino e Uno são decisivas para o conceito cristão da soberania de Deus sobre a sua criação. Deus, sendo Trindade, é completo em si mesmo (soberano), e, consequentemente, a criação é um ato livre de Deus, e não uma ação necessária de sua existência. Por essa razão, “antes de ‘no princípio’ existia algo diferente de uma situação estática”.
A fé cristã oferece uma revelação clara e compreensível de Deus, proveniente de fora da esfera do tempo, pois Deus, como Trindade, tem desfrutado de eterna comunhão e comunicação entre suas três Pessoas distintas. O conceito de um Deus pessoal e que se comunica, desde toda a eternidade, está arraigado na teologia trinitariana. Deus não existia em silêncio e de forma estática para então, certo dia, optar por romper a tranqüilidade daquele silêncio e falar. Pelo contrário: a comunhão eterna dentro da Trindade é essencial para o conceito da revelação. (A alternativa de um Ser divino solitário que murmura de si para si na sua solidão é um pouco inquietante.) O Deus Trino e Uno tem se revelado à humanidade, dentro da humanidade, de modo pessoal e proposicional.
A personalidade de Deus, como Trindade, também é a fonte e significado da personalidade humana. “Sem semelhante fonte”, observa Francis Schaeffer, “sobra tão-somente para os homens uma personalidade que provém do impessoal (com o acréscimo do tempo e do acaso)”. Por toda a eternidade, o Pai amava o Filho, o Filho amava o Pai, e o Pai e o Filho amavam o Espírito. “Deus é amor” (Jo 4.16). Logo, o amor é um atributo eterno. Por definição, o amor é necessariamente compartilhado com outro, e o amor de Deus é um amor que fez que com Ele doasse a si mesmo. Por isso, o amor eterno dentro da Trindade outorga sentido real ao amor humano (1 Jo 4.17).


B I B L I O G R A F I A

BRITO, Robson J. Anotações Particulares, Maringá, de 1990 a 1999.


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