11 de abr. de 2010
FALSOS PROFETAS
Desde a queda no pecado existem brigas, ódio, assassinatos, homicídios, inveja, falsidade e engano. O autor do livro de Eclesiastes escreveu com razão: “...nada há que seja novo debaixo do sol” (Ec 1.9).
Já na época de Jeremias havia profetas pouco sóbrios, irrealistas e falsos, que desencaminhavam o povo com profecias enganosas. Mesmo quando as nuvens da tempestade do juízo se ajuntavam mais densas do que nunca sobre Jerusalém, eles acalmavam o povo. Suas declarações eram muito positivas e soavam edificantes, até mesmo encorajadoras aos ouvidos das pessoas. Eles prometiam muito, inclusive a vitória.
Em comparação, os ouvintes recebiam as mensagens de Jeremias como destrutivas, austeras e deprimentes, e só percebiam nelas a perspectiva do juízo. Tratava-se da justiça de Deus e da injustiça do povo, da sua falta de arrependimento e conversão. Como Jeremias deve ter se sentido diante deles?
O falso profeta Hananias apresentava uma “mensagem maravilhosa” e tinha a ousadia, e até mesmo a insolência, de proclamá-la abertamente: “No mesmo ano, no princípio do reinado de Zedequias, rei de Judá, isto é, no ano quarto, no quinto mês, Hananias, filho de Azur e profeta de Gibeão, me falou na Casa do Senhor, na presença dos sacerdotes e de todo o povo, dizendo: Assim fala o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, dizendo: Quebrei o jugo do rei da Babilônia. Dentro de dois anos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os utensílios da Casa do Senhor, que daqui tomou Nabucodonosor, rei da Babilônia, levando-os para a Babilônia. Também a Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, e a todos os exilados de Judá, que entraram na Babilônia, eu tornarei a trazer a este lugar, diz o Senhor; porque quebrei o jugo do rei da Babilônia” (Jr 28.1-4). A isso Jeremias respondeu: “Disse, pois, Jeremias, o profeta: Amém! Assim faça o Senhor; confirme o Senhor as tuas palavras, com que profetizaste, e torne ele a trazer da Babilônia a este lugar os utensílios da Casa do Senhor e todos os exilados. (...) O profeta que profetizar paz, só ao cumprir-se a sua palavra, será conhecido como profeta, de fato, enviado do Senhor” (vv. 6,9). Hananias não ficou nem um pouco impressionado, mas fez o seguinte: “Então, o profeta Hananias tomou os canzis do pescoço de Jeremias, o profeta, e os quebrou; e falou na presença de todo o povo: Assim diz o Senhor: Deste modo, dentro de dois anos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, de sobre o pescoço de todas as nações. E Jeremias, o profeta, se foi, tomando o seu caminho” (vv. 10-11). Para Jeremias a única opção era o afastamento. Mas o Senhor orientou-o para que voltasse até Hananias e lhe dissesse, entre outras coisas: “...O Senhor não te enviou, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras. Pelo que assim diz o Senhor: Eis que te lançarei de sobre a face da terra; morrerás este ano, porque pregaste rebeldia contra o Senhor. Morreu, pois, o profeta Hananias, no mesmo ano...” (vv. 15-17). Todas as profecias mentirosas de Hananias foram soterradas pela areia da fantasia, pois Jerusalém foi definitivamente conquistada e todos os utensílios foram retirados do templo.
A mensagem de exortação do evangelho não é mencionada, e em vez disso espalha-se um evangelho do “sentir-se bem”.
Em uma carta, Jeremias teve de escrever o seguinte aos líderes de Israel e a todo o povo que Nabucodonosor tinha levado para a Babilônia: “Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor” (Jr 29.8-9). É interessante a proximidade significativa entre as falsas profecias e a adivinhação.
A situação hoje não é muito diferente: profecias bíblicas estão para se cumprir. A princípio as perspectivas não são boas, pois as nuvens da tribulação que se aproxima estão cada vez mais densas. Estamos cercados por más notícias. Indo de encontro a isso, prega-se em muitos lugares um evangelho puramente “positivo”, que ignora esses fatos e é recebido com atenção crescente:
– Avivamentos e curas são prometidos em larga escala. E embora, depois das reuniões, os doentes sejam tirados dos palcos ainda nas mesmas cadeiras de rodas nas quais chegaram, quase ninguém nota isso. O importante é o show!
– Faz-se do pecado algo inofensivo e fortalece-se a fé em si mesmo.
– A mensagem de exortação do Evangelho não é mencionada, e em vez disso espalha-se um evangelho do “sentir-se bem”.
Menciono alguns paralelos:
As advertências dos apóstolos são claras em relação aos últimos tempos, e não podemos negar que elas sejam cada vez mais pertinentes aos nossos dias:
“Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo” (2 Co 11.13).
“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras...” (2 Pe 2.1).
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1 Jo 4.1).
“Porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos” (Rm 16.18).
As maiores heresias, opiniões equivocadas e seitas surgiram pela interpretação errada da Palavra de Deus.
Mas não devemos apontar para os outros sem olhar para nós mesmos, antes queremos aceitar essas exortações para nossa própria vida.
É claro que o Senhor pode falar de forma muito pessoal conosco por meio de uma palavra qualquer; provavelmente todo cristão pode testemunhar que isso acontece, alegrando-se com esse fato. Ainda assim não podemos aplicar os versículos bíblicos de forma aleatória e tola à nossa própria situação. Um exemplo: há algum tempo precisei ir com urgência à cidade de Hannover para conduzir um funeral. A previsão do tempo era a pior possível, havia alerta de tempestade, fortes nevascas, as ruas estavam escorregadias e os vôos estavam muito atrasados ou eram até cancelados. Alguns irmãos na fé aconselharam-me a não voar de jeito nenhum; seria muito melhor se eu viajasse com o trem noturno. Quanto mais eu prestava atenção aos amigos e ao meu próprio amedrontamento, mais inseguro ficava. Naquela noite tivemos uma reunião de oração. Alguns minutos antes do início abri minha Bíblia na esperança de, talvez, encontrar uma resposta ali. Meu olhar caiu sobre Lamentações 1.1-2: “...Tornou-se como viúva... Chora e chora de noite, e as suas lágrimas lhe correm pelas faces; não tem quem a console...” Lembrei da minha esposa – e fiquei ainda mais inseguro. Será que eu deveria viajar de avião? Conversei com ela em casa e ela disse que, em sua opinião, eu deveria voar despreocupadamente, pois voltaria são e salvo para casa. E, graças a Deus, foi o que aconteceu.
Essa insegurança pode surgir quando arrancamos as passagens de seu contexto. É preciso estar atento para que tudo aquilo que ensinamos, pregamos ou aprendemos em nossa “hora silenciosa” corresponda ao fundamento bíblico e não seja arrancado de seu contexto. A Palavra de Deus não pode ser simplesmente moldada a fim de confirmar nossa opinião pré-concebida. Infelizmente, algumas traduções, versões ou comentários da Bíblia não raro são adaptadas a certas tradições. Tenta-se manter e endurecer opiniões tradicionais próprias por meio de versículos bíblicos. Mas assim a Bíblia é rebaixada a objeto e nós mesmos nos elevamos à condição de sujeitos. Basta lembrar da questão do sábado, da observação das festas e feriados judaicos, da ingestão de alimentos, do batismo e de outros temas semelhantes. Não importa se parece positivo ou negativo: se não corresponder ao ensino geral da Escritura Sagrada, não vale nada. Mesmo o diabo tentou fazer com que Jesus caísse usando versículos da Palavra de Deus arrancados de seu contexto (Mt 4.3ss). E, como ele fazia e ainda continua fazendo isso, tudo o que ele diz é mentira, mesmo se referindo à Palavra de Deus.
As maiores heresias, opiniões equivocadas e seitas surgiram pela interpretação errada da Palavra de Deus.
Mais um exemplo de como não se deve agir: um filho de Deus querido e devotado às vezes sofre com pensamentos depressivos. Durante uma dessas fases ele teve dúvidas acerca da certeza de sua salvação. Ele conta que pensou várias vezes nos versículos de Hebreus 12.16-17, que dizem: “nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado”. Mas no caso de Esaú não se tratava de um filho de Deus que tinha pecado, mostrado contrição e, ainda assim, se perdido. Não: Esaú era antes de mais nada um ímpio, que vivia dessa forma e tinha desprezado conscientemente o seu direito à primogenitura. Esaú estava muito próximo da promessa destinada a ele, mas a rejeitou com desprezo, não a considerou e nem tomou posse dela. Mais tarde ele também quis herdar uma bênção, mas não era a bênção de Deus. As lágrimas de Esaú não foram derramadas em contrição. Ao contrário, ele tentou obter a bênção por meio de lágrimas – sem arrependimento. O caso de Judas foi parecido, pois ele sentiu remorso, mas não se arrependeu (Mt 27.3-5, veja também 2 Co 7.10).
Em outro trecho, a Bíblia diz a respeito de Esaú: “Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Rm 9.13). Isso significa que não havia nada em Esaú que o Senhor pudesse ter amado: nenhuma sinceridade, nem um pingo de integridade ou de busca pelo favor do Senhor, bem ao contrário de Jacó, que no auge do sofrimento de sua alma orou: “...Não te deixarei ir se me não abençoares” (Gn 32.26). É assim que a ira de Deus se manifestou contra Esaú e permanece sobre qualquer pessoa que rejeita a fé em Jesus (cf Jo 3.36).
Portanto, a questão não é se um nascido de novo pode se perder, mas que uma pessoa que não nasceu de novo, que vive sem Deus, que está perto da redenção (como Esaú) e tem a promessa, perde a salvação porque, em última instância, rejeita a opção e não a aceita para si. Muitos judeus, a quem a Epístola aos Hebreus fora dirigida, só se importavam com as bênçãos, isto é, as vantagens do cristianismo (Hb 10.29), mas não com Jesus. Aquele que permanece indiferente a Jesus Cristo, a indizível dádiva de Deus, comete um erro que não poderá ser perdoado nem na eternidade!
Fonte: Chamada da Meia Noite
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