Ló, o Sobrinho de Abraão — Apesar de Tudo, um Santo de Deus
Não se deve julgar um livro pela sua capa!!
Como
vemos registrado em Gênesis 11:27, o patriarca Abraão tornou-se tio
quando seu irmão Harã teve um filho. A criança recebeu o nome de Ló (que
em hebraico significa "cobertura") e no verso 28 ficamos sabendo que
seu pai morreu antes de a família se mudar de Ur dos caldeus (uma cidade
que estaria situada no atual Iraque). A partir do relato do capítulo 12
em diante, parece que Abrão assumiu o papel de pai de Ló:
"Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra." [Gênesis 12:1-3; ênfase adicionada].
Precisamos observar que o chamado de Deus a Abrão (a
quem Deus renomeou como Abraão) precedeu a mudança original da família
da cidade de Ur para a terra de Canaã [11:31]. No verso 1 do capítulo
12, Deus disse a Abrão para deixar sua terra, sua parentela e a casa de
seu pai. Mas, aparentemente, quando Abrão informou seu pai Terá de sua
intenção de partir, Satanás entrou no quadro! Por que digo isso se a
narrativa nada diz? Simplesmente por que as ações subseqüentes de Terá
"telegrafam" essa mensagem. Pense nisto — Terá teve três filhos, o mais
novo dos quais está agora morto (Harã) e o mais velho (Abrão) recebeu a
visitação de um "deus" (como o pagão Terá deve ter imaginado) e está
agora decidido a deixar toda a família para trás e se mudar para um
lugar distante mais de 1.500 km! Assim, para lidar com esse dilema, Terá
decide também deixar tudo para trás — incluindo Naor, o filho do meio e
a família dele — e partir com Abrão para um futuro muito incerto. Dizer
que isso vai contra o senso comum seria uma suavização. Em seguida,
Terá (cujo nome, de forma muito apropriada, significa "atraso")
atrapalha Abrão indo somente um pouco mais da metade do caminho para
onde Deus o estaria levando. Seguindo a rota conhecida como "crescente
fértil", que era regada pelos rios Tigre e Eufrates — áreas verdes no
meio de regiões áridas — eles chegaram até as nascentes e Terá decidiu
parar e se estabelecer naquele local.
Então, uma vez que eles armaram suas tendas, parece
provável que o velho homem deu ao novo local de residência um nome em
homenagem ao seu filho que tinha morrido. Embora eles já tivessem
viajado uma boa distância — ainda estavam bem longe do local em que Deus desejava que Abrão se estabelecesse.
Abrão tinha sido especificamente escolhido dentre todos os homens e
Satanás certamente tomou nota disso. O objetivo de Deus de prover um
Salvador foi revelado no Jardim do Éden [Gênesis 3:15] — naquilo que os
teólogos chamam de "proto-evangelho" — o protótipo da mensagem do
evangelho. Se olharmos com atenção, descobriremos que em todo o Antigo
Testamento, Satanás fez muitas tentativas para estorvar esse plano,
estando este incidente claramente entre eles.
Quanto tempo eles passaram em Harã não é indicado no
texto bíblico, mas sabemos que Abrão tinha 75 anos quando finalmente
reiniciou sua jornada após a morte de seu pai [12:4]. Não há dúvidas que
o atraso veio como resultado da obediência à vontade de seu pai
terreno, mas os anos em Harã foram desperdiçados por que a obediência ao
chamado celestial estava incompleta. Somente quando fazemos exatamente
aquilo que Deus nos diz é que podemos esperar receber um galardão
completo. E não se engane a respeito disto — o Diabo usará nosso amor
à família para se opor à vontade de Deus para nossas vidas, se
permitirmos que ele faça isso.
Finalmente, Abrão reuniu sua família — incluindo seu
sobrinho Ló — e continuou o processo de separação, conforme Deus o tinha
instruído anos antes. Veja: o povo de Ur, a cidade natal de Abrão — bem
como seu pai e a família ampliada — não eram adoradores de Jeová. Eles
eram politeístas, pois adoravam muitos deuses e rotineiramente se
inclinavam diante deles. Portanto, o intento de Deus era afastar Abrão
desse ambiente espiritualmente decaído para o lugar de bênçãos — a terra
de Canaã.
À medida que a jornada de Abrão continuou, vemos que
ele cresceu espiritualmente à medida que lapsos de discernimento
ensinaram-lhe preciosas lições. Mas, em geral, sua vida foi
caracterizada pela retidão. [Gênesis 15:6].
Entretanto, quando consideramos seu sobrinho Ló,
encontramos um agudo contraste no modo como eles viveram suas vidas!
Como muitos cristãos hoje em dia, Ló amava as coisas deste mundo e fazia
tudo o que podia para "ser alguém". Em vez de imitar o exemplo de seu
tio piedoso e depender do Senhor para suprir todas suas necessidades,
ele exibia uma atitude de ingratidão. Os versos 5 e 6 do capítulo 13 nos
dizem que Ló foi grandemente abençoado enquanto permaneceu com Abraão:
"E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos." [Gênesis 13:5-6].
Mas logo ele quis mais e quando Abrão gentilmente
permitiu que ele escolhesse que parte da terra ele queria, Ló
aproveitou-se da oportunidade e escolheu a melhor — "a campina do
Jordão", que o verso 10 chama de "jardim do Senhor" por causa de sua
beleza comparável ao Jardim do Éden. Entretanto, existiam espinhos
naquela bela rosa que Ló não reconheceu! As cidades extremamente ímpias
de Sodoma e Gomorra estavam situadas ali e em breve "Ló armou suas
tendas até Sodoma". [verso 12].
Como alguém já disse: "Deus opera de formas
misteriosas suas maravilhas" e nos versos 14-18 encontramos uma pista
que nos mostra que a separação de Ló de Abrão era a vontade de Deus —
por que a aliança de Deus só foi estabelecida depois que Ló partiu:
"E disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada. Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei. E Abrão mudou as suas tendas, e foi, e habitou nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao SENHOR." [Gênesis 13:14-18].
Essa promessa feita a Abrão (a quem Deus mais tarde renomeou como Abraão) é chamada de "Aliança com Abraão" e é incondicional.
Não existiam "cordões amarrados" com base em Abrão ser um bom menino e
comer seus legumes. Não, isso significa exatamente aquilo o que diz e é
uma aliança eterna e incondicional prometida à maior de todas as
sementes de Abraão — Jesus Cristo e todos os Seus eleitos — começando
com os eleitos entre os judeus. (E o remanescente eleito de crentes
judeus hoje — juntamente com os eleitos entre os gentios — ambos
estando "em Cristo" [Efésios 1:4] — agora são herdeiros da terra de
Canaã, que o mundo chama de Palestina!)
"Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo." [Gálatas 3:16]."Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego." [Romanos 1:16; ênfase adicionada]."Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego." [Romanos 2:10].
Em seguida, no capítulo 14, ficamos sabendo que Ló e
sua família foram tomados cativos pelos exércitos de quatro reis
confederados que atacaram Sodoma e Gomorra. Quando Abrão ficou sabendo o
que tinha acontecido, imediatamente reuniu 318 de seus servos e
perseguiu os invasores até que os alcançou em Dã — uma localidade
situada no extremo norte de Canaã. Abrão dividiu seu pequeno "exército"
em duas unidades e surpreendeu a força muito superior atacando-a à
noite. Os reis foram mortos e todos os cativos e seus bens foram
recuperados, mas Ló obviamente não aprendeu a lição — porque voltou
direto para Sodoma! Na próxima vez que o encontramos, o texto diz que
ele estava na porta da cidade [Gênesis 19:1]. Há um velho adágio que diz
mais ou menos assim: "Uma vez que o camelo ponha seu nariz para dentro
da tenda, a próxima coisa que você saberá é que poderá encontrar o
camelo dentro da tenda!" Ló começou a "armar suas tendas até Sodoma",
que é uma metáfora para dizer que ele cobiçou as coisas do mundo. Em
seguida, ele continuou se aproximando cada vez mais com o passar do
tempo, até que finalmente se mudou e se estabeleceu naquela cidade
extremamente ímpia. E agora, pelo fato de estar sentado à porta da
cidade, podemos saber que ele tinha se tornado um político — um líder
daquela comunidade! Havia um costume de os anciãos assentarem-se à porta
da cidade para ouvir e julgar as disputas jurídicas entre o povo.
Assim, nosso amigo Ló é agora uma figura importante naquela cidade e
está totalmente integrado na vida secular de Sodoma. Mas o que ele
ignora é que Deus tinha aparecido anteriormente a Abrão (no capítulo 18)
e dito que as cidades de Sodoma e Gomorra seriam destruídas por causa
de sua impiedade. Bem, Abrão ainda ama seu sobrinho e tenta
imediatamente interceder com Deus em um esforço de salvar Ló e sua
família da destruição. Ao negociar com Deus como seu amigo [Tiago 2:23], ele consegue fazer Deus dizer que pouparia a cidade se encontrasse apenas dez justos nela.
Sabemos que a família de Ló consistia de pelo menos
dez pessoas por causa do número final que Abrão buscou — (Ló, sua
mulher, duas filhas ainda solteiras, e pelo menos duas filhas casadas
[19:14 — em que "filhas" está no plural] e seus maridos, e talvez
filhos?). Mas, de qualquer maneira, os eventos subseqüentes provam que os dez justos não foram encontrados
— e esse fato fala muito claramente sobre a falta de testemunho de Ló
com sua família. Quando ele advertiu seus genros a fugirem, foi tido por
zombador aos olhos deles. [verso 14].
Assim, os anjos que foram enviados para destruir as
cidades então apressaram Ló para pegar sua mulher e as duas filhas e
fugir para salvarem suas vidas. "Sendo-lhe o Senhor misericordioso"
(verso 16), os anjos literalmente os pegaram pelas mãos e os tiraram da
cidade — instruindo-os a escaparem para o monte para que não perecessem
com as cidades. E para mostrar a gravidade do declínio espiritual de Ló,
em vez de escapar para o monte, ele pede permissão para fugir para a
pequena cidade de Zoar, que estava ali perto. Exasperado, o anjo
concorda em poupar Zoar para que Ló e sua família possam se abrigar ali
(verso 21). Em seguida, no verso 22, encontramos um tremendo princípio
da Palavra de Deus:
"Apressa-te, escapa-te para ali; porque nada poderei fazer, enquanto não tiveres ali chegado. Por isso se chamou o nome da cidade Zoar." [Gênesis 19:22; ênfase adicionada].
Os anjos vingadores de Deus não estavam autorizados a
executar o julgamento até que aqueles que estavam sob a proteção de
Deus fossem postos em segurança. Mas era essa proteção unicamente devido à intercessão de Abrão? Fique ligado...
Anteriormente, os anjos tinham instruído Ló e sua
família a não olharem para trás (verso 17) e eles fugiram para Zoar.
Assim que Ló entrou na cidade — "o SENHOR fez chover enxofre e fogo, do SENHOR, desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra"
— destruindo totalmente as cidades da planície, com a única exceção de
Zoar, escolhida como refúgio por Ló e sua família. Mas a irresistível
atração daquilo que o pecado tem a oferecer dominava a mulher de Ló e
ela não conseguia deixar de pensar em seus bens que ficaram em Sodoma.
Por causa dessa desobediência, ela foi instantaneamente convertida em
uma coluna de sal [verso 26]. O livramento estava tão perto, mas por
cobiçar as coisas do mundo ela também pereceu.
O que aconteceu em seguida é repugnante, mas retrata
vividamente como Ló tinha ensinado pouco à sua família sobre os valores
espirituais — as coisas que ele sem dúvida alguma aprendeu quando viveu
com seu piedoso tio Abrão — mas deixou de transmitir para seus próprios
familiares.
Temendo por sua vida, Ló levou suas duas filhas para o
monte e foi morar em uma caverna. Algum tempo depois, a filha mais
velha "teve uma idéia" (e sabemos com quem essa idéia se originou, não
sabemos? — o mesmo que quis atrapalhar quando Abrão tentou se separar do
mundo e de sua parentela em Ur dos caldeus!) Ela disse à irmã mais nova
que as possibilidades de elas se casarem e terem filhos eram remotas,
de modo que para a árvore genealógica da família sobreviver — elas
teriam de agir com suas próprias mãos. Assim, ela planejou embriagar seu
pai naquela noite e manter intercurso sexual com ele. O plano funcionou
e Ló estava tão bêbado que não percebeu quando ela veio nem quando saiu
de sua cama. Na noite seguinte a irmã mais nova fez a mesma coisa, com
os mesmos resultados. Ambas engravidaram de um relacionamento incestuoso
com o próprio pai e eu fico imaginando quanto tempo levou para Ló
descobrir todos os detalhes de como aquilo tinha acontecido!
Esse incidente me faz lembrar uma passagem das Escrituras que diz:
"Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna." [Gálatas 6:7-8].
Ló amou o mundo e deu corda para seus desejos
carnais. Ele claramente colheu os frutos das "sementes" que plantou em
suas filhas. Ambas tiveram meninos. A mais velha chamou seu filho de
Moabe e a mais nova chamou seu bebê de Ben-Amí. Mais tarde, esses dois
meninos cresceram e tomaram mulheres gentias como esposas, e assim deram
origem aos povos moabita e amonita — ambos amargos inimigos de Israel
em toda sua história!
(Antes que nos esqueçamos de Abrão neste mesmo
departamento, vamos lembrar que ele tentou "ajudar Deus" a prover o
filho que foi prometido e tomou Hagar, a serva egípcia, como sua mulher.
Ela deu à luz Ismael — o pai dos povos árabes, e eles também têm sido
um espinho na carne de Israel até o dia de hoje.)
O que podemos então concluir a respeito desse homem,
Ló? É remotamente concebível que devamos esperar encontrar esse sujeito
pecaminoso e mundano no reino eterno de Deus? Com base nas evidências
apresentadas no livro de Gênesis, receio que a maioria de nós tenha
sérias dúvidas! Mas, louvado seja o Senhor, a salvação não depende das
opiniões dos homens e o apóstolo Pedro dissipa todas as dúvidas quando
diz:
"E condenou à destruição as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente; e livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis (porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo sobre as suas obras injustas)." [2 Pedro 2:6-8; ênfase adicionada].
Ló não podia acusar ninguém, somente a si mesmo, e
seus próprios pecados o torturaram a cada dia enquanto ele viveu entre
aquele povo vil e ímpio de Sodoma. Mas ele também será um dia julgado
pelo Senhor Jesus Cristo — juntamente com todos os indivíduos eleitos do
Antigo Testamento — e receber uma repreensão por ter sido um servo
inútil parece que será uma possibilidade muito distinta para ele.
Entretanto, devemos meditar naquilo que a inspirada Palavra de Deus diz
por meio do apóstolo Pedro — Ló era inegavelmente um filho eleito da graça de Deus e seus pecados não comprometeram de modo algum sua salvação.
Destarte, para aqueles de vocês que estão convencidos que alguém pode
perder a salvação, o que mais poderia Ló ter feito para perdê-la??!!
Fonte: Espada do Espírito
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