O perigo da Pregação Superficial
John MacArthur
John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.
Estou comprometido com a pregação expositiva. Tenho a convicção inabalável de que a proclamação da Palavra de Deus sempre deve ser o âmago e o foco do ministério da igreja (2 Timóteo 4.2). E a pregação bíblica correta deve ser sistemática, expositiva, teológica e teocêntrica.
Esse tipo de pregação está em falta nestes dias. Há abundância de
comunicadores talentosos no movimento evangélico moderno, porém os
sermões de hoje tendem a ser curtos, superficiais e tópicos. Fortalecem o
ego das pessoas e centralizam-se em assuntos completamente insípidos
como relacionamentos, vida de sucesso, problemas emocionais e outros
temas práticos, mas seculares.
Assim como os púlpitos de materiais leves e transparentes dos quais as
mensagens são apresentadas, esse tipo de pregação não tem peso nem
consistência; é barata e sintética, deixando pouco mais do que uma
impressão efêmera na mente dos ouvintes.
Há algum tempo realizei um seminário sobre pregação em nossa igreja. Ao
preparar-me para as palestras, peguei um caderno de anotações, uma
caneta e comecei a listar os efeitos negativos desse tipo superficial de
pregação, tão predominante no evangelicalismo moderno.
Inicialmente, pensei que seria capaz de identificar pelo menos dez
efeitos negativos, mas, no final, eu havia alistado sessenta e uma
conseqüências devastadoras! Apresento aqui as mais importantes como um
aviso contra a pregação superficial — tanto para os pastores, nos
púlpitos, quanto para seus ouvintes, nos bancos das igrejas.
USURPA A AUTORIDADE DE DEUS
Quem possui o direito de falar à igreja? O pregador ou Deus? Sempre que
a Palavra de Deus é substituída por qualquer outra coisa, a autoridade
dEle é usurpada. Que atitude arrogante! Na verdade, substituir a Palavra
de Deus pela sabedoria do homem é uma atitude insolente. DESAFIA O
SENHORIO DE CRISTO
Quem é o cabeça da igreja? Cristo é realmente a autoridade dominante no
ensino da igreja? Se isso é verdade, por que há tantas igrejas nas
quais a Palavra dEle não está sendo proclamada com fidelidade?
Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos programas e métodos
que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de opinião
pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios
pragmáticos. Os especialistas em crescimento de igreja têm lutado para
assumir o controle das atividades da igreja, tomando-o de seu verdadeiro
Cabeça, o Senhor Jesus Cristo.
Quando Jesus Cristo é exaltado no meio de seu povo, seu poder é
manifestado na igreja. Quando a igreja é controlada por comprometedores
cuja única ambição é conformar-se à cultura, o evangelho é minimizado, o
verdadeiro poder é perdido, uma energia artificial precisa ser
fabricada, e a superficialidade toma o lugar da verdade.
OBSTRUI A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Ele usa a Palavra de Deus para realizar a sua obra. Ele a usa como
instrumento de regeneração (1 Pe 1.23; Tg 1.18) e de santificação (Jo
17.17). Na verdade, a Palavra de Deus é a única ferramenta que o
Espírito Santo usa (Ef 6.17). Então, quando os pregadores negligenciam a
Palavra de Deus, debilitam a obra do Espírito Santo, produzindo
conversões superficiais e crentes aleijados em sua vida espiritual — e,
talvez, completamente falsos.
Conseqüentemente, o púlpito perde o seu poder. “A palavra de Deus é
viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”
(Hb 4.12). Qualquer outra coisa é impotente, oferecendo apenas uma
ilusão de poder. A habilidade do homem em seduzir as pessoas não deve
impressionar-nos mais do que a capacidade da Bíblia em transformar
vidas.
DEMONSTRA FALTA DE SUBMISSÃO
Nas abordagens modernas de “ministério”, a Palavra de Deus é
deliberadamente subestimada; o opróbrio de Cristo (Hb 11.26), repudiado
com sagacidade; a ofensa do evangelho, removida com cuidado; e a
“adoração”, moldada com o propósito de se ajustar às preferências dos
incrédulos. Isto não é nada mais do que uma recusa em se submeter ao
mandamento bíblico para a igreja. A insolência dos pastores que seguem
um caminho como esse é assustadora para mim.
SEPARA O PREGADOR DA GRAÇA DE SANTIFICAÇÃO
O maior benefício pessoal que recebo da pregação é a obra que o
Espírito de Deus realiza em minha própria alma, quando estudo e me
preparo para duas mensagens expositivas a cada Dia do Senhor. Semana
após semana, o dever da exposição cuidadosa mantém o próprio coração
focalizado e fixo nas Escrituras; e a Palavra de Deus me alimenta,
enquanto me preparo para alimentar o rebanho.
Deste modo, eu mesmo sou abençoado e fortalecido espiritualmente por
meio deste empreendimento. Ainda que não houvesse qualquer outra razão,
eu jamais abandonaria a pregação bíblica. O inimigo de nossa alma
persegue os pregadores, e a graça santificadora da Palavra de Deus é
essencial à nossa proteção.
OBSCURECE A TRANSCENDÊNCIA DE NOSSA MENSAGEM
Conseqüentemente, a pregação superficial enfraquece tanto a adoração
congregacional como a adoração pessoal. O que hoje é recebido como
pregação, em algumas igrejas, é tão superficial quanto as mensagens que
os pregadores de gerações anteriores ministravam em cinco minutos às
crianças. Isto não é exagero. Esse tipo de abordagem torna impossível a
verdadeira adoração, porque a adoração é uma experiência transcendente
que deveria nos elevar acima do que é mundano e simplista.
A verdadeira adoração é uma resposta do coração à verdade de Deus (Jo
4.23). O nosso povo não pode ter pensamentos sublimes a respeito de
Deus, se não os fazemos mergulhar nas profundezas da auto-revelação de
Deus. Mas a pregação de hoje não é profunda nem transcendente. Não se
aprofunda nem se eleva às alturas. Almeja apenas entreter.
IMPEDE O PREGADOR DE DESENVOLVER A MENTE DE CRISTO
Os pastores devem viver em submissão a Cristo. Muitos pregadores
modernos se mostram de tal modo determinados a compreender a cultura,
que desenvolvem a mente da cultura, e não a mente de Cristo. Começam a
pensar como o mundo, e não como o Salvador.
Sinceramente, as nuanças da cultura mundana são irrelevantes para mim.
Quero conhecer a mente de Cristo e usá-la para influenciar a cultura,
não importando qual seja a cultura em que ministro. Se tenho de subir ao
púlpito e ser representante de Jesus Cristo, quero conhecer o que Ele
pensa — e declarar isso ao seu povo.
DEPRECIA A PRIORIDADE DO ESTUDO BÍBLICO PESSOAL
O estudo bíblico pessoal é importante? Claro que sim! Mas, que exemplo o
pregador oferece quando negligencia a Bíblia em sua própria pregação?
Por que estudariam a Bíblia, se o próprio pregador não a estuda com
seriedade, ao preparar seus sermões?
Alguns dos gurus do ministério “Sensível aos Interessados” nos
aconselham a retirar do sermão todas as referências explícitas à Bíblia.
Eles dizem: “Nunca peça à sua congregação que abra a Bíblia em uma
passagem específica, porque esse tipo de coisa deixa os interessados
desconfortáveis”.
Algumas igrejas “sensíveis aos interessados” desencorajam veementemente
seus membros a trazerem Bíblias à igreja, com receio de que a visão de
tantas Bíblias intimide os interessados. Como se fosse perigoso dar ao
povo a impressão de que a Bíblia é importante!
SILENCIA A VOZ DE DEUS
Jeremias 8.9 diz: “Os sábios serão envergonhados, aterrorizados e
presos; eis que rejeitaram a palavra do SENHOR; que sabedoria é essa que
eles têm?”
Quando eu falo, quero ser o mensageiro de Deus. Não estou interessado
em interpretar o que algum psicólogo, ou guru de negócios, ou professor
universitário tem a dizer sobre qualquer assunto. O meu povo não precisa
de minha opinião; precisa ouvir o que Deus tem a dizer. Se pregarmos
como a Escritura nos ordena, não será difícil saber de quem é a mensagem
que vem do púlpito.
PRODUZ INDIFERENÇA EM RELAÇÃO À GLÓRIA DE DEUS
A pregação “sensível aos interessados” nutre pessoas centralizadas em
seu próprio bem-estar. Quando você diz às pessoas que o principal
ministério da igreja é consertar para elas o que estiver errado nesta
vida — suprir suas necessidades e ajudá-las a enfrentar seus
desapontamentos neste mundo — a mensagem que você está enviando é que os
problemas desta vida são mais importantes do que a glória de Deus e a
majestade de Cristo. Novamente, isto corrompe a verdadeira adoração.
ROUBA ÀS PESSOAS A SUA ÚNICA FONTE DE AJUDA VERDADEIRA
As pessoas que vivem sob um ministério de pregação superficial tornam-
se dependentes da habilidade e criatividade do orador. Assim, elas se
tornam espiritualmente inativas e vão à igreja apenas para serem
entretidas. Não têm interesse pessoal na Bíblia, porque os sermões que
ouvem não emergem das Escrituras. São impressionadas pela criatividade
do pregador e manipuladas pela música; e isso se torna toda a sua
perspectiva de espiritualidade.
ENGANA AS PESSOAS QUANTO AO QUE ELAS REALMENTE PRECISAM
Em Jeremias 8.11, Deus condena os profetas que tratavam de modo
superficial as feridas do povo. Este versículo se aplica poderosamente
aos pregadores artificiais que ocupam muitos púlpitos evangélicos
proeminentes, em nossos dias. Tais pregadores omitem as verdades mais
severas sobre o pecado e o julgamento. Abrandam as partes ofensivas da
mensagem de Cristo.
Enganam as pessoas sobre aquilo que elas realmente precisam,
prometendo- lhes “satisfação” e bem-estar terreno, quando o que
necessitam é de arrependimento, fé e uma visão exaltada de Cristo, bem
como de um verdadeiro entendimento do esplendor da santidade de Deus.
Portanto, os pastores têm de pregar a Palavra, embora fazê-lo esteja
fora de moda em nossos dias (2 Tm 4.2). Essa é a única maneira pela qual
o ministério deles pode dar frutos. Além do mais, a pregação da Palavra
assegura que os pastores serão frutíferos no ministério, porque a
Palavra de Deus jamais volta vazia para Ele; ela sempre faz aquilo que
Lhe apraz e prospera naquilo para o que foi designada (Is 55.11).
Fonte: http://www.pregacaoexpositiva.com.br
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