Texto Básico:2Rs 6:1-7
“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há
em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a
homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2Tm 2:1,2).
1. Introdução
Nos dias de Elias, a apostasia e
a vergonhosa idolatria haviam se alastrado entre o povo de Deus, impulsionadas
pelos devaneios de Acabe e Jezabel. O povo de Israel havia trocado a glória de
seu Deus pela fútil veneração ao falso deus Baal, considerado pelos desviados e
apóstatas como o “senhor da chuva e das tempestades”. Mas, o assombroso
confronto no Monte Carmelo entre Elias e os falsos profetas de Baal e Aserá bem
como os fenomenais prodígios de Eliseu começaram a reverter a triste situação.
Aqueles que antes se escondiam pelo temor de Jezabel passaram a manifestar
publicamente a sua fé. O despertamente foi tamanho que, por toda parte,
surgiram “escolas teológicas” formando novos mensageiros de Jeová. Haviam
grupos de estudantes em Ramá, Gibeá, Gilgal e Jericó (2Rs 2:3,5,7,15; 4:1,38;
9:1,2). Por diversas vezes, em algumas passagens nos livros dos Reis, vemos
aparecer a expressão “filhos dos profetas”, mas pelo contexto destas
passagens percebe-se que tem a mesma significação que “escola de profetas”.
Ressalta-se que as “escolas de profetas” não tinham como propósito
ensinar a profetizar, isso é uma atribuição divina; era um testemunho vivo de
que o povo de Deus, em um passado distante do Antigo Testamento, preocupava-se
em passar às gerações mais novas sua experiência cultural e espiritual.
Neste subsidio à lição 12, quero
esclarecer um pouco mais dessas “escolas”, seu cotidiano, seus objetivos e sua
relevância.
2. A
instituição das “escolas de profetas”. Nem todos os profetas do passado
tiveram uma formação teológica convencional. Amós, por exemplo, saiu
diretamente do agreste judaico para as ruas de Samaria (capital de Israel –
Reino do Norte), proclamando sua mensagem profética da única maneira que sabia:
“cantando”. Miquéias, à semelhança de Amós, era homem do campo, e provinha de
família humilde, mas ergueu a voz para denunciar os pecados de Jerusalém e os
esquemas de corrupção no palácio, no poder judiciário e nos corredores do
Templo. A maioria dos profetas, no entanto, até mesmo aqueles que nos são
desconhecidos, receberam uma formação teológica mais “especializada”. Por serem
uma escola - tipo um seminário -, entende-se que possuía uma certa estrutura
física e uma organização mínima para funcionamento a contento, e estavam sob
uma liderança que oferecia a devida orientação adequada. No texto de 2Reis 6:1,
verificamos que Eliseu era o líder maior dos discípulos dos profetas, e era com
ele que buscavam instrução. À época do profeta Samuel essas escolas já
existiam; tudo indica que ele tenha sido o primeiro a tomar a iniciativa de
organizar esse tipo de “ensino teológico” (cf 1Sm 10:5,10; 19:23). Geralmente
os estudantes moravam juntos em uma casa ou em pequenas comunidades, onde o
ensino era ministrado (2Rs 6:1,2). Alguns “seminaristas” eram casados e
mantinham seus próprios lares (2Rs 4:1).
3.
Objetivos das “escolas de profetas”: treinamento e encorajamento.
-
Com relação ao treinamento, além da
teoria, a execução de determinadas tarefas, sob permissão do instrutor, eram
permitidas, como se observa no ocorrido de 2Reis 2:15-17: “Vendo-o, pois, os
filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de
Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro e se prostraram diante
dele em terra. E disseram-lhe: Eis que, com teus servos, há cinqüenta homens
valentes; ora, deixa-os ir para buscar teu senhor; pode ser que o elevasse o
Espírito do Senhor e o lançasse em algum dos montes ou em algum dos vales.
Porém ele disse: Não os envieis. Mas eles apertaram com ele, até se enfastiar;
e disse-lhes: Enviai. E enviaram cinqüenta homens, que o buscaram três dias,
porém não o acharam”. Esse processo interativo entre o líder e o liderado,
entre o educador e o educando, é vital para produção do conhecimento. Em outras
situações observamos que os filhos de profetas, quando já treinados, podiam
agir por conta própria em determinadas situações (1Rs 20:35).
-
Com relação ao encorajamento, os
alunos eram encorajados a buscarem uma melhor compreensão da Palavra de Deus.
Não há objetivo maior para um educador do que encorajar o educando a buscar a
excelência no ensino.
4.
Currículo das “escolas de profetas”. A formação acadêmica dos
“discípulos de profetas” consistia no estudo das Escrituras (os livros
históricos e os poéticos) e das leis mosaicas. Havia espaço ainda para a
instrução na música sacra e na poesia (1Sm 10:5). O “professor”, um profeta
mais experiente, transmitia o ensino com seu exemplo de vida e seu trabalho, e
eram eles mesmos que consagravam os novos obreiros à missão de reconduzir o
rebanho desgarrado de Israel ao aprisco do Senhor, o pastor de nossa alma (Sl 23).
5.
Aprendendo na provação. A vida diária nas escolas de profetas não era nada
cômoda. Os estudos eram exaustivos, as acomodações eram precárias (2Rs 6:1), a
falta de recursos era uma constante (2Rs 4:1), o trabalho era árduo e, se não
bastasse isso tudo, a comida era escassa, geralmente produzida por eles mesmos,
em hortas comunitárias. As coisas ficaram ainda piores quando Deus enviou uma
estiagem que durou sete anos (cf. 2Rs 8:1). Se a nação toda padeceu, quanto
mais aqueles que deixaram tudo pelo ministério!
Foi exatamente nesse contexto de
crise que Eliseu, o “homem de Deus”, chegou no seminário de Gilgal para uma
“série de conferências”. A receptividade foi calorosa, mas a despensa estava
vazia. Eliseu enviou um dos alunos ao campo para colher frutos e raízes
comestíveis, a fim de preparar um sopão para todos. Mas algo saiu errado: um
dos ingredientes estragou a sopa, tornando-a amarga e venenosa. A “colocíntida”
(2Rs 4:39), uma espécie de pepino selvagem, em pequenas quantidades era usada
para fins medicinais, mas em grande quantidade tornava-se tóxica e extremamente
amarga.
Uma das coisas admiráveis neste
texto é que, embora o gosto estivesse horrível, todos comeram sem reclamar. O
único comentário que surgiu foi quando atinaram para o perigo de conter algo
venenoso. Essa é uma boa lição de educação, respeito e ética. Interessante
também é notar que Deus permitiu tal acontecimento para mostrar o Seu cuidado
aos que a Ele se consagram. Deus usa o homem, e o homem usa o que tem à mão.
Eliseu usou farinha, e esse ingrediente anulou o veneno. O milagre aconteceu,
não por causa da farinha, mas pela fé de Eliseu. Ele poderia ter usado cevada,
hortelã, pão ou qualquer outro ingrediente, e o resultado seria o mesmo.
Aprendemos com esses seminaristas
que: Deus cuida de Seus servos, geralmente usando o que eles têm à mão aliado à
quantidade de sua fé. A viúva do profeta (2Rs 4:1-7) colocou perante Deus, o
pouquinho que tinha, e no que é que deu? Da mesma forma, se usarmos aquilo que
temos, ainda que seja pouco, e usarmos com fé, grandes coisas Deus fará por
nós.
6.
Ensinando através do exemplo. Eliseu
demonstrou o poder de Deus com milagres realizados, mas também ensinou pelo seu
próprio exemplo. Citamos dois exemplos:
-
Primeiro exemplo: Certa feita, um homem da cidade vizinha
(Baal-Salisa) veio à “casa de profetas” trazer uma oferta em mantimentos para o
sustento de Eliseu, conforme prescrevia a Lei de Moisés (Nm 18:13; Lv 23:10; Dt
18:4). A oferta era generosa para um só homem “professor”, mas
insuficientemente para cem alunos (2Rs 4:43). Era um direito de Eliseu reter a
oferta só para si, pois “digno é trabalhador do seu salário” (Lc 10:7),
contudo, preferiu repartir aquela bênção com os demais colegas de ministério, e
Deus abençoou a sua decisão: “todos comeram e ainda sobrou” (2Rs 4:43).
Eliseu demonstrou a principal virtude de um homem de Deus: amor ao próximo.
Este exemplo que Eliseu manifestou certamente foi um grande ensino para aqueles
discípulos. Ele demonstrou o seguinte modo de viver: o que é meu também é teu.
Aquele que reparte de bom grado as suas dádivas sempre as terá em abundância –
“Daí, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,
generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos
medirão também “ ( Lc 6:38).
- Segundo
exemplo: Geazi era seu aluno, e convivia com o profeta, vendo
milagres. Não é exagero dizer que Eliseu aprendeu muitas coisas com o convívio
que teve com Elias, e Geazi também observou os atos de Eliseu. Mas aqui cabe
uma observação: Ao passo que Eliseu aprendeu coisas com Elias e teve um
ministério frutífero, Geazi optou pelo caminho oposto. Na ocasião em que esteve
com o capitão siro Naamã, Geazi demonstrou que não estava apto para o
ministério profético pois foi seduzido pelos presentes que Naamã, já curado,
ofereceu a Eliseu. Nessa ocasião, vendo Geazi que Eliseu rejeitou os presentes
de Naamã, cobiçou-os e foi atrás do siro, contando-lhe uma história piedosa:
“E foi
Geazi em alcance de Naamã; e Naamã, vendo que corria atrás dele, saltou do
carro a encontrá-lo e disse-lhe: Vai tudo bem? E ele disse: Tudo vai bem; meu
senhor me mandou dizer: Eis que agora mesmo vieram a mim dois jovens dos filhos
dos profetas da montanha de Efraim; dá-lhes, pois, um talento de prata e duas
mudas de vestes. E disse Naamã: Sê servido tomar dois talentos. E instou com
ele e amarrou dois talentos de prata em dois sacos, com duas mudas de vestes; e
pô-las sobre dois dos seus moços, os quais os levaram diante dele. E, chegando
ele à altura, tomou-os das suas mãos e os depositou na casa; e despediu aqueles
homens, e foram-se” (2Rs 5:21-24).
Mas, Deus
julgou severamente o cobiçoso e materialista Geazi:
“Então,
ele entrou e pôs-se diante de seu senhor. E disse-lhe Eliseu: De onde vens,
Geazi? E disse: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte. Porém ele lhe
disse: Porventura, não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou de
sobre o seu carro, a encontrar-te? Era isso ocasião para tomares prata e para
tomares vestes, e olivais, e vinhas, e ovelhas, e bois, e servos, e servas?
Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua semente para sempre. Então,
saiu de diante dele leproso, branco
como a neve” (2Rs 5:25-27).
Porque
Deus julgou Geazi de forma tão severa? Primeiro, porque ele foi um
homem cobiçoso. Segundo, porque ficou indignado de ver Naamã ser curado e não
pagar nada pela cura que recebeu. Terceiro, porque mentiu para obter os
presentes que Naamã daria a Eliseu. Quarto, não podemos usar os dons que Deus
nos concede para lucrar de forma pessoal.
Que essas observações nos sirvam
de exemplo, para que não sejamos julgados por Deus por conta de tais
manifestações de infidelidade.
CONCLUSÃO
As Escolas de profetas na época
de Elias e de Eliseu eram dedicadas ao ensino formal da Palavra de Deus e ao
comportamento ético do futuro profeta. A preocupação com o aspecto espiritual
do povo de Israel era sua principal bandeira esses líderes. Esses futuros
profetas seriam mais tarde líderes que teriam de confrontar as falsas teologias
e a idolatria que os maus reis obrigavam o povo a aceitar. Assim como era
importante o estudo da Palavra de Deus naquela época, também o é atualmente.
Infelizmente, os tempos mudaram e os seminários teológicos se “conformaram com
o mundo” – procuram parecenças com as faculdades seculares e, por isso, buscam
reconhecimento do MEC -, mas o prejuízo tem sido enorme, pois a teologia liberal tem predominado sobremaneira na maioria dos seminários
com prejuízos incalculáveis à ortodoxia das Escrituras Sagradas.
Em qualquer época, sejam tempos
de fartura ou tempos de escassez, de paz ou de guerra, de bonança ou de
tempestade, a Igreja tem a responsabilidade de salvaguardar a verdadeira e
original doutrina bíblica que se acha nas Escrituras Sagradas, e transmiti-las
aos fiéis - “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo
Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis,
que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2Tm 2:1,2).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof.
EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo
Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Revista Ensinador Cristão – nº 53 – CPAD.
A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck.
Comentário Bíblico Beacon, v.2 – CPAD.
Porção Dobrada – Pr. José Gonçalves – CPAD.
Comentário do Novo Testamento –
Aplicação Pessoal.
Elias e Eliseu (homens de ação) – Editora cristã Evangélica.