Uma voz não familiar subitamente quebrou o silêncio em meu carro: “Pegue a saída à direita daqui a 150 metros, depois vire à esquerda”. Por um momento meu coração disparou. Não, eu não estava escutando a voz de Deus; era a primeira vez que eu ouvia um comando vindo do meu GPS novinho em folha. Recuperando a compostura, eu respeitosamente obedeci à diretiva clara e cheguei exatamente onde precisava chegar. Que instrumento fantástico para aqueles dentre nós que são “direcionalmente prejudicados” [ou seja, não têm certeza sobre a direção a seguir].
Uma das questões que nos deixam mais perplexos em missões é a que se refere ao chamado de Deus. Talvez você tenha ouvido missionários compartilhando que foram chamados para um determinado povo ou país. Será que eles possuem algum tipo de GPS celestial? Será que é realmente possível receber uma diretiva tão clara de Deus? Afinal, não é verdade que todos os cristãos são chamados para serem missionários? Muitas pessoas têm ponderado sobre essas questões ao longo dos anos. A boa notícia é que Deus proporciona respostas para os que são “direcionalmente prejudicados”.
O chamado de Deus deve ser entendido primeiramente em seu sentido mais amplo. Por exemplo, ele chama todos os cristãos para serem separados para Deus (Rm 1.7), pacificadores (1Co 7.15), e santos (1Pe 1.15). Além disso, espera-se que todos os seguidores de Cristo sejam sal e luz (Mt 5.13-14; Fp 2.15), testemunhas (At 1.8), e embaixadores de Cristo (2Co 5.20). Não há a menor dúvida de que Deus deseja que todos os crentes se unam para alcançar esse mundo perdido com o Evangelho. Mas, será que todos os cristãos deveriam se tornar missionários e imediatamente começar a fazer as malas? Não necessariamente.
Há fortes evidências de que Deus apresenta um chamado missionário para alguns indivíduos. Atos 13.1-4 revela um momento definitivo na vida de Barnabé e de Paulo, quando o Espírito Santo direcionou a igreja de Antioquia a separá-los “para a obra a que
os tenho chamado” (v.2). Qual era o chamado deles e a obra que deveriam fazer? Atos 9.15-16 nos diz que o apóstolo Paulo foi previamente designado como um “vaso escolhido” que levaria o Evangelho aos gentios, a reis, e aos filhos de Israel. Ele passou o restante de sua vida proclamando esse Evangelho onde Cristo não era conhecido (Rm 15.20). Parece claro e simples, certo? Não exatamente.
Peça a qualquer missionário para compartilhar sobre o chamado de Deus na vida dele e você descobrirá que cada história é única. O chamado de Deus pode vir em uma grande diversidade de maneiras. Ele pode se tornar claro através da oração e da leitura da Palavra. Pode se desenvolver por meio de uma conscientização cada vez maior sobre uma necessidade específica de ministério. Ou pode vir através de palavras e do encorajamento de um amigo ou de um pastor. Independentemente de como Deus chama você, quando Ele chama, você não pode se livrar do chamado. Como escreveu M. David Sills, um elemento crítico no chamado de Deus é “um desejo ardente indescritível que motiva uma pessoa além de todo o entendimento”.[1]
Talvez você já tenha sentido Deus chamando você para ser
missionário, mas o próximo passo parece ser meio obscuro. Será que você
deveria servir ao Senhor em Moçambique ou em Mumbai? No estado do Paraná
ou na ilha de Santa Catarina?
Talvez você já tenha sentido Deus chamando você para ser missionário,
mas o próximo passo parece ser meio obscuro. Será que você deveria
servir ao Senhor em Moçambique ou em Mumbai? No estado do Paraná ou na
ilha de Santa Catarina? Embora Deus certamente possa dar direções de
formas dramaticamente claras, Ele geralmente caminha com você por meio
de um processo que se desenrola um passo de cada vez. Não obstante, Sua
mão é claramente evidente. Oswald Chambers escreveu:A percepção do chamado de Deus pode vir como em um súbito estampido de trovão ou por meio de um amanhecer gradativo; mas, seja qual for a maneira, o chamado vem com a marca subjacente do sobrenatural, quase misteriosa”.[2]Como você começa a viver seu chamado? Como missionário experiente, Paulo fez três declarações fantásticas em Romanos 1.14-16. Essas afirmações formam um excelente ponto de partida para qualquer pessoa que for chamada para ser missionária.
Perspectiva
Quando Paulo afirmou “Sou devedor”, no versículo 14, ele queria dizer que sabia quem era e de onde tinha vindo. Aquele que fora perseguidor e “o maior dos pecadores” nunca se esqueceu do que Deus fez em sua vida. A graça e a misericórdia eram tão reais e poderosas que transformaram a vida de Paulo para sempre. Como resultado, ele se via como um mordomo do Evangelho (1Co 9.16-17).Vamos colocar as coisas da seguinte maneira: Imagine que você trabalha em um laboratório médico e um dia descobre a cura para o câncer. Querendo ou não, daquele momento em diante você é um mordomo; e você tem a obrigação de compartilhar aquela boa notícia com o mundo todo. Da mesma forma, todos os cristãos chamados para serem missionários devem desempenhar sua obrigação. Deus fez tanto por eles e lhes confiou a notícia mais importante de todas as épocas. Conseqüentemente, eles têm uma obrigação perante toda a humanidade.
Postura
Paulo não tinha apenas a perspectiva adequada, mas também demonstrava ter a postura correta. Em Romanos 1.15 ele declarou: “Estou pronto”. Paulo vivia em um estado perene de prontidão e se posicionava diariamente para agarrar todas as oportunidades de ministério.Você alguma vez já refletiu sobre o peso das palavras de Paulo? Ele estava pronto para fazer exatamente o quê? Ele estava determinado a chegar a Roma, uma cidade mergulhada no paganismo e na idolatria. Imagine a preocupação dos amigos de Paulo.
Em 1856, John Paton estava fazendo os preparativos finais para servir como missionário em uma ilha do Pacífico Sul. Um senhor mais velho protestou: “Os canibais! Você será comido pelos canibais!”
John Paton respondeu: “Sr. Dickson, o senhor já está avançado em anos, e sua própria perspectiva é: logo serei colocado em uma sepultura para ser comido por vermes; e eu confesso ao senhor que, se eu puder viver e morrer servindo e honrando o Senhor Jesus, não fará para mim a menor diferença se vou ser comido por canibais ou por vermes; e no Grande Dia, meu corpo ressurreto se levantará tão sadio quanto o seu, à semelhança do nosso Redentor que ressuscitou”.[3] John Paton estava pronto.
Você foi chamado para ser um missionário? Então, começando hoje, esteja preparado para se levantar imediatamente e pronto para abraçar as portas abertas e as oportunidades.
Paixão
Paulo também demonstrou a verdadeira paixão: “Pois não me envergonho do evangelho de Cristo” (v. 16). Se havia um lugar no qual Paulo pudesse ficar intimidado quanto à pregação Evangelho, esse lugar certamente era Roma. Entretanto, embora o romano típico considerasse o Evangelho uma tolice, Paulo sabia que o Evangelho era o poder de Deus. Sua paixão decidida era proclamar as Boas-Novas sobre Jesus Cristo onde quer que fosse, a qualquer custo.Se Deus está chamando você para o serviço missionário, vá em frente. Ocupe-se com aquilo que Deus puser em sua frente hoje. Explore maneiras de se envolver com aquilo que você crê que Deus o está chamando para fazer no futuro. Embora as especificidades possam parecer um tanto confusas agora, comece pedindo a Deus para ajudá-lo a desenvolver a perspectiva, a postura e a paixão corretas. Como disse John Paton: “Nada esclarece mais a visão nem dá tanto sentido à vida quanto a decisão de ir adiante naquilo que você sabe ser inteiramente da vontade do Senhor”.[4] (Don Lough Jr. - Israel My Glory - http://www.chamada.com.br)
Don Lough Jr. é diretor da Missão Palavra da Vida. Ele serviu e dirigiu a Divisão de Ministérios Internacionais da Palavra da Vida durante 15 anos e já ministrou em mais de 40 países.
Notas:
- M. David Sills, The Missionary Call (Chicago, IL: Moody Publishers, 2008), p. 29.
- Oswald Chambers, So Send I You: Workmen of God (Grand Rapids, MI: Discovery House, 1993), p. 17.
- Florence Huntington Jensen, Joh G. Paton, Worldwide Missions, www.wholesomewords.org/missions/biopaton6.html.
- James Paton, The Story of John G. Patton Told for Young Folks (New York, NY: A. C. Armstrong and Son, 1893), p. 59.