14 de jun. de 2011

PRAGMATISMO RELIGIOSO



Pragmatismo Religioso

por

Michael Horton

Sabe, porém isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia, não irão avante: porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles (II Tim. 3:1-9).

A Inglaterra, que uma vez já foi conhecida pela sua vitalidade espiritual, agora está mergulhada numa letargia espiritual e a visão missionária dos Estados Unidos está substituindo aquilo que a Inglaterra deixou de lado. Além disso, muita coisa do que Deus está fazendo hoje está acontecendo fora desses dois países. Eu espero que a Igreja no Brasil esteja em constante oração para que, a partir do Brasil, uma outra reforma e um grande despertamento venha e tome conta do mundo.

Não sabemos o que Deus vai fazer no mundo, mas seria muito emocionante se pudéssemos fazer parte daquilo que Ele deseja fazer no Brasil. É maravilhoso ser um cristão e saber que Deus tem todas as coisas debaixo do Seu controle. Todos nós sabemos da necessidade de um grande avivamento, mas ao mesmo tempo existe uma grande polêmica nesses dias sobre a questão. Sem sombra de dúvidas, se convidássemos as pessoas para uma reunião de avivamento, muitas delas viriam com conceitos diferentes do que é avivamento. Assim sendo, faz-se necessário ter uma definição clara em nossa mente do significado desse termo. Qual a diferença entre avivamento e avivalismo, se assim podemos chamar?

Avivalismo e Pragmatismo - Avivalismo, especialmente na tradição deixada por Charles Finney, é, na realidade, um fenômeno americano e queremos tratar de parte desse fenômeno. Não somente porque é um produto feito na América, mas porque muitos dos movimentos que estão vindo dos Estados Unidos para outras partes do mundo têm essa visão característica de entender avivamento segundo o modelo de Charles Finney.

Esse modelo tem como base o que nós chamamos de pragmatismo. Se você for abrir um negócio você tem que ser pragmático e se você vai criar uma família, existe uma série de considerações práticas que você precisa sempre ter em mente; e, certamente, o mesmo se aplica quando nós estamos fundando uma Igreja e queremos desenvolvê-la.

Todos sabemos que há preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”

Quais os perigos do pragmatismo? Voltando para o texto de II Tim. 3: 1-9, consideraremos primeiramente os aspectos relativos à nossa chamada para o ministério. Vejamos, então, o contexto do nosso ministério. Paulo se refere a esse contexto como sendo o dos “últimos dias”. Sabemos que os “últimos dias” começaram com o tempo dos apóstolos, e terminarão com a segunda vinda do nosso Senhor. Portanto, estamos vivendo nos “últimos dias”, como, também, Timóteo estava vivendo nos “últimos dias”. Qual é o contexto, então, do ministério nesse período entre as duas vindas de Cristo? Paulo diz, em primeiro lugar, que nos últimos dias os homens serão amantes de si mesmos.

Narcisimo e Auto-Estima - Christen Lash, um sociólogo americano bastante conhecido, escreveu um livro sobre a cultura americana cujo título é: “O culto do Narcisismo”. Essa é uma acusação difícil de se fazer, porque o que ela implica é que a cultura americana é uma cultura onde as pessoas se endeusam. E como vocês se lembram “Narciso” é o nome daquele jovem da lenda grega que costumava admirar o seu próprio reflexo no espelho das águas. Mas isso não somente é parte da nossa cultura, como também se tornou parte das nossas igrejas. Muitos dos movimentos que se entitulam “avivados”, em nossos dias, simplesmente estão reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do “eu”. Isso pode ser visto na declaração de um desses pastores que afirmou: “A Reforma errou porque foi centralizada em Deus e não no homem, como devia ser”. Esse pastor escreveu um livro cujo título é: “Crendo no Deus Que Crê em Você”. Uma certa ocasião, trouxemos esse cidadão para falar no nosso programa de rádio. Então eu li essa passagem, onde Paulo diz que as pessoas serão amantes de si mesmas, e perguntei-lhe: “Como você pode dizer às pessoas que a salvação começa com o amor próprio, quando Paulo diz que nos últimos dias as pessoas serão amantes de si mesmas? Não estaria ele dizendo que isso é uma coisa errada, e que nós não devíamos ser amantes de nós mesmos? E como Deus vai nos fazer felizes com esse falso evangelho narcisista?”

O que está acontecendo é que a piedade e a santidade deixaram de ser os referenciais pelos quais julgamos se um movimento é ou não é do Espírito. Assim, o critério que tem sido adotado é: “Funciona? Vai me fazer feliz? Vai me ajudar a criar minha família? Vai consertar o meu casamento?”. Todas essas questões são importantes, à luz das Escrituras, mas não são as mais importantes.

Em segundo lugar, Paulo diz que eles serão amantes do dinheiro. Porque as pessoas amam excessivamente a si mesmas, elas criam o evangelho da auto-estima; e porque as pessoas amam excessivamente o dinheiro, elas criam o evangelho da prosperidade.

Rebeldia, desprezo pelo passado e busca do prazer - Paulo diz ainda que haverá muito orgulho e revolta contra as autoridades. Haverá pessoas desobedientes aos pais. Uma geração não se preocupará com a geração anterior. O cantor Bob Marley escreveu uma música sobre a cultura americana dizendo: “Povo do futuro, onde está o teu passado? Povo do futuro, quanto tempo vocês vão durar?” O povo que não tem passado também não tem futuro. Não sei se Bob Marley era crente, mas com certeza esses versos refletem um ponto de vista bíblico ao tentar se segurar naquilo que pede o seu passado.

Eu quero lhes garantir que se levarem a doutrina bíblica a sério, muitos irmãos e irmãs vão lhes dizer que vocês não estão andando nos passos do Espírito; vão lhes dizer que o Espírito Santo hoje quer fazer uma coisa inteiramente nova, tal como nunca fez no passado. E o que vocês vão falar? Vão falar sobre os grandes avivamentos do passado, sobre a Reforma? Qual o valor disso para os amantes de si mesmos e materialistas? Eles responderão que Deus está fazendo algo completamente diferente nos dias de hoje. Mais uma vez eu quero lembrar que isso faz parte do narcisismo que diz o seguinte: - “eu é que sou importante e aqueles da minha geração é que são importantes e não os que vieram antes de nós”.

E ele diz também que as pessoas serão hedonistas, amantes do prazer, nos últimos dias; como ele diz no verso 4, serão mais “amigos dos prazeres que amigos de Deus”. Mais uma vez queremos enfatizar: Se você perguntar em uma Igreja: “Vocês concordam com o hedonismo?” Creio que ninguém vai responder sim a essa pergunta. Mas se você entrar numa livraria evangélica, se ouvir uma emissora de rádio evangélica, se prestar atenção a muitos sermões evangélicos, você ouvirá mensagens afirmando que o Cristianismo é a melhor maneira para você se auto-realizar. Quantos testemunhos temos visto que funcionam como comerciais de televisão? Nos Estados Unidos, temos aquelas propagandas de dieta que mostram uma pessoa antes e depois da dieta. Muitas vezes, os testemunhos dos crentes são assim: “Antes eu era triste, agora sou feliz; antes eu era deprimido, mas agora eu estou extremamente motivado para viver”. Esses são benefícios maravilhosos, mas, por vezes, a verdade é que nós, como cristãos, nos tornamos tristes. Algumas vezes, o caminho da cruz é o caminho do sofrimento, e nem sempre estamos tão entusiasmados a respeito disso. Apesar de tudo isso, a perspectiva que predomina nos nossos dias é que temos que viver para satisfazer a nós mesmos.

Moralidade sem piedade - No verso 5 do texto destacado, Paulo diz: “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Veja bem! O que Paulo está dizendo é que pode haver uma moralidade sem Deus. Existem pagãos que tem uma vida moral excelente, e há ímpios que acreditam ser errado você trair sua esposa. Há pessoas não cristãs que têm famílias muito boas. Mas será que este é o propósito do cristianismo? Consertar tudo aquilo que está moralmente errado no mundo, ou será que o foco está em Deus, nos Seus mandamentos justos, e no Evangelho pelo qual nós devemos viver?

É esse o contexto do nosso ministério. Então respondamos à pergunta: Qual o nosso chamado para o ministério? O exemplo de Paulo é alguma coisa que temos de imitar nesse sentido. Mas agora perguntamos: Como, historicamente, essa filosofia do pragmatismo dominou o pensamento moderno? A figura mais destacada no cenário evangélico, neste sentido, é a de Carlos Finney. Quantos de vocês já ouviram falar de Charles Finney? Quase todo mundo. Isso é significante porque Finney é uma pessoa muito importante para aqueles que são proponentes do movimento de crescimento da Igreja e do movimento de sinais e prodígios.

Evangelho ou Pragmatismo? - Charles Finney era presbiteriano, mas atacou a Confissão de Fé de Westminster que ele próprio subscrevera. Ele a chamou de: “um papa de papel”. Ele dizia, no século XIX em que viveu: “Nós já somos pessoas muito ilustradas e racionais para acreditar em todas essas coisas aí que a Confissão de Fé está dizendo”. Vejam algumas das coisas que Charles Finney escreveu:

Quando o homem se torna religioso - disse Finney - ele não recebe um poder que não tinha antes, ele simplesmente muda a sua vontade, e resolve seguir, agora, numa direção moral. Religião é obra do homem, não é um milagre e nem depende de um milagre em qualquer sentido; é simplesmente um resultado filosófico do uso correto de técnicas. O homem já possui, por natureza, toda a habilidade necessária para prestar perfeita obediência a Deus, portanto o objetivo do ministro é emocionar as pessoas até que se disponham a tomar essas decisões.

Foi dessa filosofia que nasceu o que ficou chamado naquela época de “novas medidas introduzidas por Finney”. Por exemplo: O sistema de apelo para que as pessoas se manifestem fisicamente e caminhem até à frente em resposta à pregação nasceu com Charles Finney, nesse período. Em sua Teologia Sistemática, Finney nega explicitamente a doutrina do pecado original. Ele diz ainda que a doutrina da substituição vicária de Cristo é uma ficção, e que a justificação pela graça, por meio da fé somente, é “outro evangelho”. Com certeza, é um evangelho diferente daquele que Finney estava pregando.

É isso que Paulo diz a Timóteo, quando fala de pessoas que têm forma de piedade mas negam, entretanto, o seu poder. Afinal de contas, onde reside o poder da piedade? É o poder de Deus para a salvação! E que poder é esse? É o evangelho de YESHUA! Somente o Evangelho pode nos capacitar a viver a vida cristã. Portanto, é possível ter moralidade sem piedade; e esse é o resultado do pragmatismo.

Mais tarde, tornou-se conhecida a idéia de D.L. Moody. Ele disse no século XIX que não faz nenhuma diferença como você leva alguém a Deus; se você conseguir fazer isso, não importa o meio. O importante é levar, de qualquer maneira, a Deus.

Uma vez perguntaram a Moody: Qual é a sua teologia? Ele disse: “Minha teologia? nem sei se eu tenho uma!”. Vejam bem! Moody era um vendedor de sapatos, e um dia ele disse que ao se tornar evangelista não mudou de profissão, o que ele havia feito era trocado de produto.

Como abordamos o pragmatismo corporativo da nossa cultura? Alguns dizem que a contribuição distinta da América para a história da filosofia foi a criação do pragmatismo. Um dos grandes pais do pragmatismo e quem o transferiu da esfera religiosa para a esfera secular foi William James. Ele era filho de pastor; pastor, ele próprio, e também professor da Universidade de Harward. Ele disse: “Faça a seguinte pergunta: Como é que você define que determinada verdade é o que você deve crer?” E acrescentou: “A resposta é que você tem que determinar o seu valor em termos de experiência e resultado”. Então, com princípios pragmáticos, analisou a doutrina de Deus dizendo o seguinte: “Se a doutrina de Deus funciona, então é verdade. O pragmatismo tem que adiar questões dogmáticas porque no começo nós não sabemos qual reivindicação doutrinária vai produzir resultado”.

Acredito que quase ninguém iria marcar essas coisas num exame tipo teste dizendo que acredita nelas, mas, na prática, o que acontece é que esse é o credo do evangelicalismo mundial hoje. Um evangelista americano famoso disse: “Não tente entender, simplesmente comece a desfrutar, porque funciona; eu já tentei”. Ele estava falando a respeito da meditação transcendental da Nova Era. Na década de 50 do nosso século, esse pragmatismo se desenvolveu em termos de pensamento positivo. Foi então publicado um livro chamado “A Mágica do Crer”. Esse livro propõe que há uma certa qualidade mágica no simples ato de crer. Porém, a verdade é outra. No cristianismo, o que salva não é o ato da fé, mas sim o objeto da fé. Nós não somos salvos pela fé, não somos justificados pela fé; nós somos justificados pela justiça de Cristo que nos é imputada. Mas hoje em dia, desenvolveram essa equação de que fé é igual a pensamento positivo. Na realidade, essa última frase que mencionei foi uma citação de Peter Wagner.

Deus como objeto de consumo - Muito bem! Esses conceitos funcionam numa sociedade materialista, que está satisfeita e centralizada no ego; pode funcionar muito bem na América do final do século XX, pode ser até que funcione em São Paulo também, e pode funcionar em Londres. Mas imagine o seguinte quadro: Você vai a um cristão do século I e diz a ele que a razão principal pela qual ele está indo para a boca dos leões é porque o Cristianismo funcionou melhor do que as outras religiões!

Os testemunhos que temos no Novo Testamento são muito diferentes dos testemunhos que nós vemos hoje em dia. No Novo Testamento temos a palavra de testemunhas oculares, que é muito mais importante que o nosso próprio testemunho. O que é que Paulo disse em I Cor. 15? Ele disse: “E, se YESHUA não ressuscitou, é vã a nossa pregação e é vã a vossa fé... Se a nossa esperança em YESHUA se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. Ele não diz “pelo menos vocês têm uma vida feliz e saudável!”. E ele também não está dizendo “Bem! o que é que você pode perder?” Por que Paulo não fez isso? porque ele não era um pragmático. Paulo fundamentava todas as reivindicações da fé cristã no Evangelho verdadeiro.

Temos que nos perguntar: “Será que não estamos usando a Deus? Será que, finalmente, não embarcamos nesse consumismo da nossa sociedade? Será que não estamos tratando a Deus como tratamos um produto?” São perguntas muito importantes que devem ser feitas a nós mesmos. “Será que Deus está nos usando ou nós estamos usando a Deus?”

Reavivamento e Reforma não virão à Igreja até que a mentalidade dos crentes seja desviada desse egoísmo humano, da centralização no homem que Paulo descreve, para o verdadeiro Evangelho e para Deus.

Nos Estados Unidos, temos um adesivo que diz: “YESHUA é a resposta”. Os incrédulos fizeram um outro adesivo para retrucar a esse: “Qual é a pergunta?” Considere, agora, o que diz o pragmatismo: “Eu não sei qual é o seu problema, mas qualquer que seja, Deus pode resolver. O seu carro está enguiçado? A sua vida familiar não está progredindo como devia? Deus pode consertar em um piscar de olhos!”. Assim, passamos a consumir a Deus. Nós usamos a Deus, ao invés de amá-Lo, servi-Lo e honrá-Lo.

Muito bem! Então qual é o propósito do nosso ministério? Vejamos o que diz Paulo:

Tu, porém, tens seguido de perto o meu ensino, procedimento, propósito, fé longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, - que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora todos quantos querem viver piedosamente em YESHUA serão perseguidos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em YESHUA. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção para a educação na justiça. a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Conjuro-te, perante Deus e YESHUA que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, que não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério (II Tim. 3:10-4:5)

O modelo apostólico - Em primeiro lugar, o propósito do nosso ministério é seguir o modelo apostólico. Paulo menciona aqui o seu ensino, a sua maneira de viver, o seu propósito, a sua fé, a sua paciência, o seu amor, e a sua perseverança diante das tribulações. Perseguições? Sim! É o que ele diz no verso 12. Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Será que é isso o que estamos ouvindo hoje? Ou será que estamos ouvindo outra mensagem? Algumas vezes você vai pensar que não está dando certo, que as coisas não estão funcionando como deveriam, como lemos em Romanos, capítulo 7. Nós sofreremos como cristãos, e ainda vamos sofrer com os nossos pecados.

A proclamação da Lei e do Evangelho - Além de seguir o seu exemplo, Paulo quer que Timóteo também se firme naquelas verdades que aprendeu quando era jovem. Veja que Paulo, ao invés de nos levar à questão do pragmatismo: “Será que funciona?”, ele nos conduz para as Escrituras. Ele diz: “prega a Palavra”, com muita paciência instruindo as pessoas. Porque haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina. Ao contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como quem sente coceira nos ouvidos (4:3).

Vejam! sempre temos coceira nos ouvidos. Pragmatismo não é uma coisa nova. Na realidade já foi praticado desde o jardim do Éden. Quando Eva viu que a árvore era agradável para se ver, para descobrir o conhecimento e desejável para trazer entendimento; então ela tomou do fruto e comeu. O que significa para nós “pregar a Palavra”? O que Paulo quer dizer no verso 5 “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista”?. O que ele quer dizer com isso, “pregar a Palavra”? Vez após vez, Paulo e os demais escritores bíblicos nos dizem que isso é a proclamação da lei. Na verdade, é pela proclamação da lei santa de Deus que nós somos tocados e feridos. A lei de Deus vem até nós e ela não vem dizendo assim: “Eu vou transformar a tua vida numa vida feliz!”, ela não vem dizendo: “Vou te dar prosperidade!”. Na realidade, a lei vem para nos dizer exatamente aquilo que Deus tem dito que requer de nós. A lei nos confronta com a glória de Deus e a nossa pecaminosidade torna isso aterrorizante!

Finalmente, o Evangelho vem e causa também impressão em nós. Há uma Igreja no Estado do Arizona, cujo pastor, numa entrevista que foi publicada na revista Newsweek, disse: “As pessoas hoje em dia não estão preocupadas com doutrinas como justificação, salvação ou expiação. Nos dias de hoje, ninguém entende esses termos. O que nós precisamos fazer é atender as necessidades das pessoas!”

Imaginem um professor! Vocês não acham que seria muito estranho se o professor chegasse dizendo assim: “Não posso ensinar o alfabeto para esta criança porque ela ainda não sabe português”. Esse é o tipo de argumento que esse pastor estava apresentando. Tanto que o que hoje se passa com o nome de pregação, na realidade, não é pregação da Palavra. Porque não apresenta nem a Lei nem o Evangelho. Esses pastores começam decidindo o que é que as pessoas de sua igreja desejam ouvir. Quais são os pontos que estão em moda hoje? Quais são as necessidades das pessoas dos dias de hoje? E aí, então, eles vão às Escrituras e procuram e acham passagens que podem ser usadas para apoiar essa necessidade, ao invés de, indo ao texto, perguntarem primeiro como a santidade de Deus nos convence do nosso pecado e como o Evangelho de YESHUA pode ser tão claro que até pecadores como nós podem se arrepender e crer.

Mas vocês, irmãos e irmãs, ouçam o que Paulo diz, sejam sóbrios em todas essas coisas, preguem a palavra, suportem as aflições, façam o trabalho de evangelista, e cumpram cabalmente o ministério.

* Palestra apresentada no V Simpósio “Os Puritanos”, realizado em Águas de Lindóia, SP, de 10 a 14 de junho de 1996. O autor é professor no Seminário Reformado em Orlando, Flórida (USA), fundador e presidente do movimento “Cristãos Unidos pela Reforma”, na Califórnia, e autor de diversos livros.

(Publicado em O Presbiteriano Conservador na edição de Maio/Junho de 1997)

Fonte: Monergismo

1 de jun. de 2011

AMAI VOSSOS INIMIGOS



Escrito por Marcelo M. Guimarães


Amai aos vossos inimigos...

“Eu, porém, vos digo: amai aos vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus; pois Ele faz nascer o seu sol sobre os maus e bons, e faz chover aos justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam que recompensa tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os gentios também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.” (Mateus 5:44-48)

Muitas vezes nós pensamos que nosso maior inimigo é aquela pessoa iníqua, que vive no caminho perverso e sei lei, que não teme a D´us e tão pouco ao próximo. O homem mau que rouba, mata, assalta, seqüestra, estupra, mente, induz seu semelhante ao mal, escravizando, maltratando, batendo e arruinando vidas. Este na verdade não tem seguidores. A maioria desses que tais coisas praticam acaba atrás das grades.

Outros acham que o grande inimigo é aquele que traiu nossa confiança, não nos honrou e foi ingrato por tudo o que fizemos por ele. Talvez para muitos o inimigo seja aquele que nos caluniou, tentou destruir nossa vida com mentiras e difamações, motivado pela inveja e pelo ódio cego de se opor, de se rebelar contra nós.

Eu penso que quando Yeshua disse: “amai aos vossos inimigos”, com certeza Ele falava a respeito de qualquer tipo de inimigo. Mas eu creio que o verdadeiro inimigo não é necessariamente aquele que se levanta contra nós, contra nossa vida, contra nossa família e contra o nosso trabalho. O verdadeiro inimigo é aquele com quem tivemos um relacionamento de amor no passado. A grande verdade é que o ódio é proporcional ao amor que dispensamos ao que se torna agora nosso opositor. É algo diabólico, pois a quem mais amamos no passado tornam-se imbuídos de ódio para nos ferir e se levantar contra nós. Por isso, o ódio e o amor estão muito próximos. O grande e temível inimigo para mim é aquele que se levanta contra o chamado que D´us nos deu e, não necessariamente, contra a nossa pessoa. É o que a Bíblia chama de inimigo espiritual. Este é o maior inimigo que podemos ter, pois a Palavra nos induz e nos mostra contra quem devemos realmente lutar. Paulo afirma “nossa luta não é contra sangue e carne, mas sim contra os principados, contras as potestades, contra os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes...” (Ef.6:12).

Em outras palavras, o diabo sabe bem a quem amamos e a quem queremos bem. Por isso, o grande e temível inimigo às vezes levanta-se dentro de nossa própria casa, de nossa própria família, de nossa própria igreja. A própria boca de Pedro que num certo momento respondeu movido pelo Espírito Santo que Yeshua era o Filho do D´us altíssimo foi a mesma boca usada por Satanás tempos depois, quando Yeshua lhe disse: “arreda-te de mim, Satanás.” Ou seja, um homem que amava Yeshua, andava com Ele pronunciou frases que o próprio Yeshua identificou como sendo do próprio Satanás que tentava impedir o cumprimento do propósito de D´us. Como isto é possível? Sim, é possível, pois enquanto o homem tiver este corpo corruptível, ele está susceptível a pecar e pior do que isto, ser instrumento de Satanás, se ele der lugar à sua carne. “Andai pelo Espírito e não haveis de cumprir a cobiça da carne” (Gl 5:16). Em outras palavras, se deixamos o Espírito e optamos pelo desejo da carne iremos produzir as obras da carne. Este que age na carne, realmente é um instrumento do inimigo de nossas almas.

Se as obras da carne são manifestas na prostituição, na impureza, na inimizade, nas contendas, nos ciúmes, nas iras, nas facções, nas divisões, etc., a contra partida está no fruto do Espírito de D´us que é “o amor, a alegria, a paz, a longaminidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio, contra essas coisas não há lei” (Gl 5:22-23). Ou seja, se realmente pudéssemos viver integralmente no Espírito de D´us, tendo os Seus atributos como sendo os nossos atributos na sua totalidade, não precisaríamos da Torá, da Palavra instrutiva de D´us. Eu creio que quando nascemos de novo, passamos a produzir o fruto do Espírito de D´us, pois na carne e vivendo na natureza pecaminosa, nunca a nossa bondade, alegria, amor, a paz seriam genuínos. Ou seja, após o novo nascimento em Cristo já podemos experimentar o sabor do fruto do Espírito de D´us, mas a grande verdade é que nosso amor, nossa alegria, nossa paz, nossa bondade e demais frutos são meros lampejos comparados com o amor divino, incomensurável e infinito de D´us. Na verdade, eu acredito que teremos em nós o verdadeiro fruto na mesma intensidade de D´us quando tivermos nosso corpo glorificado e transformado num piscar de olhos, como dito por Paulo. A grande realidade é o versículo seguinte de Gálatas (versos 24 e 25) que diz que os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências. Podemos ter este verso como o resultado desejado, ou seja, crucificamos nossa natureza pecaminosa e o velho homem que morreu (Rm 6:6). Nisto eu creio, mas também creio que mesmo assim aparece em nossa vida obras acidentais da nossa carne, isto é, embora não vivamos mais na prática do pecado, acabamos pecando na carne, tendo invejas, ciúmes, causando divisões nas igrejas, contendas, mentiras, calúnias, maledicências e outras obras da carne. Mas, à medida que vamos crucificando essas obras, vamos nos apropriando da santificação e da justificação pp. dito, quando vivemos e andamos no Espírito de D´us (verso 25).

Nosso grande desafio é: - “Andai pelo Espírito e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sóis guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5:16-17).
Podemos imaginar, então, que na vida vindoura que viveremos presencialmente com Yeshua, teremos 100% a mesma natureza Dele, pois no Reino celestial, nós teremos nossos corpos glorificados (os que foram arrebatados ou que ressuscitaram) e não precisaremos das leis da Torá, pois todas elas já estarão escritas em nossos corações (Rm 2:15).

A obediência a Torá é para os crentes, aqueles que querem fazer a vontade de D´us, cumprindo todos os seus mandamentos, não se desviando nem para a esquerda e nem para direita, mas permanecendo justo (reto) aos olhos do Senhor. Portanto, andar no Espírito de D´us, dando fruto desse Espírito que agora habita em nós é um dos primeiros “dever de casa”. Neste contexto de amor Yeshua recomendou: - “Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44).

Portanto, clamemos ao Eterno para que todos aqueles que nos difamam, nos odeiam, lançando palavras de maldição contra nossas vidas e contra nosso chamado divino sejam iluminados pelo Espírito Santo de D´us para arrependimento, alcançando as ricas bênçãos do Todo Poderoso.

Na fé Dele, por Ele e com Ele, chegaremos lá!


Marcelo M. Guimarães

Marcelo Miranda Guimarães é rabino messiânico ordenado pelo Netivyah de Jerusalém-Israel e pela UMJC. Fundador do Ministério Ensinando de Sião e da Congregação Har Tzion de Belo Horizonte. Fale conosco: siao@ensinandodesiao.org.br ou pelo site: http://www.ensinandodesiao.org.br/ . Acompanhe nossos serviços ao vivo: todos os sábados, às 10 horas, pela TV Siao: www.tvsiao.com

ENXERTADOS NA OLIVEIRA




Entendendo o enxerto da igreja gentílica na “oliveira” que é Israel (Romanos 11)

Há crentes que ainda tem uma grande dificuldade de entender o significado profético de Romanos capítulo 11, escrito por Paulo. Alguns pontos deveriam ser aqui ressaltados:

Primeiro, D´us não rejeitou o povo hebreu e a nação de Israel (Rm 11:1-2);

Segundo, existiu, existe e existirá um remanescente segundo a eleição da graça, ou seja, aqueles judeus que creram em Yeshua (Jesus), como os apóstolos no primeiro século, aqueles judeus que se converteram ao longo da história até os dias de hoje e, aqueles que, ainda reconhecerão o Messias Yeshua como o Messias de Israel;

Terceiro, precisamos entender que, excetuando estes judeus messiânicos que hoje estão na graça, o próprio D´us deu aos judeus um espírito de entorpecimento, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem (o Messias), até o dia de hoje (Rm 11:5). Em seguida, Paulo pergunta: “...Por ventura tropeçaram para que caíssem ? de maneira nenhuma, antes, pelo tropeço veio a salvação dos gentios, para os incitar à emulação.” (Rm11:11). Vejam, tudo está no controle e no plano de D´us. Fico imaginando comigo, o que aconteceria se todos os judeus da época de Jesus tivessem o reconhecido como o Messias de Israel? Imaginem se eles guardassem este segredo na arca a sete chaves e não repassassem para as nações a bênção da salvação e da vida eterna?Afinal, ter nossos pecados perdoados pela graça, pela misericórdia e pela obra da cruz seria algo demasiadamente grande e inacreditável para aquela época em que os mesmos esperavam um Messias que reinassem em glória sobre todas as nações. Mas, D´us conhecia seus corações. E, Paulo, no versículo seguinte nos dá uma tremenda revelação: “Se o tropeço deles (não reconhecer Jesus, como o Messias) foi riqueza para o mundo, e a sua diminuição a riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude?” (Rm11:12). Ou seja, se eles errando foram bênçãos para o mundo, imaginem se eles tivessem reconhecido o Messias? No verso 15, o pensamento de Paulo torna-se mais claro: “ Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual seria a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?”

Ou seja, a humanidade estava no paganismo, na idolatria, separada do D´us de Israel, e agora, eles (gentios) poderiam receber o Messias Yeshua e tornarem-se participantes da família de D´us. Mas, Paulo nos dá aqui uma tremenda revelação: Se os judeus admitirem que Jesus seja realmente o Messias, então, haverá a vida entre os mortos, ou seja, a ressurreição dos mortos. Pela Palavra sabemos que a ressurreição dos mortos acontecerá quando Jesus retornar (ITe 4:16). Eu não creio que este versículo se refere ao novo nascimento daquela pessoa que aceita Jesus como seu Salvador, como interpretam alguns teólogos. Para mim, o contexto é muito claro que quando os judeus aceitam Jesus como o Messias esperado, o final dos tempos está próximo e a redenção universal se aproxima e se consolida nesta terra.

A humanidade, como já dito, estava sem esperança, separada da casa de Israel (Ef.2: 12). Mas, Yeshua veio para o seu povo e parte dele não o reconheceu como o Messias (Jo 1:12). Que fêz D´us, então?

Fez com que aqueles galhos (judeus que não reconhecerão Jesus como o Messias) cedessem lugar aos crentes gentílicos de qualquer outra nação. Assim, a oliveira, o Israel salvo de D´us, é uma “árvore” que só têm crentes, tanto judeus como gentios.

A raiz da “oliveira” está constituída pelos nossos pais da fé, Abraão, Isaac e Jacó, de quem descendem as doze tribos, os reis de Israel, os profetas e, finalmente, Yeshua, o Messias. Quando este morreu na cruz, ressuscitou, desceu ao Sheol (lugar dos mortos), trouxe consigo todos aqueles que Nele creram e foram salvos. Por isso, eu disse, que nesta “oliveira” agora há muitos ramos que são crentes, tantos gentios como judeus. No lugar dos galhos quebrados foi enxertado o povo gentio que Paulo o chama de zambujeiro, ou seja, mato, árvore sem qualidade de fruto. Pois, somente na pessoa do Messias se produz frutos (do Espírito) claro! (Gálatas 5:22).

Assim, juntos com os judeus crentes, os zambujeiros (gentios), agora enxertados na oliveira, começam a participar da mesma seiva (nutrientes, bênçãos, promessas), formando assim, o Israel de D´us, segundo os profetas do Antigo Testamento, segundo os apóstolos e segundo a pedra Angular que é o próprio Messias Yeshua (Efésios 2:20).

É tremendamente profundo entender o significado desta oliveira, não é mesmo? Agora, você crente entende que mesmo não sendo judeu, ramo natural da oliveira, pode ser beneficiado através de muitas leis dadas por D´us aos filhos de Israel, como as inúmeras bênçãos da Torá, dentre elas as leis morais, éticas, de saúde e de qualidade de vida em geral. O dízimo é um estatuto judaico dado para o povo de Israel. Não encontramos este estatuto no Novo Testamento ordenado à Igreja gentílica. Mas, pode ou não pode a igreja se beneficiar da bênção do dízimo? A resposta é:- sim, pode. A igreja não judaica (gentílica) só pode se beneficiar dos dízimos em suas igrejas porque ela em Cristo Jesus foi enxertada na oliveira que é o Israel de D´us. Então, ela tem direito de participar da mesma seiva que vem da mesma raiz. Imagine agora quantas bênçãos a Igreja poderia tomar posse seguindo esse princípio? Por que a Igreja se concentrou tanto na bênção do dízimo e prosperidade (ambas encontradas somente no AT) ignorando centenas de outras bênçãos dadas ao povo judeu? Em Gálatas 3:29 que diz:...” E. se sois de Cristo, então sois da descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” Hermeneuticamente, aqui está referindo a promessa da fé de Abraão, que por meio de Cristo os gentios se tornam também herdeiros. Mas, será que aqui só recebemos a fé como herança ou temos direito pelo enxerto as todas as promessas desde Abraão? Lembremo-nos que Abraão antecedeu a Lei de Moisés. Segundo minha opinião, um gentio crente em Cristo, enxertado nesta oliveira maravilhosa, tem acesso às promessas, ou seja, as bênçãos ou heranças constantes no Antigo Testamento, como por exemplo, a bênção da prosperidade, das festas bíblicas, das leis alimentares aplicadas à saúde, do descanso (o shabat) e muitas outras. Elas são bênçãos e foram dadas sob a forma de mandamentos, estatutos ou ordenanças para os judeus, mas se um gentio crente que se encontra enxertado na oliveira, ele está livre para receber todas estas bênçãos da Casa de Israel. Excetuando as leis específicas para os judeus, como a circuncisão, por exemplo, o gentio está livre para obedecer as leis da Torá e receber delas as devidas bênçãos. Grande parte dessas leis está relacionada com a qualidade de vida e não, necessariamente, com a salvação em Yeshua. Oro ao Senhor neste momento para que os olhos e os ouvidos dos meus irmãos em Yeshua se apropriem destas grandes bênçãos e revelações advindas pelo simples fato de estarem enxertados na “Oliveira” que é Israel.

Os teólogos afirmam haver mais de 5.000 bênçãos só no Antigo Testamento. E se este número for verdadeiro, posso afirmar a você que qualquer crente, judeu ou não, que está enxertado através de Cristo nesta Oliveira, torna-se automaticamente participante da mesma seiva, podendo receber desta toda sorte (sortimento) de bênçãos que o Eterno quer que esteja disponível para todos os salvos. Aliás, até mesmo os não salvos podem se beneficiar se guardarem ou observarem alguma destas leis dadas ao povo judeu. Por exemplo, qualquer pessoa que guardar a lei de honrar pai e mãe, com certeza terá seus dias de vida prolongados. O que muitos cristãos não entendem é que as leis universais estão disponíveis para todos. Elas não têm o propósito de salvar, necessariamente, ou de trazer a eternidade, as quais recebemos só através da graça e da fé em Jesus, mas estas leis nos trazem qualidade de vida, preserva a graça que está em nós, mostrando nossos limites, além de revelar-nos o caráter do D´us Pai e de seu Filho Yeshua.

A pergunta que faço agora é: - Por que não apropriamos de toda sorte de bênçãos que temos direito? Sê tu uma bênção disse o Eterno a Abraão. Será que não é a hora da Igreja SER a seiva e não só TER a seiva (Bênçãos)?

UMA ADVERTÊNCIA DE PAULO AOS CRENTES ENXERTADOS

Paulo exorta aos crentes gentios no versículo 21 dizendo: ...”Não te ensoberbeças, mas teme; porque Deus não poupou os ramos naturais, não te poupará a ti. Considera, pois a bondade e a severidade de Deus; para com os caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se permaneceres nessa bondade; do contrário, também tu serás cortado.”

Em outras palavras, a igreja gentílica de hoje é muito ensoberbecida da graça de D´us. Para ela tudo é graça! Quase tudo pode se fazer em nome da graça; compra tudo em nome da graça; até se contamina também com o mundo em nome da graça, mas se esquece que a graça não é de graça. Há um preço a ser pago. O texto acima diz que D´us é bondoso, mas é também severo e justo. Se você permanecer obediente à Sua Palavra e à Sua lei (muitos acham que pelo fato de terem sido enxertados pela graça, estão totalmente isentos do compromisso com os princípios das leis do Antigo Testamento), então, a bondade Dele se manifestará em nós. Mas, se não permanecer nessa bondade e obediência, Ele será severo e cortará você deste enxerto. Da mesma forma, aquele judeu que crer em Yeshua será enxertado, porque poderoso é D´us para enxertá-lo novamente. O versículo 24, Paulo continua: ...” pois, se tu foste cortado do natural zambujeiro, e contra a natureza enxertado em oliveira legítima, quanto mais não serão enxertados na própria oliveira os ramos naturais! Por que não quero que ignoreis este mistério...que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios... e assim todo o Israel será salvo, como está escrito..” Pelo menos, temos que considerar aqui três pontos importantes: O gentio pode ser cortado da oliveira, da família de D´us, não participando mais da seiva de bênçãos da oliveira; segundo, D´us não esconde uma predileção (não no sentido de acepção, mas no sentido de alegria, prazer pelo povo escolhido) por seus ramos naturais; terceiro, trata-se de um mistério, que vamos entender só mais tarde, pois quando houver entrado a plenitude dos gentios Israel será salvo (Rm 11:26) O que é plenitude, o sentido aqui é de algo completo, um número, uma quantidade? Creio que não só quantidade, pois plenitude fala de algo que é completo, pleno, então, fala também de qualidade. A palavra no grego é “Plerosai” (pleroma) significa aquilo que está equilibrado, balanceado, completo, pleno, satisfeito. Lembremo-nos que nossa fé e maturidade serão alcançadas por meio da nossa semelhança com Yeshua, nosso noivo. Lembremo-nos também que o maior propósito de D´us é ter filhos semelhantes a Jesus, o Messias (Rm 8:29). Eu , pessoalmente, creio que temos que considerar os dois aspectos. Tanto o quantitativo, pregando este evangelho da salvação a toda a criatura até aos confins da terra, como também o aspecto qualitativo, ou seja, alcançar a qualidade da fé, a maturidade espiritual, a semelhança com o varão perfeito, produzindo frutos, pois do contrário poderemos ser cortados desta Oliveira. Neste propósito de Romanos 11 a Igreja deve estar conectada ao Israel de D´us, não só com os judeus messiânicos, mas também com o Israel físico, natural, intercedendo por ele, amando-o e profetizando sobre ele. Mas, como poderá Israel ser salvo? Aqui temos duas importantes interpretações. Alguns rabinos messiânicos e teólogos acham que este tempo chegará sozinho e será algo mais ou menos simultâneo, a igreja gentílica alcança a plenitude e Israel é salvo. Outros pensam que a Igreja deve “comprar” esta briga no campo espiritual e interceder por Israel sem cessar, reconectar-se a ele, estar com ele como nosso irmão mais velho que ainda não foi salvo, que está nas promessas, mas precisa ser ainda alcançado e salvo. Eu, pessoalmente, creio que se a igreja de Jesus deixar suas atitudes de soberba e até mesmo anti-semitas, em alguns casos, e começar a restaurar suas raízes, aproximando de Israel pelo testemunho verdadeiramente fundamentado na pessoa do Messias, levando a sério sua missão em unidade, vivendo em amor longe de divisões e contendas denominacionais, então, o mundo e Israel saberão que somos um só Corpo e ele, Israel, motivado pelos sinais sobrenaturais de D´us será conduzido a ser um com a Igreja, conforme diz Efésios cap. 2, uma só família de D´us, judeus e gentios na pessoa de Yeshua Há Mashiach.

Assim, podemos concluir que há uma promessa de salvação para todo o Israel de Deus. Não há uma promessa de salvação para o Brasil, Estados unidos, nem mesmo para algum país da Europa. Mas, há uma promessa para Israel e para o povo judeu. Por isso, a igreja gentílica de Jesus precisa ajudar Israel e trabalhar arduamente para a salvação dele.

Creio que o movimento de viagens de turismo a Israel tem aumentado nos últimos vinte anos e ainda aumentará ainda mais. Imaginem todos os crentes tendo esta consciência do enxerto, profetizando, orando, gemendo e ajudando Israel a entrar nas “dores de parto”, para dar a luz os filhos de Israel convertidos ao senhorio de Yeshua? Este é o ministério de misericórdia que a Igreja gentílica precisa ter pela terra de Israel e pelo seu povo. Os gentios crentes vieram deles, galhos que foram quebrados para que você gentio na carne fosse enxertado, para que voce judeu fosse re-enxertado, ambos em Cristo, formando uma só família, a família de D´us Pai (Ef2:19) pela qual virá o grande Tikkun Olam, a Redenção Universal. Baruch HaShem!

(*) Marcelo Miranda Guimarães, engenheiro industrial, rabino messiânico ordenado pelo Instituto Netivyah de Jerusalém –Israel e pela UMJC-EUA.Fundador e presidente do Ministério Ensinando de Sião e da Congregação Har Tzion em Belo Horizonte-MG- www.ensinandodesiao.org.br – Visite e acompanhe pela TV SIAO via internet nossas programação. www.tvsiao.com